terça-feira, fevereiro 19, 2008

Minissérie: crítica


A minissérie que estreou agora na Globo, “Queridos amigos” é sobre os anos 80. Quer dizer, é passada em 1989, mas volta o tempo todo a fatos de 1982 e dos anos 70. É a terceira minissérie centrada em uma década (as anteriores foram as ótimas Anos Dourados e Anos Rebeldes). Ainda não sei o que dizer sobre.

Originalmente escrita por Maria Adelaide Amaral foi adaptada para a TV. Aqui está o blog da minissérie com todas as informações técnicas.

Essa é sua primeira grande falha: ela continua literária demais para televisão. É como se os atores não estivessem à vontade em dizer os textos. Eles engasgam. Os tempos estão equivocados.

A trama é basicamente o seguinte: grupo de amigos afastados pelo tempo se reúne mediante o pretexto de uma festa, dada por Leo (Dan Stulbach). Leo está com uma doença terminal, mas o único que sabe é o personagem do Tarcisinho. Há o núcleo presos políticos, que foram torturados pela ditadura e viveram no exílio um tempo. Há os ressentimentos, como em toda a turma que se reencontra. Mas a segunda coisa que me incomodou foi: o saudosismo. Eu não sou contra a saudade, entendam. Mas sou contra esse sentimento de “no meu tempo tudo era melhor”. Primeiro que eu acho que o tempo de todo mundo é hoje (não só o do Paulinho da Viola). Segundo que, alowwww, não era essa maravilha toda, não. Logo que veio essa onda ploc eu vi pessoas falando absurdos do tipo “não tinha violência no Rio” e “éramos mais inocentes”. E a inflação? E os planos econômicos malucos todos os semestres? E a pressão de ainda viver um governo eleito indiretamente, com todos os resquícios da ditadura? Então, na boa: não me venham com ilusões biográficas (Bourdieu, esqueci o ano) sobre como-era-verde-o-meu-vale. Não era, não. O que era verde era você. Todo mundo era mais jovem. E as pessoas têm essa estranha mania de acharem que o seu tempo é de quando eram jovens e que tudo era melhor na juventude. Tenho centenas de memórias maravilhosas dos anos 80, afinal foi a minha infância. Mas sem delírio. Se não daqui a pouco a gente vai ver uma minissérie louvando os anos 00, de que como eram tranqüilos, o povo vivia bem e tudo era melhor – e eu me lembro nos anos 80 das pessoas dizendo que “os anos 70 é que eram os anos bons, as pessoas pensavam coletivamente...blablabla...”.


O elenco da minissérie. Provavelmente eu vou levar pedradas ao falar isso, mas vamos lá. Estamos aqui pra isso mesmo. Eu acho que não existe ator brasileiro. Todos os bons atores brasileiros são bons em serem eles mesmos. Não sei se vocês já tiveram a sensação de conversarem com pessoas que são maus atores de si mesmo. Não estou falando de atores profissionais, estou falando de pessoas que têm outras profissões, mas que parecem tão pouco à vontade com a sua própria vida, tentando ser uma coisa que elas não são, que parecem interpretando pessimamente o papel de si mesmas. Tudo soa falso. Tem gente que é canastrona ou insossa no próprio papel. Pois é. Eu acho que os bons atores brasileiros são simplesmente pessoas que sabem fazer bem o papel deles mesmos. E nessa minissérie temos alguns exemplos. Que provavelmente vocês não vão concordar. O primeiro deles: Dan Stulbach. Toda hora eu achava que ele ia pegar uma raquete se tênis e sair porrando quem estivesse pelo seu caminho (o primeiro grande personagem dele na TV foi o ex-marido da Helena Ranaldi que batia nela). Outro: Matheus Nachtargale. Até pela limitação do tipo físico dele, é sempre a mesma coisa. Muito bem feita, mas a mesma coisa. Gosto do cara que faz o Pingo (Joelson Medeiros) e já tinha feito a novela do Manoel Carlos - mas pode ser que eu o ache bom só porque ele ainda não fez muita coisa na TV.

Das mulheres: gosto muito da Débora Bloch e da Drica Moraes (mais dessa última). Acho que podem fazer grandes papéis na minissérie. Denise Fraga faz todos os quadros dela do Fantástico. E ainda por cima sua personagem é duas coisas que eu acho um saco: ex-torturada política (e que acena com essa bandeira o tempo todo) a astróloga – não por acaso duas grandes teorias que procuram explicar o mundo pela totalidade, o marxismo e a astrologia, mas deixa pra lá. Ela e o Dan Stulbach estão dois tons além do elenco (no mau sentido).

