Defesa marcada: 28 de maio. Isso significa que minha tese tem que estar pronta dia 28. Isso significa que tem que estar tudo pronto pra mandar pra revisão antes do dia 28, mais ou menos (não sei quanto tempo um revisor vai me pedir para ler uma tese de 300 páginas. Aliás, preciso muito de um revisor. Um bom revisor. Não a prima que faz Letras e saca português a vera. Alguém que trabalhe com isso há anos e tenha experiência. Sugestões? carriewhiteaestranha@yahoo.com.br.
28 de maio, quinta feira, nove e meia da manhã. Estão todos convidados. Eu não sei se vou aparecer, mas vocês já estão convidados.
Isso significa que eu tenho menos de 3 meses pra terminar tudo.
Isso significa que eu estou fudida.
Vida monástica, minha cara – disse o orientador. Como se já não quase o fosse...
Agora é matar ou morrer. Retroceder nunca, render-se jamais. E todos os títulos de filmes com o Vandame, o Chuasnéguer e o Estalone juntos.
Ou, como diria um conhecido, pau dentro (no mau sentido, claro).
Isso porque eu tenho ainda um concurso pra fazer, um livro infantil pra escrever pra um concurso...
Olho de tigre.
Pã. Pã pã pã. Pã pã pã. Pã pã pããããã.
* * *
Na madrugada em que minha irmã Violeta, então com 17 anos, encheu a cara de pó e estourou o carro na Rodovia dos Imigrantes, eu estava bêbada, deitada no sofá da casa do Pai, tentando decidir se vomitava ali ou no banheiro. Não me lembro dos argumentos prós e contras, mas sei que o lobby do banheiro perdeu, porque eu e o sofá fomos encontrados, ao amanhecer, cobertos de vômito, mas não de vergonha.
* * *
Eu odeio maconha. O-D-E-I-O. Queria ser legal e dizer que não tenho preconceito, mas a verdade é: tenho preconceito. Acho maconha chato. Tãããão anos 60. Coisa de pseudo-intelectual-artista-baixo-gávea. E eu sempre convivi em meios em que as pessoas fumavam quantidades industriais de maconha. Tenho compaixão com bêbados, com viciados em geral, mas não com maconheiros. Maconheiros não se acham viciados. Maconha tem essa aura de não ser droga, de ser natural, mas eu conto nos dedos de uma só mão os amigos que eu tenho que fumam maconha desde a adolescência e não se tornaram uns estúpidos, idiotas (ok, possivelmente eles seriam idiotas com ou sem a maconha, mas eles se acham modernos e chófens e desafiadores do sistema). Quantos amigos eu “perdi” para maconha – veja bem, nem tõ dizendo de gente que passou por drogas pesadas e morreu. Tô falando de gente que passou a fumar 3 baseados por dia, cuja a vida passou a ser condicionada e pensada em função da maconha. Gente que não faz nada se não tiver um baseado antes ou depois. Gente que parou no tempo. Que burocratizou o consumo da maconha e acha que está sendo muito contestador. Pffff.
A maconha não tem a decadência do álcool. Nada mais cafona e deprê do que um alcoólatra, então pessoas descoladas não se viciam em álcool. Maconha, não. Maconha é legal. Coisa de gente chófem. Coisa de quem não se vendeu ao sistema e guarda ainda algum grau de inconformismo – ainda que você compre sua maconhazinha burocraticamente como quem compra um quilo de alcatra no açougue, enquanto a mulher te espera em casa pra fumar junto com você ou, no máximo, tolerar que você fume no escritório, entre a Encilopédia Barsa (alguém ainda tem Barsa?) e as prestações do novo carro. Não vou nem entrar no fato de que ela financia a violência e essa coisa toda. A maconha não tem a gravidade da cocaína.
Todos maconheiros poderiam ficar pra sempre em Maromba, vendendo aqueles artesanatos horrorosos uns pros outros e ouvindo Raul Seixas que eu não sentiria a menor falta.
E detesto a onda da maconha. Pra mim e pros outros.
Sim, eu sou caretinha e chatinha e velhinha – ou você ainda não pecebeu, amado leitor? Sorry.
