domingo, fevereiro 17, 2008

The job that ate my brain


“Ain't enough hours in the day
There's go to be a better way

I can't take this crazy pace
I've become a mental case
Yeah, this is the job that ate my brain”

(Ramones)





Eu não faço a menor idéia pra onde eu estou indo. E, sei lá. Talvez isso não seja necessariamente uma boa.

Eu tenho a sensação de que alguém roubou a minha vida e está com ela por aí. Quem achar, favor deixar na portaria.

Alguma dona de casa com marido, filhos, cachorro, vazinho de flor na janela, lençol estendido no quintal e papagaio talvez queira ir pro ridijanero continuar os estudos, morar sozinha...sei lá. Faço permutas. É só contatar o gerente da seção e podemos fazer negócio. Vendo itens em separado, também.

A Madonna uma vez, já no auge da fama (tipo próximo ao lançamento de Na cama com Madonna, depois da turnê Blond Ambition) disse: “tudo que eu queria agora era estar em casa lavando as cuecas do meu marido” (o que, estranhamente me lembrou aquela música do Guilherme Arantes: eu queria muito estar/ no escuro do meu quarto/ à meia noite/ à meia luz/ Sonhando/daria tudo por/meu mundo e nada mais). Ninguém no mundo entendeu essa frase dela, só eu. Não é machismo, não é jogada de marketing, não é nada disso. Eu vou explicar pro resto do mundo. É apenas o sentimento de que ela queria realmente ser uma pessoa normal, mas não dá. Ela queria querer, o que é bem diferente de apenas querer. Algumas pessoas passam a vida tentando ser normais, tentando ter apreço pela normalidade, e nunca vão conseguir – e, bom...depois de algum tempo ela até conseguiu “lavar as cuecas”, de alguma forma. Ah, eu e minhas questões acerca da suposta "normalidade" - eu sei que "de perto ninguém é normal" e coisas do tipo, mas...há níveis. Há graus.

Tédio. Tédio. Tédio.

Zzzzzzz.

Esses dias eu escrevi "exelente". Minha irmã viu e teve que me corrigir. Mas eu fiquei olhando alguns minutos pensando o que havia de errado na palavra. Eu também nunca sei escrever "administrar". Psicóligos de prantão podem arriscar explicações óbvias.

Meu cérebro virou um mingau, essa é a verdade. Tenho vontade de ficar sentada no sofá vendo Friends e Bob Esponja, tomando Toddy morno com biscoito molhado no leite.

As pessoas dizem que para você ter cachorros (sim, de novo eles. Que, no caso, não passam de uma metáfora) e filhos, você deve abdicar de uma série de coisas, se prender, não ter liberdade de sair, de viajar, de passar noitadas fora de casa...

A dúvida é: cadê as noitadas, as viagens, os filhos, os cachorros, a série de coisas? Roubaram! Eu não tenho nada! Nem uma coisa, nem outra! Nem os prós e nem os contras.

Eu não sei pra onde estou indo. Só sei que a passagem tá muito cara e o motorista dirige muito mal. E tá sem paisagem, o caminho. Eu acho que eu tô enjoando e vou vomitar dentro de alguns minutos.

O pior (ou melhor) é que eu sei pra onde eu deveria ir. Mas não tá dando. No momento, não.

Minha vida não é igual a de ninguém. Sim, há uma presunção muito grande nessa frase. Nenhuma vida é igual a de ninguém. Mas eu sempre tive a sensação, desde muito criança, que a minha era menos igual, mesmo sabendo que a de todo mundo é diferente.

Eu vou ser Doutora com 32 anos. Phd – philosofical doctor. Pra quem, há dez anos atrás, queria fazer tudo, menos seguir a carreira acadêmica – pra quem, sequer, queria ter feito faculdade e trancou duas vezes – acho que é uma grande surpresa.

Pra quem não fez Letras só porque não queria, em hipótese alguma, ser professora, também é um fato, no mínimo, curioso.

Pra quem sempre odiou o Rio também é um tanto quanto notável atingir a marca de 13 anos morando lá. Passei a gostar, depois de uns 5 anos. Do meu jeito, mas gosto. Pelos motivos que não são os mais óbvios.

