quinta-feira, outubro 23, 2008

Quase despejada

Putaça com Zorba. Hoje eu tive a prova de que ela subloca esse apartamento e por um preço muito maior do que ela realmente paga – não apenas dividindo o aluguel, como seria o justo, a meu ver.

Antes que o leitorzinho ético, cidadão de bem e cristão se manifeste dizendo “ei, você é conivente com isso! Não devia ter aceitado não assinar contrato”, deixa eu colocar as coisas claramente. Isso é Nova York. Aloooou! A segunda ou terceira cidade mais cara do mundo. Onde a especulação imobiliária bate recorde. Onde, nem sempre, ter dinheiro basta para alugar ou comprar um apartamento. Dependendo da região você tem que ser aprovado pelo conselho do prédio (ou ninguém nunca viu o episódio em que a Miranda tenta convencer o conselho do prédio dela a aceitar aquele negão lindo que ela pega depois?). E mais um milhão de outras coisas que existem aqui e vocês nem sonham. Existe um tipo de aluguel aqui que é passado de pai pra filho. Como herança. De tão brabo que é alugar aqui. A pessoa se dá por satisfeita quando têm um contrato desses. Eu desafio qualquer um de vocês a conseguir um apartamento ou quarto por 4 meses e meio assinando contrato. De todas as ofertas que eu fui atrás, nenhuma falou em me colocar no contrato. Quero ver alguém aceitar te colocar no contrato. Vão lá na Craigslist e tentem. Aqui nego só faz contrato por um ano, no mínimo – isso quando não pedem pra pessoa pagar um ano adiantado (isso mesmo, um ano adiantado), no caso dela não ter o Social Security Number. Formiga Sênior que está em Montreal, Canadá, muito mais barato que aqui e com muito menos especulação imobiliária, pelejou pra conseguir um contrato de seis meses, pois a maioria só queria alugar por um ano. O que eu ia fazer? Desistir de vir? Fala pro meu orientador isso! Ele comia meu fígado com azeite e usava meu cabelo de fio dental. Pagar quatro meses de hotel? Como, se a agência de fome(nto) que me financiou me deu uma bolsa tão ridícula que a própria NYU me pediu pra provar que eu tenho quase o dobro pra vir pra cá?! Tamos entendidos? Ninguém vai vir com esse papinho cretino de “ó, você não agiu certo”? Entendido que “em Roma, aja como os romanos”? Além disso, ninguém me disse que era estritamente proibida sublocação – não, ninguém me disse, não nesses termos, não que fosse essa gravidade toda; no Brasil se você coloca outra pessoa pra morar com você e cobra mais dela o problema é seu, desde que o aluguel esteja pago no final do mês. Logo, não, eu não sabia. Ok? Então tá.

Continuando, o cara veio atrás de mim e perguntou quanto eu pago e que ela não está autorizada a sublocar o apartamento. Eu não disse nada, ele perguntou se eu falava inglês e eu disse que não, mas mesmo assim ele ficou falando/perguntando coisas. Só falei pra ele falar com ela. Ele disse que ia tomar medidas legais contra ela.

Entrei e relatei o ocorrido a ela que veio com aquele papinho furado de que ele a “assedia sexualmente”. Isso na minha terra tem outro nome. Artigo 171, enganar ou ludibriar outrem com o intuito de obter vantagem de qualquer natureza. Fiz uma cara de “hã-han, vou fingir que acredito” e ela fez outra de “finjo que acredito que você acredita” e depois pediu desculpas.

A dúvida é: não sei como funcionam essas coisas aqui, mas vamos dizer que ele entre com uma ação de despejo amanhã. Eu não sei quanto tempo ela tem pra desocupar, mas...eu estou com medo de que eu vá parar na rua e ainda por cima com um mês e meio de aluguel com ela (que eu não posso nem reclamar, pois ela pode dizer que nunca me sublocou nada).

