quinta-feira, abril 24, 2008

Rejunta no dos outros é refresco!


Os peritos em hidráulica da região se reuniram em volta do meu banheiro para chegar a brilhante conclusão que é um “pobrema de rejunta dos azulejos do box” (rejunta tudo e joga fora! Dããã). Vão descer, comprar cimento branco e colocar entre os azulejos (escutei o som das gargalhadas da CRIMAMEB pelo encanamento, mas só eu consigo ouvi-las!!!). Eu e meu amigo da portaria achamos que isso vai dar merda, que o problema não é esse, mas...quem somos nós diante de mestres na arte de investigar canos, não é verdade?

Já tive minha discussãozinha básica com o Seu Manoel de hoje – quase rotina, agora. Ele chegou aqui com a amante/empregada Maria e com a simpaticíssima proprietária do apartamento debaixo ao dele – só não consegui estabelecer se o semblante risonho dela era sarcasmo, perplexidade frente ao caos que se estabeleceu no apartamento dela (que ameaça pôr seu Manoel na justiça) ou efeito colateral do botox.

Eu caí na besteira de dar o telefone da minha proprietária pro seu Manoel, ao invés de dar o da imobiliária. Ele ligou pra ela pra combinar de vir aqui. Ela, evidentemente como pessoa minimamente sensata, disse: “combina com a Carrie”. Combinar de vir aqui. Né? Uma vez que eu moro aqui, tem que combinar comigo. Pela razão óbvia de que sou eu que abro a porta. Aí ele tá achando que sou eu que vou pagar pelo serviço – caso o vazamento venha daqui. Não só pagar a obra aqui como a dele, no andar debaixo. E não adianta tentar explicar isso pra ele. O portuga é burro. Não sei porque cargas d’água ele achou que a proprietária fosse minha mãe! – diz ele que os porteiros disseram. O apartamento está no nome da minha mãe, que é a inquilina, assim como eu – que sou a inquilina-formiga. Qualquer despesa, quem vai pagar é a proprietária. Eu sou apenas uma moradora. Se eu quiser amanhã eu saio para comprar cigarros e nunca mais volto. O apartamento não só não é meu como sequer está em meu nome.

A simpaticíssima figura do andar a baixo do seu Manoel está ameaçando colocá-lo na justiça, pois ele não resolve o problema do vazamento dela (entenderam a complexa trama de encanamentos vazando? De algum lugar que eles ainda não sabem está vazando pro apartamento em baixo ao meu, de propriedade do seu Manoel, que está vazando pro apartamento em baixo ao dele). A rigor, eu não tenho nada a ver com isso – a não ser que se descubra, de fato, que o vazamento é daqui.

Detalhe é que ninguém suporta mais o seu Manoel. Depois de ouvir o síndico falando mal dele, o bombeiro chegou aqui, pela segunda vez, conversando com o outro “...e ele não pára de me encher o saco!”. Aí perguntei: “seu Manoel não veio, não?”. O bombeiro: “não, eu falei pra ele ficar lá embaixo”. Não agüentei: “ah, graças a Deus!”. O bombeiro: “Ah, é...ele fala demais, pelamordedeus”.

Laços de solidariedade entre mim e o bombeiro foram estabelecidos contra o tirano Seu Manoel. Gosto disso. De me entender com quem realmente faz o trabalho sujo. Como diria meu orientador: trate os mais simples com excessivo respeito e educação e os mais poderosos com um leve desdém.


Cinco minutos depois...


- Pééémmm (barulho da minha campainha)


Eu e o bombeiro nos entreolhamos. Pânico.

- Oi, é o seu Manoel! – brandiu a voz do outro lado da porta (jura?! E eu que pensei que pudesse ser o gnomo do esgoto!).


Abri a porta com uma cara de poucos amigos.