Não, eu também não quero ser atriz (pra quem não sabe: eu tenho um registro de “Artista – atriz”. Mas não espalha. Pior do que esse só o de jornalista, mas eu sequer me dei ao trabalho de tirar o registro profissional, que é pra não correr o risco de ninguém me dar um trabalho nessa área).

A única coisa que eu gosto de fazer desde pequena é brincar. E contar historinhas. E toda a minha vida profissional tem sido uma busca por essas duas coisas. Só que nem sempre eu consigo articulá-las em um projeto de vida coerente e lucrativo.

Bom, mas pode ser tudo apenas TPQ = tensão pré-qualificação.

15 comentários:

vera maria disse...

bom,já que estou por aqui, deixa eu tentar ajudar, pq vc está me dando um pouco de afliçao, carrie, está muito angustiada, e parece que esse momento extremamente dificil que é preparar um trabalho acadêmico que vai ser analisado por "outrens" está te deixando muito insegura, e daí toda o filme da vida vai passando, como se ela (a vida) estivesse tb à beira de ser avaliada. Não faz isso com vc não, carrie, pega um pouco mais leve, tudo vai se resolver, acredite em mim, vc vai achar seu caminho, tem tudo pra ser um caminho de sucesso (e de trabalho tb), só precisa ficar um pouco mais tranquila. Se vc já escreveu o projeto da quali, dê um tempo pra vc mesma, faz só coisas boas e alegres, enfim, relaxa um pouco. Que mais posso fazer pra te ajudar?
um abraço,
clara lopez

fmaatz disse...

Sim, sim. Já passo por aqui há algum tempo. E hoje, esse texto, bateu mais então comento: minha vida também tá por aí, mas nem sempre sei se é vantagem achar...
bjs.
f.

Carrie, a Estranha disse...

Clara,

Não, ainda não terminei. No caso não é só o projeto. São dois capítulos + memmorial + mais resumo de outros capítulos...no momento estou finalizando o último capítulo (tô finalizando há algum tempo). Até dia 28 é, como diz um amigo, "pau dentro". No mau sentido.

E não me incomoda (tanto) ser avaliada. Eu já passei por qualificações, sei q o processo é de ser avaliada, mesmo...e q, há certos rapapés na vida acadêmcia q dificilmente mudam. Dificilmente a banca vai me destruir, num mau sentido. Podem até fazer críticas profundas, mas sei q o momento é esse.

Provavelmente eu vou passar pra um concurso em uma universidade pública. Pode demorar ainda algum tempo, mas vai acontecer.

A pergunta de um milhão de dólares é: depois de tanto tempo, de tanto esforço, terá valido à pena? O q eu fiz no caminho até lá? Qtas coisas eu deixei em segundo plano, achando q haveria o momento e simplesmente o momento nunca chegou?

mas não preocupa, não. o q não me mata, me fortifica, como diria Nini.

Fmmatz,

"minha vida também tá por aí, mas nem sempre sei se é vantagem achar...". Nossa. Essa agora calou fundo. Pois é. Ainda tem isso. Pode ser que, efetuada as trocas e as permutas, nos demos conta de que não valeu a pena.


Bjs

Ana Manga disse...

Tipo, era pra eu estar nesse exato segundo escrevendo o tal "projeto da quali", como a querida de cima chamou. O que na verdade, como vc disse, é projeto + memorial + 2 capítulos + resumo. Ao invés disso, eu tô aqui te escrevendo, quando na verdade queria te convidar pra vir aqui em casa pra gente escrever uma do lado da outra, pra ver se melhora. Eu entendi o seu post assim do mesmo jeito que vc entendeu a Madonna, entendi muito, terminei até com um muchocho profundo. Todas as partes -
TODAS. Eu tb nem queria carreira acadêmica, eu tb só num fiz letras pq num queria ser professora, eu tb, eu tb (e ainda por cima caí no clichê de fazer jornalismo). Meu doutorado é sobre literatura de blog, e mesmo assim eu não tenho a disciplina de escrever o quanto preciso! E eu tenho muita inveja das pessoas que têm trabalhos operacionais, que trabalham de garçon aqui e viajam o mundo inteiro, livres. Mas eu tb viajo - pq num sou livre? Afe. Queria mesmo que vc pudesse vir enlouquecer e duvidar das escolhas todas junto comigo. Acho que é mais confortável se a gente se fode com alguém do lado. Eu acho. Mas o Rio é muito longe da Inglaterra. Num quer vir lavar cueca em Londres? A gente arruma uns maridos e uns cachorros.