Apesar disso tudo, acho que a maconha deveria ser legalizada ontem, assim como todas as drogas. Pelo menos se acabava com a parte da violência.
* * *
A única saída – explico para o meu pastor alemão Simbad – é a rendição.
Ele não entende nada, mas vai buscar a bolinha feliz da vida.
* * *
E por falar em mediocridade, vi “Foi apenas um sonho”, filme de reencontro entre Jack (Leonardo de Caprio) e Rose (Kate Winslet) depois do Titanic. Engraçado como nós estamos pegando a mania de Portugal de botar títulos que contam o final do filme – perdão, Helena, mas não resisti a piada. Por que não manter o título do livro em inglês (que é também do filme): “A estrada revolucionária”? O título em português conta o final.
Mas falo de mediocridade pois é o assunto que o filme aborda, não por causa do filme em si, que é soberbo, fazendo séria concorrência com o Benjamin Botões. O filme é um Beleza Americana (do mesmo diretor, pra quem não notou, o Sam Mendes, marido da Kate Winslet) negro, sombrio e denso. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que o filme é baseado num livro. Achei tããão Sam Mendes! Os bons artistas, eu acho, são os que escrevem/pintam/dirigem as mesmas coisas. São aqueles que descobrem temas que são as grandes questões da sua existência e repetem-nas a exaustão, sob as mais diferentes formas. Woody Allen, Quentin Tarantino, Almodóvar, todos os grandes são assim. O risco que se corre é de pegar uma forma e repeti-la. Como diria Nelson Rodrigues: eu sou a soma das minhas obsessões. Felizes os que acharam suas perguntas.
* * *
Mamãe, férias é ficar assim, amando você o dia todo?
* * *
Enfim, o filme é a temática do tédio dos subúrbios estadunidenses, perfeitos e maravilhosos. O cara se muda pra uma dessas cidadezinhas onde se pega o trem na Grand Central Station (me lembrei das tantas vezes em que fui pra casa da Raquel), tem uma linda esposa, casa maravilhosa, ganha bem num serviço burocrático que nem ele entende ao certo o que é, fode umas secretariazinhas de vez em quando enquanto a mulher, outrora aspirante a atriz, faz pecinhas duvidosas com um grupo de teatro amador da região.
São felizes. Ou acham que são. Porque nada é muito ruim, então não sabem ao certo o que falta. Apior coisa é o tédio. Muito pior que o sofrimento é o tédio. O tédio é invisível, covarde. Ele não faz enfrentamentos. Ele se espreita na calada de uma modorrenta tarde de calor, ou num domingo à noite, depois que musiquinha do Fantástico toca e você percebe que mais um semana começará em breve – e você não se sente necessariamente mal com isso, mas também não se sente bem e pensa como seria ter uma vida completamente diferente. Felizes os que sabem que odeiam e por que.
Eu sei que o tema é complexo. Até que ponto é preciso encarar o fato de que há uma (grande) porção de vazio com a qual todos temos que lidar e até que ponto você pode fazer algo da sua vida de realmente prazeroso e significante para que o vazio torne-se um pouco mais suportável – preenchê-lo é impossível, não se enganem.
A solução que eles encontram me fez pensar na série de ilusões românticas que as pessoas têm a respeito de sair em viagens pelo mundo em busca de si mesmo, ou jogar tudo para o alto. Como se não fosse possível descobrir-se aonde se está e antes que se jogue tudo pro alto. O filme fala também sobre a ilusão que se tem de que se é especial - e passaríamos incólumes diante de toda a mediocridade ao nosso redor.
Por se passar nos anos 50 o filme mostra uma época em que os limites estavam mais evidentes. Hoje em dia, como as coisas são muito mais elásticas, como podemos tudo (principalmente em matéria de comportamentos), romper com tudo também se torna mais difícil. Como romper se você não sabe nem onde as barreiras estão?
O melhor personagem do filme é o filho da Katy Bates (amo, venero o chão que ela pisa), corretora da pequena cidade, que foi internado num hospício porque estava "submetido a muita pressão. PhD em matemática, o cara é internado e leva eletrochoques, como ele mesmo diz, para tentar acabar com os problemas dele, mas na verdade os problemas continuaram e todo o resto foi embora. Ele tem duas aparições do filme, mas sua fala é quase como a de um analista, pontuando o discurso do jovem casal.
