quarta-feira, outubro 22, 2008


O pior não é o frio – que, segundo a maioria dos americanos, ainda nem começou; inclusive você vê gente (pouca) de perna de fora ainda, sem nem uma meia fina. Mesmo assim é o maior frio que eu já peguei na minha vida. O frio é tranqüilo, ainda mais se você gosta de frio, como eu. Você bota roupa e tudo bem. O pior é a logística do frio. Você precisa pensar em toda sua roupa antes de sair. E pensar que, assim que entrar nos lugares vai estar quente pra caralho e você vai ter que tirar e, dependendo do lugar, ficar segurando o seu casaco, cachecol e seja lá o que for mais.

E eu preciso encontrar uma logística pra lavagem de roupas. Porque tenho que lavar minhas meias finas no banheiro, porque se colocar na máquina elas vão detonar. Daí preciso ir lavando aos poucos. E botando outras meias por baixo e por cima, de forma que eu não precise lavar as meias finas toda vez que eu usar. Entenderam?

Sem contar o nariz. Meu nariz não parou de escorrer desde que começou a esfriar. Não é que ele esteja entupido (só de manhã), mas ele libera uma secreção constante. Nunca gastei tanto lenço de papel. Tenho uma caixa grande, que fica em casa, e outros tantos de bolso. Como diz o meu Rimão do Meio, cujos problemas de garganta se manifestam qualquer mudança de temperatura, é o homus amigdalóide atacando. No meu caso, é o homus alergenicus.

Se fosse só escorrer só tava bom. O problema é que meu nariz sangra, pois o clima é muito seco pra gente. Então já me acostumei a ver sangue todo dia no meu lenço de papel. Normal.

Por isso eu nunca consigo chegar no horário dos meus compromissos aqui. Eu, pessoa notadamente pontual. Porque eu sempre levo o dobro do tempo pra me aprontar e sempre me perco ao redor de onde eu preciso ir. Sem contar que toda hora acho que perdi meus cartões do metrô, chaves, etc. E preciso tirar sapatos antes de entrar de casa e ao sair de casa...muita logística.

Pra vocês terem uma idéia do meu grau de desorientamento esses dias eu saí de casa de manhã sem escovar os dentes. Tomei banho, tomei café, mas, não sei porque, esqueci de escovar os dentes.

Eca. Será que é a convivência com Zorba? Será que daqui a pouco eu vou estar sem tomar banho? Porque o pior do banho não é o frio. Mas é você ter que tirar toda a roupa e colocar tudo de novo. Se bem que em casa dá pra ficar com pouca roupa por causa de aquecimento. Essa noite eu acordei até suando.

E o aquecedor do meu quarto faz um barulho bizarro. Tudo bem que é pouca coisa o tempo em que ele fica ligado. Acho que as paredes absorvem o calor e daí eles desligam. Mas acho que tá com defeito. Como eu sou um pedreiro pra dormir (dificilmente alguma coisa me incomoda), nem vou me dar ao trabalho de reclamar.


***

Povo andrelandense: nasceu a menininha da Gisele (outra Gisele, não Menina Gi). Chama-se Gabriela. Vou lá visitar. Tava previsto pro dia 31, mas nasceu essa madrugada, as 3:30. Mãe e bebê passam bem.

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Conheci um esloveno – pessoa da Eslovênia. Tava no albergue das meninas, na copa, esperando-as arrumarem as malas pra gente sair pra comer, segunda feira, últimas horas delas em NY, quando chega aquele ser louro-branco e começa a me perguntar sobre barcos para se fazer passeios em NY. Quando perguntei de onde ele era ele disse que eu não ia saber onde é o país dele. Ora, como não! Falar isso pra uma historiadora! É verdade que quando ele disse Eslovênia (primeiro tive que entender o sotaque dele) eu achei que era um dos países da antiga URSS, mas aí ele me explicou que era uma parte da Iugoslávia que tinha virado país depois da guerra de 1992 – assim como a Croácia, a Bósnia, a Macedônia (que não se chama exatamente Macedônia, mas eu esqueci como é). Ah, passei perto! A gente ficou conversando e quando as meninas chegaram, eu chamei-o pra ir comer com a gente.

Ele não queria acreditar que nós, especialmente as meninas, éramos brasileiras. Porque uma delas é filha de japonês. A outra, menina Gi, é mais branca que eu e tem olhos e cabelos claros. Então lá fomos nós, brasileiras falsificadas, filha de japoneses e esloveno para um restaurante tailandês que tocava um tecno ensurdecedor em plena segunda feira gelada.

O moleque era uma figura – ou um cromo, como diria Helena. Super engraçado. Ele é estudante de doutorado em Biologia e estava nos EUA para participar de algumas conferências e depois iria ao Canadá. Mas em NY ele estava só a passeio por 4 dias. Diz ele que estava se sentindo que nem o Borat. Ele se chama Vit e tem 27 anos. Não é feio, não, como diria Formiga Mãe.

Comemos, depois fomos procurar um waffle e depois fui com eles até o albergue, de onde pegaria o metrô pra casa. Aí vai eu, na minha versão estadunidense mega sociável: “Vit, I’ll write my cell phone, in case you want...” no que ele me interrompeu/completando: “Marry you? Oh, I think you are going too fast, girl!”.