Bjo, Carrie. Aqui, se tu quiser conversar no msn um dia: apmanga@hotmail.com. Eu sou uma loser, tô sempre online.

Mais bjo.

Anônimo disse...

carrie baby, seus últimos posts tb tem me deixado nervosa... ai, já não bastasse eu com crise existencial... mta crise, mta crise. a verdade é q nunca estamos satisfeitos com o q temos. se a madonna estivesse lavando as cuecas do marido, estaria querendo alguma outra coisa. se vc tivesse feito letras, tb estaria querendo alguma outra coisa. e assim por diante, pq é do ser humano a insatisfação eterna e o desejo de sempre se ter mais ou d eter algo diferente ou de ser algo diferente daquilo q se é.
eu não ia fazer letras pq não queria ser professora. acabei nas duas coisas.
precisamos conversar. msm. vc fala das suas crises e eu falo das minhas tá? eu e meus dilemas entre as mil opções de caminhos q se apresnetam a minha frente...
ui, ui, mega comentário. fui!
qdo vc volta de vr??
bjs

vera maria disse...

ana, fiquei super comovida com seu comentário, que bonita a sua proximidade com a estória da carrie e que linda a forma de dizer tudo, muito bom, muito sensível :)
carrie, se vc não conseguir nada na vida, se for uma completa perdedora já fez coisa pra caramba ao aproximar tanta gente a sua volta, ao se comunicar com tanta força e veemência com as pessoas, que querem verdadeiramente o seu bem, que vc seja feliz, todos torcendo por vc e a seu lado. Não é pouca coisa, carrie, tenha certeza. Isso é ser amada pelo que vc é, a gente percebe que vc é assim mesmo, não é fake, não está inventando, nem fazendo cena.
um abraço pras duas,
clara lopez

ps. mandei email pra vc, recebeu?

Carrie, a Estranha disse...

Ana,

Ai, q lindinha, vc! Esse é seu e-mail de receber e-mail (dããã...bom, mas vc entendeu, né? Queria te escrever...)

Mas pelo menos vc está em crise em Londres! Poooodre de chique!

Bella,

Eu vou pro Rio semana q vem e preciso ir a Niteroi. Além disso, temos nosso encontro do blog de leitura, né? Apesar de certas pessoas não terem lido o livro...

Clara,

já deve ter visto minha resposta...muito obrigada por tudo.

Bjs

Ana Manga disse...

Carrie, eu num tô em Londres. Tô numa roça a uma hora e meia (and worlds apart) de distância, chamada Loughborough, e it sucks. Chique é morar no Rio, vc que nem venha. Meu email de receber email é iarú. O apmanga@yahoo.com. Vou ficar bem feliz se me escrever. Enquanto isso, TPQ comendo solta. Acho que fumei um treco inteiro desses fumos de rolo. Detalhe: eu nem fumo! Bjo.

La Vita `e Troppo Strana disse...

Carrie querida, QUERIDONA, do meu coracao: Todas as meninas falaram tudo q eu poderia te dizer, tal e qual...tambem perdi a oportunidade de falar dos doguezinhos.pq nao consegui postar... depois chorei com a entrega deles... bua, bua...chorei pra burro.. porque? pq assim como a ana falou, nunca estamos satisfeitos, como eh proprio do ser humano, muito bem dito por ela... clara lopes!? que linda mensagem te deixou...nos te amamos.. e mesmo amadas, somos assim...E ISSO PORQUE VCS TODAS SAO JOVENZINHAS!!!! IMAGINEM QDO CHEGAREM NA MINHA IDADE!!!! nao quero ser urubu, mas a coisa piora MESMO... nao todos os dias, mas tem dias que vou te contar... por isso nao liga nao..todos nos so queremos uma vida normal... eu tambem... sabe o que mais? estamos juntas, embora distante, e todas nos entendemos e nos apoiamos e te amamos, OK? meu coracao!!! nao chora nao, vc eh otima, batuta (giria antiga como eu) um doce... te falo de coracao: amamos tua alma...vai em frente..continue forte..eh so um momento, tudo passa e tudo tem que se assim mesmo.. aprendemos..e...lembre-se do nosso lindissimo FERNANDO:..."tudo vale a pena se a alma nao eu pequena"...linda PESSOA...beijos

Bia disse...