Ao final do filme, os senhores na minha frente conversavam entre si: “você vê que ela é que era a desajustada. Ela tinha problemas”.
Quase perguntei se havíamos visto o mesmo filme. Porque pra mim era exatamente o oposto.
* * *
O vento aqui invade cada fresta, cada vão, cada canto. As árvores plantadas por seu Lurdinao, perto do muro, não barram o vento. Só o obrigam a uivar mais, até me alcançar. Quando reclamo, seu Lurdiano ri com a mão na frente da boca. Ele me pergunta que vento é esse que só eu escuto. Não sei o que dizer.
* * *
Fui a certa casa noturna ontem, com certa blogstar. Este lugar é um dos poucos que ainda toca rock no Rio – e, como a própria Roberta diz, em samba não se pega ninguém, em locais onde se toca rock é sempre mais garantido não se sair no zero a zero. Sem contar que as mulheres são mais gente como a gente, então a concorrência é mais justa.
O primeiro cara que chegou em mim era gente boa. Formado em Ciências Sociais e trabalha com logística nas Lojas Americanas. Não faço idéia do que seja isso, ainda que ele tenha me explicado. Ele deu ataques ao saber que eu fazia Doutorado em História – meu sonho, meu sonho! – mas disse que o contra-cheque no final do mês o fazia desistir.
Como diria o personagem do malucão do filme: quase nunca é por dinheiro. Quase sempre é por medo. Mas fica mais fácil dizer que é por dinheiro. As pessoas entendem melhor esse tipo de argumento.
Namorado de Menina Gi botou o singelo apelido de Troll nele. Só pra vocês terem uma idéia.
O segundo veio perguntar meu nome pela segunda vez, tamanha a sobriedade do rapaz. Trabalhava com servidor público em uma Agência do Governo. (Meu Deus, eu estou dentro de um filme do Sam Mendes!). Eu faço o que me mandam. O resto do tempo fico na internet.
Eu também.
O terceiro (foi aqueeeeele que Tereza deu a mão) eu é que cheguei pra conversar e não o contrário. Ele era químico e paulista, há um ano no Rio (uau! Tive vontade de dizer que um próximo namorado não será da área humana nem pelo cacete, mas podia assustar a criança). Meu coração até disparou. Trabalhava com plástico. Prestava assessoria pra grandes empresas. Pela milésima vez, como diria Roberta, a Carvalho, não é essas baixarias de jornalista, não! Químico. Coisa phina. Melhor que isso só se ele fosse físico. Aí nos mudaríamos pra Holanda, andaríamos de bicicleta, compraríamos tulipas para decorar nossa sala, teríamos cachorros e gatos e nenhum filho e daríamos aulas em universidades holandesas.
Mas eu falei alguma cosia idiota sobre como sempre fui péssima em química e erro até tabuada de 10. Dãã. Que óóótima cantada, Carrie! Genial!
Parecia um integrante de banda londrina underground. Tinha os cabelos meio bagunçadinhos, magrinho, de óculos e usava um perfume maravilhoso que eu não sei qual era. Tava olhando a noite toda que eu vi. Disse que tava muito barulho ali, falou alguma coisa sobre a sua (dele) incapacidade de interagir com outros seres humanos (eu também, eu também!) – não sei direito se queria que eu o chamasse pra ir pro bar, mas...que diabos! Eu já fui falar com o cara, tenho que tomar toooodas as atitudes? Aí disse que ia ver se o amigo já tinha pagado e não entendi se era pra eu ficar ali esperando ele ou se estava fugindo de mim. Por via das dúvidas, resolvi dar uma volta, mas depois fiquei por perto. Ele ainda ficou um pouco mais com o amigo – acho que me viu – e foi embora.
Lindo, lindo. Quer dizer, não era nem um pouco lindo. Mas era. Eu poderia facilmente ter me apaixonado se tivesse tido tempo.
Fora isso alguns tipos muito estranhos (no mau sentido) me encaravam de vez em quando, tentando um contato, mas eu fugi.