A minissérie tem dois caminhos. Um é se centrar nas tramas da amizade, do que foi feito de cada um e até que ponto vale à pena voltar a ser o que se era – ou até que ponto se quer isso. Acredito que eles sigam por aí e, ao meu ver, é bem mais interessante. A outra, empobrecedora, é ficar nesse clima de “éramos uma promessa e hoje uma realidade de fracasso”. É muito fácil ser promessa. Aos 18 todo mundo é promessa.


Out of topic (pero no mucho):


PS1: Estava revendo Alpha Dog sábado e vi que o começo do filme é idêntico ao Meu nome não é Jonhy: imagens de criancinhas inocentes em Super 8. E o nome dos personagens também são os mesmos: Jonhy Truelove e Jonhy.


PS2: E hoje Formiga Irmã revia Laranja Mecânica. Que é um filme dos anos 70, sobre um livro de 1962, passado no longínquo ano de 2007, onde jovens amantes de Beethoven se divertem espancando, estuprando e matando pessoas. Só erraram em uma coisa: os jovens de hoje em dia acham que Beethoven é título de filme sobre cachorro de Sessão da Tarde.

E, não, isso não é uma contradição ao que escrevi antes. Apenas a história não é linear, mas dialética.

14 comentários:

Egídio La Pasta Jr disse...

Carrie, morri de rir quando você fala do Dan e da raquete de tênis. Acho que tua teoria sobre os atores é muito boa. E ela se aplica não só aos atores brasileiros. Acho também que ela é válida pro cinema e pra tv. No teatro, precisa um pouco mais. O jogo ali é um pouco diferente. Em relação aos queridos amigos, eu gostei muito. O texto é bem equilibrado, ela parece driblar os excessos dos temas, pelo menos no capítulo de hoje. Não sei se ando um bobão - eu chorei com Lost, você tem noção do que é isso? - mas me deu um nó Acho que pela idéia do reencontro. A nostalgia da época. Um time de pessoas que se interpretam de forma quase sempre fantástica. Eles conseguiram reunir ali uma geração de atores muito muito bons. me deu um nó, sabe, Carrie. acho que porque todos nós tivemos e teremos os nossos grupos de velhos amigos. e é impossível você não resgatar os seus, a sua patota, os teus amigos perdidos, partidos, gente que era tão forte e só porque a vida é foda, foi perdendo a cor, foi se perdendo de ti... enfim, baby, eu ando lendo você em silêncio. mas hoje eu vim te dizer isso. adoro teu humor e tua ironia inteligente. eu gosto muito de alphadog, inclusive acho que a cena da entrevista da sharon stone no final, revela uma atriz absurdamente trágica. ela foi minha coadjuvante do ano passado. beijos beijos beijos e perdoe pelo comentário gigante.

Trinity disse...

Aquele vídeo clichê que a gente tem que ver no primeiro período de comunicação, e que o Biáááál dublou pra piorar, tem uma frase legal, que eu tô com preguiça de procurar, mas mais ou menos fala que algumas coisas vão sempre ser verdade, não mudam. Mas vc sempre vai achar que antigamente era melhor. Eu também detesto saudosismo nesse sentido, principalmente quando esses vovôs falam da desumanização das relações com o advento da internet. Blergh.

Enfim, quero muito comprar essa série quando sair o dvd. Só pra matar saudade mesmo.

Bjo, miguxa.

Robs disse...

Oi, Carrie. Notei que há algo em comum entre o último post e este. Sei lá, fez esse sentido para mim. Bom, é a primeira vez que comento aqui, mas eu sempre tô lendo. Bjs

Bia disse...

Nossa, eu achei a mesmíssima coisa dos atores não estarem à vontade com os textos. Fica uma coisa automática, estranha. Faltou emoção, faltou entrar mesmo na historia, entrosamento, não sei. Mas faço questão de assistir essa minissérie até o fim, pq, bem, esse tema mexe mesmo comigo. E me entristece tanto ver que perdemos tanta vida pelo caminho pq levamos tudo a sério demais às vezes.

ah, e eu gosto muito do Bruno Garcia.

E eu preciso assistir Laranja Mecânica.

Anônimo disse...

bom, nem vi, então não dá para opinar. mas tb acho mto estranho essa coisa das pessoas falarem "no meu tempo", como se elas estivessem mortas e passando uma comunicção do além relatando como eram as coisas eqto estavam vivas. no minimo, mórbido... tb sempre entendi o tempo da pessoa eqto ela está viva.. blá, vai entender...
qdo vem aqui? durante a semana o máximo q rola é um almocinho pq tenho q ir pro trabalho umas 3.15 mais ou menos... veja aí sua agenda.
bjks

raquel winter kreischer disse...