Pilantrona. E ainda por cima vai me cobrar 431 dólares por 15 dias de aluguel, baseada numa conta que não faz o menor sentido – ela conta a partir do dia 28 e estaria me dando 13 dias de desconto e não cobrando 15. Segundo a minha conta seriam 380 dólares, o que é metade de um mês, mas pra evitar discutir com ela por conta de 50 dólares, pago essa merda, porque odeio gente miserável e sou pobre orgulhosa. Se eu fosse mau caráter, eu chegaria pra ela e diria: “Zorba, a parada é o seguinte: me alivia esses 431 que eu falo com o landlord que eu sou sua prima do Brasil. Do contrário eu conto não só que você subloca quanto quis sub-sublocar pra minha família”. Mas não. Não vou fazer nada disso. Só não quero ter que aturar cara feia de landlord e ser interrogada por ele. E ainda por cima ouvir que eu estou errada. Eu sou tão vítima quanto o landlord. Tenha santa paciência.

5 comentários:

Anônimo disse...

Putz, Carrie, posso fazer uma piada? Quando li sua idéia de falar que era a prima dela do Brasil, lembrei imediatamente do 'Primo Cruzado', que aqui no Brasil era o primo brasileiro do americano, mas no original era um primo GREGO e... ã... nem teve graça.

Enfim, vou torcer pra que as coisas se resolvam bem e logo, apesar de você ter me espinafrado indiretamente como "leitorazinha ética". :) Mim saber que a vida não é preta e branca.

Carrie, a Estranha disse...

Hahahaha...ótima lembrança, Bel! Não me lembrava q ele era grego nem brasileiro (mas me lembro do seriado).

Ah, e mais outra coisa! A Raquel me lembrou q ela perguntou diversas vezes pra ela se não teria problemas em não me colocar no aluguel ela disse q não. Então...puxa. Não me sinto fazendo nada de errado (daquelas q se sente culpada e quer justificar).

VanOr disse...

O landlord do Ken, que também é grego, quase lhe comeu o fígado da última vez que ele veio ao Brasil porque, para não deixar o apê vazio e ficar pagando aquele aluguelzão à toa, ele sublocou o imóvel pra um casal por 3 meses pelo exato preço que pagava. O Ken ficou super envergonhado com a bronca, teve medo de ser despejado, mas depois de passar algumas semanas evitando o cara, que aparentemente é gente boa (mas não é idiota), resolveu tomar uma atitude macha e procurou o landlord pra uma nova conversa. Aí ele explicou que não lucrou e nem teve intenção de lucrar com a sublocação, mas como sua namorada mora no BRasil, ele eventualmente viajaria e portanto precisaria negociar uma situação em que ele possa sublocar o apê quando não estiver em NYC. O cara disso que tudo bem e deu pra ele um modelo de contrato de sublocação. Nem preciso dizer que o contrato é perigoso para o Ken, mas macio com o senhorio.

Eu achei que contratos de sublocação fossem praxe em NYC, my bad! Talvez seja praxe em NYC todo mundo ter medo de ser despejado, daí tanta mentira (no caso da grega), tanta omissão (no caso do Ken) e tanta informalidade (no caso da falta de contrato). Com tão pouco imóvel disponível na cidade, dá pra imaginar que o cenário de guerra seja esse mesmo.

Passei 20 dias na casa de um amigo em Lisboa, e ele pagou 10 euros por dia pela minha estadia ao seu senhorio. Estava previsto no contrato que hóspedes que passassem mais de 3 dias deveriam pagar 10 euros adicionais ao dia. Enfim, contrato. Você pode até querer comer meu fígado por isso, mas a gente pagou porque era certo, e não por medo do senhorio ter uma câmera oculta no prédio. ;-P

Andrea disse...

A revolta lhe cai muito bem, Carrie. Você está linda.

E eu tô aprendendo muita matemática com seu blog.

Bjs

VanOr disse...

O Ken acaba de me dizer que vc não será despejada porque não é ilegal, em NYC, sublocação. Pedi pra ele te ligar pra te explicar melhor, mas ele é muito tímido pra isso. Liga pra ele, pô!