Ah, tinha uma galera de terno e gravata, fazendo a linha “sou estranho, mas tô na moda”, ignorando um calor carioca de 40 graus. Um deles catou a Roberta pela cintura e quis ir até o chão. No que ela declinou gentilmente, alegando ausência de joelhos para aventura. Culpa do namorado de Menina Gi que ficou dando corda para todos os malucos num raiod e ação de dez metros.
Roberta também catou um seres estranhos lá, mas depois ela conta no blog dela.
E umas três da manhã chega a Alessandra Negrini. Um louro meio estranho (que não era o Otto) no pé dela. Já estávamos eu e Roberta quase tirando na purrinha quem ia chegar nela primeiro, quando ela foi embora. Ahhhh...
Isso porque eu tinha dito que nesse lugar dava mulheres normais e que a concorrência era mais leal, né? Hã-han.
Se ao menos eu tivesse um celular que tira foto podia ter vendido pra Caras ou Quem Acontece a preço milionário e visto a próxima manchete da revista: “descubra o novo affair de Alessandre Negrini”.
Mas nem acho que ela pegou. Ela tava lá, na batalha. No que eu concluí: se até a Alessandra Negrini tá pelejando, que dirá nós, pobres mortais.
Definitivamente não tá mole pra ninguém.
* * *
Um dia eu vou fazer sentido.
* * *
Eu não, Fal. Me conformo com sentidozinhos provisórios, a varejo, e muito de vez em quando.
* * *
Choro porque sou impotente, porque tudo posso. Eu choro quase sempre, quase o tempo todo, porque o humano que há em mim se atira do parapeito e não há volta. Mas eu volto, todas as vezes. Todos os dias.
* * *
Tinha uma menina lá no grupo de Roberta que eu cismei que conhecia de algum lugar. A menina tava ficando com um cara que disse que beijaria todas as partes do corpo dela antes de beijá-la na boca.
Cafoooona!
Fiquei tentando lembrar de onde eu conhecia os dois e depois de muito esforço, já em casa, me dei conta de que eles fizeram faculdade no mesmo lugar que eu - ainda que eles tivessem entrado depois de mim.
Aí lembrei que eu sempre pensei que o cara fosse gay.
Bom, com uma frase dessas "vou beijar cada parte do seu corpo antes de beijar sua boca", das duas uma: ou ele é o Wando ou é gay.
Muita preguiça de homens originais.
* * *
Ana Beatriz parecia uma princesa loura, de olhos castanhos, e, enquanto trabalhava com a pazinha, repetia para Heitor, o jabuti, a mesma explicação recebida do pai dela: que tudo nessa vida tem começo, meio e fim, que as pessoas morriam e iam para o céu quando era hora, mas que elas viveriam para sempre enquanto nos lembrássemos delas. Doze anos depois, Ana Beatriz morreria de overdose no banheiro de uma boate em Belo Horizonte. Após receber o telefonema da polícia, essa foi a imagem que me acompanhou enquanto eu pegava o avião, reconhecia o corpo, providenciava a ida para o funeral em São Paulo e consolando Eliano contado mentiras, dizendo que tudo ia ficar bem: a menininha frágil brincando descalça na areia e falando com um jabuti.
* * *
Adorável Raquel me liga domingo à noite, para prosearmos, para dizer que chegou o livro da Fal. Diz que fica com vergonha de ficar no blog elogiando meus textos, porque pode parecer rasgação de seda, porque eu só falo bem dela, então poderia parecer que ela quer retribuir...
Combinamos que ela terá um nick secreto que só eu e ela saberemos.
Eu falo bem dela não só porque ela foi a pessoa mais importante em NY pra mim. Falo bem dela, porque Raquel não tem defeitos. E olha que eu dormi na casa dela e nem posso dizer que ela trenha chulé ou mau hálito.
O marido de Raquel diz, no seu português quase perfeito, que eu sou "verdadeiramente inteligente". Sou não, Drake, querido. Sou verdadeiramente picareta. Engano até a mim mesma.
(Todos os trechos em negrito: Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite. Fal Azevedo. Editora Rocco, 2008.