Carrie, querida. Uma coisa de cada vez. Um dia de cada vez. Se a crise vem braba, larga tudo pra lá um tantinho que for, e cuida dessa mente. Pq, se ela parar, já era. E ela precisa descansar, ngm é de ferro. Não ver paisagem pelo caminho é dificil mesmo, mas com uma passagem tão cara, eu tenho certeza de q o lugar final vai valer a pena. E se não valer, vc descobre uma trilha e vai pra outro lugar. O negócio é nunca parar de procurar. O lugar que valha a pena. E vc tá mto nova ainda, nem preciso dizer isso. Vários lugares e caminhos para descobrir.
Muita força aí pra vc. Estamos todas aqui te acompanhando e torcendo muito pra esse coraçãozinho se acalmar.
Um mega beijo!

Lenissa disse...

"Nada é permanente nesse mundo cruel - nemmesmo nossos problemas" - Tudo bem que ele era um palhaço, mas essa aí tá valendo...
Carrie, fazendo o favor... vc pode me enviar seu e-mail (que vc recebe e-mails) please? Queria te escrever, mas não pra todo mundo ver assim desse jeito menina! O meu e-mail é lenissa@terra.com.br (personalizado!) Beijos

Carrie, a Estranha disse...

Ana,

"Acho que fumei um treco inteiro desses fumos de rolo. Detalhe: eu nem fumo!". Hahahaha...bateu recordes, essa! Te mandei um e-mail. Veja se chegou.

Hetie,


�oooohhh!!! Muito velha vc! At� parece! Como se essas crises tivessem idade! Ah, vc � sempre um docinho! N�o tenho palavras!

Lenissa,

Tb te mandei um e-mail. Veja se chegou.

Bjs

raquel winter kreischer disse...

Oi,
antes de mais nada, obrigada pelo link ali no strange people.
Olha só, conheço bem a sensação. tenho filho e gatos, mas sou completamente solteira, e tenho todas as atribulações, aporrinhações e deveres da vida de casada, sem nenhuma das vantagens; E me dizem "você é solteira, pode curtir por aí, ficar com quem você quiser". Como assim, bial? com quem mesmo?
O caso é que como diria John: a vida é o que acontece com a gente enquanto a gente fica por aí fazendo planos. Eu fico aqui pensando que devia ter começado no meu atual trabalho 10 anos antes e agora não estaria 10 anos atrás de uma promoção inexistente, ou que devia ter ido embora do país quando ainda era sem filho e tal, será que adianta a gente ficar especulando o que seria?
Eu acho que a gente tem que pensar no que é, e descobrir onde é que a gente se sente mais em casa: eu aqui humildemente acho que você é uma puta escritora. Na boa. Aposta nisso aí, vai? você pode. tudo de bom pra você.

Mariana Bueno disse...

Oi Carrie! Te leio há alguns meses, vinda do blog da Ticcia. Lá nunca comentei, embora seja super fã. Aqui é a primeira vez, suas palavras me comoveram a esse ponto. Eu poderia dizer que me sinto como você ou te dizer oq faço pra me sentir melhor. Mas acho que melhor do que uma resposta minha, é citar você mesma. Leia as suas próprias palavras em "A semente da mostarda" - Quinta-feira, Fevereiro 08, 2007 - e veja como a sua vida tem vários pontos a serem comemorados. Afinal, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é, mas você pode dar mais atenção para as dores ou escolher olhar com mais carinho as suas delícias! Beijo grande, Mari.

Ps: Tb estou torcendo pelo seu Doutorado, pelo seu regime, pelo seu cabelo, por um futuro grande amor. Mas acima de tudo, pelo futuro grande amor que você um dia sentirá por si mesma. E que eu tb desejo pra mim.

Carrie, a Estranha disse...

Oi, Raquel!

Nossa! E eu achando q vc era "pequenininha"! Rsrsrs...

É. POis é.

Mariana Bueno,

Muito obrigada pelas gentis palavras. Que bom q isso fez vc comentar. Sempre fico muito feliz com qdo as pessoas comentam, ainda mais qdo é uma "nova" pessoa.

É, eu concordo com isso q eu disse. Mas é q a gente nem sempre é coerente.

Muito obrigada pelos desejos! Amém!

Bjs