terça-feira, setembro 30, 2008

Fui deitar as 10 da noite, hoje (acho lindo quem deita as 10 da noite!). Meia noite e pouca, uma hora eu começo a rolar na cama (também despertada pelo cheiro da gororoba que Zorba está comendo). Pronto. Agora tô aqui, feito “que isso” como diria vovô João da Cruz – que morreu em 1964 e mal chegou a ver televisão.

Não adianta lutar contra certas coisas da sua natureza. Não adianta eu querer dormir muito cedo. A não ser que eu tenha ficado sem dormir na noite anterior fatalmente eu vou acordar.

Baseado nessa lógica pode parecer que eu preciso de poucas horas de sono, né? Ledo engano. Se eu durmo às 3 da madrugada, lá pelas oito quero matar quem quiser me acordar.

* * *

E hoje foi aniversário de Zorbitcha, nossa amiga El Greca. Comprei uma caixinha de Godiva, um cartão com aquele papo de vinhos que melhoram com o tempo e mulheres mais velhas (essas conversas fiadas que a gente fala por aí, assim como “homem não gosta de mulher magra” e “homem não vê celulite” e outras falácias paliativas contra a dura realidade da decrepitude feminina e mortalidade humana). Deixei na nossa Tábua da Comunicação. Ela chegou seis da manhã de domingo – ela realmente anda trabalhando demais, ela chegou às quatro da madrugada na sexta e saiu às oito no sábado, ficou vários dias fora essa semana e fim de semana foi esse mesmo ritmo. Sim, era realmente trabalho – seja lá o que exatamente isso seja.

Depois só fui encontrar com ela à noite. Ela veio me agradecer, disse que chegou tão cansada e viu aquele chocolatinho ali e o cartão (ah, também estava o aluguel do mês) e “oh, it was so cute”.

É, essa sou eu. Cute. Fofa. Nem todo mundo consegue ver. Afinal, meu cute (ôpa, sem trocadilhos, por favor) é pra poucos.

E ela deixou o Godiva na Tábua da Comunicação – que é também a tábua do compartilhamento: tudo que ela deixa ali eu sei que é pra mim e vice versa – e veio dizer pra eu comer também. Expliquei pra ela que eu tenho problemas com chocolate e quando eu como um eu como 1.000.000 e que eu estava passando por uma fase de rehab. Ela riu e disse que eu podia comer todo o resto, mas eu disse que não. Afinal o presente é dela, são poucos os chocolates e muito caros e muito gostosos (os melhores do mundo).

Mas isso é só pra vocês terem uma noção da generosidade de Zorba. Não toma banho, é verdade. Dividir um Godiva, para um chocólatra, é algo como os judeus e palestinos se sentarem e resolverem dividir Jerusalém ao meio. Se alguém me dá uma caixa de Godiva eu não divido nem o farelo.

Espero que ela seja generosa assim na hora de cobrar a estada de Formigas Mãe e Sister. A princípio ela tinha dito pra Raquel que cobra 85 dólares por dia por pessoa, mas acho que isso é pra dar uma assustada e não deixar a pessoa muito folgada – é sempre bom frear as pessoas folgadas; se há uma coisa que eu detesto, odeio, é incomodar os outros. E a segunda coisa que eu mais detesto é gente folgada. Depois quando falei com ela (expliquei que elas viriam e eu gostaria muito que elas ficassem comigo, mesmo porque minha mãe não fala inglês e minha irmã fala pouco), perguntando se ela não sabia de ninguém que quisesse alugar um quarto por aqui, ela disse que achava que poderia acomoda-las aqui, mas pediu um tempo pra pensar. Depois veio me dizer que pode, sim, recebe-las e que, inclusive, pode sair do apartamento para nos deixar mais à vontade. Quando perguntei sobre o preço ela disse que ainda não havia pensando e depois a gente via isso.

Os 15 dias restantes do meu aluguel ela também disse que “depois a gente vê”. Vou embora dia 15 de dezembro, mas tratei com ela desde o dia 1 de agosto. Porém, só cheguei dia 12 de agosto – azar o meu, né? Eu não esperava que ela não fosse cobrar esses 12 dias de agosto. Ao que tudo indica – eu posso até me enganar – ela não vai cobrar esse dias de dezembro baseado no fato de que eu cheguei dia 12. O envelope que eu deixo o pagamento já ta marcado que a partir de novembro ta tudo pago (eu paguei o primeiro e o último mês adiantados) e quando eu toco no assunto com ela, ela diz que “depois a gente vê, não se preocupe com isso...”.

Pode ser tudo um problema de semântica e eu estou entendendo tudo errado e ela vai me dar uma facada ao final.

Assim como meu amiguinho de conversação que me ligou sexta meia noite dizendo que estava pensando em mim e resolveu ligar, me chamando pra comer bagel as sete da manhã e dizendo que eu poderia ir ver um filme e jantar na casa dele qualquer dia desses. Apesar de eu ter certeza de que essa Coca era Fanta, essas informações me deixaram um pouco confusas, pois na minha terra isso tem outro nome. Mas atribuí ‘as diferencãs lingüísticas (apesar de que ele fala português). Mas, no dia seguinte, eu tive a confirmação da primeira impressão: realmente tratou-se de um equívoco lingüístico, um erro de interpretação da minha parte. O mancebo e eu gostamos da mesma coisa.

E fui jantar com outro amiguinho dele de orientação sexual similar a dele e uma menina, ao que tudo indica, hétero. Me senti em um episódio de Will and Grace.