- Prometo que eu não falo nada – disse seu Manoel. Tive que segurar o riso. Ele parecia um menino de 5 anos querendo ver o pai arrumar o carro. Detalhe: um pouco antes, quando ele veio da primeira vez, ele me perguntou: “porque a proprietária do seu apartamento não vêm ver o vazamento?”. “Porque ela tem mais o que fazer” – não resisti. Ele quase não se emputeceu. Sim, eu não sou fácil.


Ficou em pé no banheiro – eu que não vou oferecer uma cadeira, né? É perigoso ele se mudar pra cá se eu disser pra ele ficar à vontade. Enquanto isso, fiquei estudando na sala. Não deu nem dez minutos, vem o Seu Manoel:

- Tão quase descobrindo...

Olhei bem séria pra ele – e quem me conhece sabe o quão assustadora pode ser a minha cara nesses momentos – e tornei a baixar os olhos pros livros. Ele pronunciou mais umas duas palavras que foram morrendo e desaguaram num “desculpe” amuado. Voltou lá pra dentro. Um rápido lampejo de simancol.

Agora estou eu aqui, acreditando que o “pobrema é de rejunta”, o bombeiro foi pegar cimento e as ferramentas dele, mas disse que eu não vou poder usar o box hoje. Aproveitei e tomei um banho nesse meio tempo, porque, como diz o outro bombeiro: “já tá chovendo, deixa chover”.

Meu dia todo transtornado, não vou poder correr porque não posso tomar banho, tive que remarcar compromissos para outros horários pra ter a quase certeza de que não vai adiantar nada. E ainda por cima eu tenho que lidar com um português semi-esclerosado e sua amante-golpista-semi-analfabeta-que-se-acha.

E é imbuída desse espírito zen que eu me despeço. Que se fodam todos. Quer quebrar, quebra. Quer cortar a água, corta. Fudida por um, fudida por mil.
Só posso, a qualquer momento, sair para comprar cigarros e nunca mais voltar. Aí eu quero ver arrumarem o vazamento.

7 comentários:

Bruno S. disse...

Um tabuleiro de xadrez cujas peças foram idealizadas por Salvador Dali (pena que dali, porque se fosse daí seu problema estaria resolvido. Ok, essa foi terrível): um bombeiro-caçador-de-gremlins-que-vivem-em canos, uma inquilina com "nome" de personagem do Stephen King, um português-zelador-verborrágico e por aí vai... Se fosse você iria atrás dos cigarros :P

Lenissa disse...

Carrie, se precisar de um chuveiro amigo ou qq outra ajudinha prática - pode contar comigo. Até se for pra segurar o pedreiro enquanto você o enche de porrada!
Aponta pra fé e rema que um dia essa droga passa! Beijos

Ana Manga disse...

cara, deve ser uma merda estar aí nesse conto brasileiro, mas eu - desculpa - tô me divertindo muito com as narrativas. mas te desejo que as águas rolem pra outras bandas e que te deixem em paz. adorei a frase do seu orientador though. até anotei. saudades de vc. bjoks!

Carrie, a Estranha disse...

B.,

O problema é q eu não fumo. Isso resolveria tudo, mas eu não fumo.

Lenissa,

Bigada pela solidariedade banheirística! Se eu fosse dar porrada em alguém seria no Seu Manoel.

Ana,

Sim, o Coach é o máximo.

Bjs

raquel winter kreischer disse...

Cara, só posso te informar que os pobrema não é dos rejunte. Sério. Rejunte não impermeabiliza porcaria nenhuma, porque é poroso e a água vai por capilaridade (lembrando das aulas de materiais, da faculdade. é, eu sou arquiteta, além de tudo). Sei que você não deve estar aguentando mais ouvir falar disso, mas posso tentar ajudar, me manda um e-mail se quiser.
bjo

Carrie, a Estranha disse...

raquel,

vc entende de encanamentos?

raquel winter kreischer disse...

entendo de obras em geral. Se você me contar a idade do apartamento, se o encanamento é de cobre ou pvc, onde está aparecendo a água, se o teto do banheiro de baixo tem rebaixo de gesso, etc, eu posso tentar dar um diagnóstico, de repente não há necessidade de quebrar.