segunda-feira, março 17, 2008

Eu e o balconista


Nesses tempos sem internet em casa eu tenho ido a uma Lan House bem baratinha, perto da minha casa. O dono parece um personagem do Nick Hornby ou do Kevin Smith. Pra quem não está familiarizado com o autor de livros que viraram filmes como Alta Fidelidade e o diretor de O balconista e Procura-se Amy, explico. Trata-se de jovens – ou não tão jovens assim – que possuem interesse em música ou áreas afins e que tem um subemprego que, de certa forma, os colocam em contato com a área pretendida, sem contudo, representar algo concreto em suas vidas. Esse Fulano: cabeludo, toca em uma banda e puxa papo com todas as pessoas. Se você pergunta que dia é hoje ele te responde com “hoje é dia do show da banda [nome estranho de uma banda obscura que eu nunca ouvi falar]. Eles vão tocar durante duas horas e meia!!”. Se mete nas conversas das pessoas...uma coisa.

Dia desses foi uma garota gravar umas músicas, ao que parece, em um CD. Aí ele manda:

- Essas músicas são inéditas?

- São.

- De quem são? - insiste.

- Eu tenho uma banda – diz a menina, meio de má vontade.

- Sério?!!! - responde o cara - Tocam o quê?

- Ah...responde a menina, mais de má vontade ainda, porém com um certo orgulho...rock. Ao que ele completa:

- Alternativo? Sixties? Urbano? – e mais meia dúzia de denominações que eu não me lembro e que pra mim são todas sinônimos. E a menina:

- É, é...

- E vocês estão fazendo shows? - quanta empolgação...

- Temos um show marcado em São Paulo.

- Que legal!!! Vibra o cara, como se fosse um show dele.



Daqui a pouco chega um Sicrano querendo passar uma mensagem pra um celular de uma garota por algum site de empresa de celular. Parece que era alguma oportunidade de emprego, que o cara precisava avisar a garota urgente, mas estava sem crédito no celular. O mesmo atendente, que parecia já conhecer o cara, dispara:

- Passa do meu celular! Depois quando você for um ator famoso eu posso dizer que você já passou uma mensagem do meu celular!

(E...?? Pensava eu, do meu posto de observação).

Aí eles acharam por bem mandar um torpedo mandado a garota checar seus e-mails.

- Vê se tá bom assim – dizia o atendente empolgado. “Oi, linda. Olhe o seu e-mail. Estou passando uma mensagem do celular do meu amigo Fulano. Bjs. Sicrano”.

- Tá, tá ótimo – disse o sicrano.
.

E eu lá, checando meus e-mails enquanto o resto da lan inteira olhava o orkut.

De repente eu olho pro desktop do computador onde eu estava e acho um arquivo com o nome de uma amiga minha. Um nome não muito comum. E essa minha amiga mora exatamente em frente a essa Lan. Abro o documento. Trata-se, simplesmente, de um acordo de trabalho entre ela e uma famosa produtora de filmes (sim, ela é atriz), com todos os dados pessoais dela, como CPF, RG...Sabedora da lerdeza e atolamento dessa minha amiga, apenas arrastei o referido documento para a lixeira e esvaziei-a. Se ela deixa os documentos abertos, imagina as senhas. Limpei todo o histórico de visitas e informações pessoais do computador.

Pedi pro Fulano escanear uma coisa pra mim. Quando ele termina, me pede o meu e-mail, pra me mandar a imagem. Chega o e-mail do cara, com o celular e o msn, o qual era composto de fulanodepressivebluesguy. (Nisso a Lan inteira tinha ouvido o meu e-mail).

Ou seja: a Lan é um antro de aspiras. Aspirantes a atores, músicos e escritores. Só espero que ele não descubra o meu blog...

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