E eu desconfio que eu seja a Karen. Ou o Jack.

* * *

O povo aqui tem mania de salada de espinafre crua. No Brasil, pelo menos no Rio e em Minas, é mais comum a gente fazer refogado – até uma clara de ovo misturada. Gostei muito. Até no supermercado, na sessão de verduras, onde você encontra tudo lavado e pronto pra comer, tem sacos e mais sacos de espinafre. E são mais baratos do que a alaface.

* * *

E o governo aqui tá tentando aprovar um orçamento de 700 milhões de dólares pra ajudar na crise financeira - como vocês devem ter visto melhor do que eu, que só assisto aos seriados. Hoje a TV do refeitório da faculdade tava ligada na votação (coberta pela CNN) e todo mundo que passava soltava um palavrão ou resmungo qualquer – sem contar os sem loção, essa tribo nômade que está no mundo todo, que paravam na frente da TV até alguém pedir pra eles saírem da frente.

Ajudar na crise financeira é sempre ajudar os ricos. O que é triste, mas se você pensar que caso eles não sejam ajudados quem toma no cu é sempre a classe média...fica-se num mato sem cachorro.

* * *

É muito dinheiro.

* * *

Aliás, esse dias tavam me dizendo que o orçamento de Harvard (acho que é Harvard ou uma dessas) é o mesmo da Argentina. Muito dinheiro que rola nesse país.

* * *

Apesar disso, em tudo quanto é lugar tem plaquinhas de “precisa-se de ajudantes” e hoje na Union Square um cara interpelava algumas pessoas na rua perguntando se tinha emprego e gostaria de trabalhar (inclusive a mim). Não perguntei que atividade era, mas desconfio que não fosse nada ilegal se não o cara não estaria gritando a plenos pulmões. Mas, sem dúvida, devem ser todos empregos sem direitos trabalhistas e pagando uma miséria. Mas, como eu disse, pra muita gente isso é muito. Pra muita gente simplesmente não há empregos em seus países de origem. Nem pagando muito pouco.

Fica a dúvida: o que é melhor, um país rico em crise ou um pobre estável? Mesmo porque, como diria nosso amigo Karl, o Barbudo, o capitalismo precisa das crises pra se reinventar. A crise é inerente ao capitalismo. E ao comunismo. E ao ser humano.

Aliás, acho que o país com mais comunistas são os EUA. Afinal, pergunta se alguém quer ser comunista em Cuba? Na Rússia? Esses dias, vi uma banquinha do partido comunista, recolhendo assinaturas e divulgando o manifesto comunista, dizendo que uma revolução socialista é tudo que os EUA precisam. “Liberal” aqui tem outra conotação.

E ainda vem gente, no Brasil, que nunca esteve nos EUA, dizer que aqui não é um país democrático. É, tem Guantánamo, tem milhares de atos arbitrários deste presidente insano, mas pergunta se em Cuba tem banquinha divulgando as idéias liberais? Não, né? Então tá.

De novo a frase do velho Churchill de que a democracia estava longe de ser ideal, mas ainda assim era o melhor que a gente tem. É, tem homeless pedindo esmolas, ao contrário de Cuba. Mas a miséria aqui é de outro tipo. Aliás, não é miséria. É pobreza, o que é bem diferente. Aliás, aqui tem tanta gente estranha que às vezes você não sabe se a pessoa é mendiga ou ta só descansando sentada na calçada. A única coisa que indica são as plaquinhas “I’m a homeless” – olha que tem cada mendigo com cada casaco que dá vontade de pegar e sair correndo. Sem contar que tem muito homeless que é homeless porque é viciado em droga, porque é maluco, porque ta doente e não tem seguro médico...

Esses dias eu vi uma plaquinha escrita: “preciso de dinheiro para tomar uma cerveja. Pra que mentir?”.

Enfim. Percepções superficiais de uma quase-turista.

* * *
Deu soninho.

6 comentários:

Helena disse...

A grande depressão nos anos 30 foi resolvida com a segunda grande guerra. E agora?

A Zorba não se banha mas é gente boa. Conheço tanta gentinha que é higiénicamente irrepreensível mas deixa muito a desejar como pessoa. Desfrutemos do que cada qual tem de melhor!


Vou trabalhar (palavra feia!). Hasta.

Raquel (NY) disse...

Meu bem, aqui e a America, neam? Tudo supersized (menos sua calca tamanho 8, claro). Sao 700 B-I-L-H-O-E-S, nao milhoes.
Vamos que vamos.
Beijo
Raquel
PS - Fale com Zorba que eu mandei os parabens pelo aniversario.

Carrie, a Estranha disse...

É, eu fiquei em dúvida, Raquel, se eram milhoes ou bilhoes, mas até pra america eu achei um pouco demais. Uau. Bilhoes.

Helena,

É. Não sei. Pq essa guerra aqui nao resolveu nada.

Bjao

Anônimo disse...

Mas, o mizifia, homem REALMENTE não vê celulite. Nem gosta de anoréxica. Really trully.

Carrie, a Estranha disse...

Mentira. Homem não vê detalhes, mas percebe q o todo está harmonioso ou não. E, tudo bem, não gosta de anoréxica, mas gosta de magra. Esse papo de gosta de "carne" pra pegar...sei não.


mas pode ser q eu só tenha conhecido os homens errados até hoje.

Anônimo disse...

Bom, mas harmonia é harmonia. Celulite não conta pontos negativos na "harmonia". =)