Humm…gringo engraçadalho do carilho. Por isso é que brasileira leva a fama de puta e não sabe porquê. Eu, tentando ser simpática...dá nisso. Por isso é que eu sou antipática a maior parte do tempo. Mas, sem querer ele apontou meu principal problema em relacionamentos. Falta de timing. Too fast or too slow. Yes, Vit. That’s me.

Fiquei azul de vergonha, mas tive que rir também. Eu, que nunca faria isso em condições normais de temperatura e pressão – dar meu telefone pra um cara que nem pediu e que eu acabei de conhecer – resolvo fazer justo com um esloveno. Isso, Carrie! Você só perde pro Woody Allen na falta de jeito! Ou pro amigo de um amigo meu que chega nas mulheres perguntando “você gosta de molho pesto?”. E esse Vit é o tipo de pessoa que simplesmente não freia o que lhe vem a cabeça. Sai falando. Meio que nem o Borat, mesmo.

No final falei que ele podia me ligar nesses dias em que ficasse por aqui, caso precisasse de alguma coisa e eu prometia não casar com ele. No que ele fez um muxoxo do tipo “oh...que pena”.

Rá rá. Mas que foi engraçado, foi. Vê-lo levantando as sobrancelhas quando eu disse que ia dar meu telefone. Realmente o gap cultural entre a Eslovênia e o Brasil é um tanto quanto grande e deve ter soado muito bizarro pra ele. Apesar disso, ele já tinha visto Cidade de Deus e Central do Brasil – em festivais de cinema independentes e porque o namorado de uma amiga dele era brasileiro. Segundo ele, o cara terminou com a menina porque achou-a muito independente. Sim, comportamento tipicamente latino.

Quando fomos contar a história de “O ano em que meus pais saíram de férias” ele perguntou porque todo filme brasileiro tem que ter um garotinho abandonado. A meditar.


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A biblioteca ta impossível hoje. Mega lotada. São as mid-terms. As provas de meio de semestre. Aqui nego leva a sério prova. Não quero nem ver quando for a prova final. Tô tendo que revezar buraco de tomada com uma menina. Revezar buraco é depression. Buraco é coisa muito pessoal.


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Tô tensa para com minha tese. Eu fico tensa por qualquer motivo. Bons ou ruins. Empaco por qualquer coisa. Empaco porque acho que não vai dar tempo, empaco porque acho que tá muito ruim e porque não sei como continuar e empaco porque acho que tá muito bom e tenho medo de não conseguir fazer o que acho que poderia fazer. Empaco quando encontro coisas muito boas ou quando não encontro nada. Empaco.

Quer dizer: fico nervosa em pensar que pode dar muito errado ou que pode dar muito certo. Ainda mais porque andei recebendo uns e-mails de pessoas no Brasil, contatos profissionais que me fizeram crer que eu estou indo na direção certa. Sabe quando as pessoas acreditam mais em você do que você mesma? Putz. Que medo. E, se eu conseguir fazer o que eu quero...nossa. Minha tese será bombástica. Porque eu estou falando de uma coisa que pouca gente falou. E essas pessoas contam comigo pra falar isso. É muita responsabilidade. E eu não quero falar nem A nem Z, que seria o mais óbvio. Ou pior: pode acontecer de eu conseguir fazer o que quero e mesmo assim minha tese não ser bombástica...porque tem muitas outras questões – e pessoas – envolvidas. Aí eu vou ficar muito puta. Quer dizer, não tem como eu não me frustrar de alguma forma. Porque as minhas expectativas são sempre muito altas. Pink e Cérebro.

Timing. Tudo na minha vida se resume a uma questão de timing. Ou falta de.

Difícil ser eu.

Não é pra entender esse pedaço.

4 comentários:

Bárbara Anaissi disse...

já pensou no lançamento do livro? pq é óbvio q a tese vai ser ótima (e bombástica). e vai virar livro ;-) bjs

Anônimo disse...

justamente esta ultima parte foi a que mais me identifiquei, hahahah
isso acontece comigo aqui na França também, é um sentimento como se fosse em ondas, tem época que sinto mais, tem época que sinto menos...
Sera que faz parte do processo de brasileiros fazendo doutorado no exterior?! oh, duvida cruel...
boa sorte, vai dar tudo certo;)

Anônimo disse...

Oi, Carrie!
Tenho acompanhado o blog, mas com pouco tempo para comentar. De qualquer forma, está sensacional!
Claro que vai dar tudo certo,menina. Eu sou talvez pior: sendo médica há 15 anos, ainda estudando pra caramba, às vezas me dá aquela sensação de "fraude", que as pessoas vão descobrir que eu não tinha nada que estar ali... mas já ouvi de pessoas famosas até que sentem a mesma coisa... boa companhia então é o que não falta...
Deu saudade de New York, mesmo que eu não tenha mais vontade de encarar aeroporto para os USA. Tenho visto de 10 anos, que daqui a pouco vai acabar... e tenho que levar minha filha à Disney, que aliás é o sonho dos sonhos, até para adultos... fui à EuroDisney também, ano passado, mas não se compara com Orlando.
Aqui, sendo médica, acho que posso te falar: pede pra alguém te mandar um corticóide nasal, tipo Nasonex. O sangramneto vai passar e um pouco da coriza também. E use bastante soro fisiológico(desculpa a intromissão).
Valeu por me adicionar lá no O.
Beijão!
Nana

Andrea disse...

Tem que fazer esses programas aqui tb.

PS> Ninguém te perguntou pela Mangueira ainda não?