Eu não consigo ver o Dan Stulbach sem enxergar o Tom Hanks. Separados no nacimento.
Não assisto minissérie embora já tenha participado da equipe de alugumas (cenografia) porque passa muito tarde para nós trabalhadores braçais que temos que acordar 6 da manhã. tem que ser tão tarde? eu por mim abolia essa história de 3 novelas. chega. num guento mais....aaaarrrrhghhhh. vou ser mandada embora, hehehe

Carrie, a Estranha disse...

Oi, Gigio!

Obrigada, meu lindo! Bom saber q vc está por aqui!

É, eu sou meio azedinha pra falar dos atores brasileiros (só dos atores brasileiros? hahahaha). deve ser por isso q desisti da "carreira". Senso crítico além da conta.

Sem dúvida eles reuniram uma grande geração de atores ali. E isso é o mais triste. pensar q, por mais q tenham defeitos - muito, a meu ver - são os melhores.

Faça comentários mega gigantes! Sim! Adoro!

Ana,

Não tô ligada em qual vídeo é, não.

Robs,

Bem-vindo aos comentários!

É? Em que sentido?

Bia,

Sei lá, pode ser q melhore, né? Ou não, já q eua cho q é tudo gravado de uma vez.

Ai, eu detesto o Bruno Garcia com aquele humor novela das sete dem sempre dele.

Bella,

Qdo chegar aí te ligo.

Bjs a todos

Daniela disse...

Carrie, eu senti um certo desconforto também. A série está didática demais pro meu gosto. Eu gosto do Dan e tive a mesma sensação também. Ele tem um programa na radio CBN às sextas-feiras que é bem bacana.
Algo me incomodou: não me lembro de tanta gente com jeito de riponga no final dos 80. Ou será que era muito nova para lembrar? O Bruno Garcia tá parecendo integrante dos Los Hermanos.
O ponto positivo para mim foi ver atores "de verdade" em cena. De verdade= gente como a gente, sem botox demais, sem dentes fosforescentes demais e por aí vai.
Beijo

Tati Tatuada disse...

Queria eu não ser uma proletária para poder assistir essa mini série dos anos 80.
Terei que esperar o lançamento em DVD.
Beijos.
Tati Tatuada

Robs disse...

Carrie, no sentido das escolhas que fazemos, do que somos e do que queríamos ser. Bjs ;)

Helen disse...

Carrie, assisti Alpha Dog recentemente e tive a mesma impressão! Gostei muito do filme, ainda nem cheguei a comentar no blog, pela incoerência entre os sentimentos dos caras e a estupidez que cometem em nome de uma carreira (e mto mais).

E me diz se o caderno de notícias não é puro Singing in the Rain, do Laranja?

beijo!

mim disse...

Se não viu este filme, recomendo:
http://www.imdb.com/title/tt0105130/

A história é a de um personagem à beira da morte que reúne os amigos para um fim de semana (coincidentemente, o ano novo) blá-blá-blá - e, cá pra nós, o elenco é muuuuuuito melhor.
Beijocas

Karina disse...

Carrie, não é q tbém sempre penso nas raquetadas qdo vejo o Dan Stulbach? :)
Assisti um trecho do 1o capítulo, mas confesso q não me senti animada a ver o resto, mas como o sono profundo anda tomando conta do meu tempo disponível, nem me arrisquei a falar se gostei ou não. Gostaria de ler o livro, pois acredito q vou gostar.
Eu sou bastante saudosista, mas com moderação. Criei o blog exatamente pra resgatar lembranças do tempo q morava em Minas, mas não acho q tenha sido a melhor época da minha vida. Há muita coisa boa pra lembrar, mas essa lembrança não pode tomar conta do nosso presente.
Bjks carinhosas

vera maria disse...

egidio, seu post está ótimo, concordo com quase tudo. carrie, vc pode imaginar o al pacino fazendo qualquer (eu disse qualquer) personagem sem arregalar aqueles olhões? pois então, e o denzel washington mordendo o beicinho em quase todo filme,só agora n'O gângster notei que ele deu uma parada no vício. Enfim, isso tudo pra dizer que acho injusta a observação sobre os atores brasileiros no particular, mas não no geral. Tb acho a maioria lixo completo, como quase tudo que sai da globo (bbb principlamente, e claro que sei que vc ama e tem todo o direito de amar o que quiser, até pq tem senso crítico extremado), mas alguns atores são muito bons, o matheus, por exemplo, com aquela cara e altura ele consegue fazer trabalhos maravilhosos e convencer! o selton melo é muito bom, na verdade, acho o máximo o selton, desde lavoura arcaica acompanho o trabalho dele e só admiro mais. enfim, enfim...
beijo, ao trabalho,
clara lopez