domingo, março 11, 2007

Na onda século XIX...




Para encher um vazio
Ponha de volta Aquilo que o causou.
Baldado cobri-lo
Com outra coisa – sua boca vai mais se
escancarar –
Não se pode soldar o abismo
Com ar.

(Emily Dickinson. Trad: Aíla de Oliveira Gomes)



Esses dias entrei em contato com a obra de uma poetisa que me deixou profundamente impressionada: Emily Dickinson. Conhecia-a apenas de nome, nada sabendo de sua vida e de seus poemas. Confesso que o que me chamou a atenção, a princípio, foi a sua história de vida. Porque eu adoro fofoca e especulações. E porque eu gosto de trajetórias estranhas.

A Bela de Amherst, como ficou conhecida em função de ter nascido na cidade de mesmo nome, no estado de Massachussets, EUA, teve uma vida reclusa e de poucas, porém intensas relações. Nunca publicou nada em vida – apenas 7 poemas, à sua revelia, anonimamente – mas após a sua morte, quando a irmã vai limpar o seu quarto, descobre cerca de 1800 poemas guardados. A poetisa é considerada, hoje, um dos maiores nomes da poesia moderna norte americana, tendo preconizado, inclusive, vários traços do modernismo.

Vamos às fofocas e detalhes sórdidos, então.

II

Emily nasceu em 10 de dezembro do 1830 (século XIX, né gente? Ouuutra coisa). Filha de uma família abastada e extremamente conservadora, estudou nos melhores colégios. Após concluir os estudos, volta para sua casa para cuidar dos pais. Assim como sua irmã, Lavínia – Vinnie – nunca se casou.

Passado um pouco dos trinta anos se refugiou em sua casa, no seu quarto especificamente, e nunca mais saiu de lá. Sua melhor amiga, Susan Gilbert, casa-se com seu irmão Austin Dickinson. Além da estreita amizade e do parentesco agora consolidado passam a ser também vizinhas. As duas casas – a de Emily, chamada de The Homestead e a de Susan, The Evergreens - abrigam o que se transformou no museu da poetisa hoje em dia. A Evergreens conservou-se exatamente igual, incluindo o interior. Casinhas fofas no melhor estilo norte-americano do século XIX.

Com Susan manteve intensa e apaixonada correspondência e reza a lenda que teria escrito algumas poesias mais calientes pra ela. O irmão teria apagado o nome de Susan de alguns poemas antes de publicá-los. Pois é. Dizem que a moça era lésbica ou bissexual, havendo poucas chances dela ter concretizado algo de fato – século XIX, moçada, uma das regiões mais puritanas dos EUA.

Adjetivos como Grande Reclusa, excêntrica, estranha e até mesmo um diagnóstico de agorafobia são encontrados na trajetória de Emily – mas convenhamos que se você é um solteirona do século XIX de uma cidade do interior lhe sobram poucas opções, concorda leitor? A exceção se faz a pequenas viagens à Filadélfia, Boston e Washington, para cuidar de problemas de saúde. Dizem que numa dessas viagens teria conhecido o clérigo Charles Wadsworth, que teria sido o alvo de alguns poemas. Samuel Bowles, um editor de jornal e Otis Lord, um amigo de seu pai também são outras especulações sobre os possíveis affairs da moçoila. Assim como no caso de Susan, nada fica realmente provado.

Seu estilo é classificado como complexo, metafísico, lírico e inovador na forma. Extremamente melódica e ritmada, sua poesia foi musicada algumas vezes e representa enorme desafio para todos aqueles que se aventurem na sua tradução. Entre os que já se aventuraram no árduo trabalho está Manuel Bandeira. Já foi comparada a William Blake e devedora do século XVII. Sua poesia não era exatamente o que esperavam de poesias de moças do século XIX.

O medíocre crítico literário Thomas Higginson - que tentará burilar o estilo de Emily quando esta o procura ainda em vida para publicar seus poemas - e Mabel Todd - uma editora obscura que freqüentava a casa das irmãs Dickinson - serão procurados por Lavínia após a morte da irmã e tornar-se-ão os responsáveis pela obra da moça.

Falece em 15 de maio de 1886, na mesma cidade na qual viveu a vida toda. À parte todas as ilusões biográficas que fazem parte da vida de todos, uma história de vida fascinante. Se pegou a cunhada ou não, se comeu o clérigo ou não, isso não diz nada sobre o trabalho dela. O mais interessante é a trajetória de alguém ambígua, excêntrica, densa e prolífica. De uma estranha, como qualquer um de nós.

6 comentários:

Anônimo disse...

História bacana, adorei!
Bjs, Vv

Anônimo disse...

adorei o post. me interessei mto pela Emily Dickinson!

P.S.: "i wanna be a faquir" é o melhor marcador de posts ever!

Carrie, a Estranha disse...

Bibi,

Sabia q vc ia gostar!

Rê,

Meu marcador preferido é o "Eu lírico (eu quem?)". Hahahaha...Sou uma pândega! Sou a pessoa q mais ri das minhas piadas!

Bjs

Anônimo disse...

carrie, eu adoro emily dickinson e tenho algumas coisas dela em algum lugar da minha casa! hehehe! anyway, se vc quiser eu te mando mas tá td em inglês, serve??
só fui descobri-la qdo tava na facul e amei!

Carrie, a Estranha disse...

Bella,

Obrigada, mas não precisa. Tem um site q tem a obra completa dela em inglês. E saiu uma nova edição bilíngue da obra dela. Não me lembro quem é o tradutor, mas parece ser legal.
Valeu pela gentileza!

E aí qdo vamos comer bolo na Cris? Tenho q me programar com muuuita antecedência, poupar todos os meus pontos flex da semana para esta data.

Anônimo disse...

Hahhaa!! Tb vou ter q fazer uma dietinha pq freqüentar a casa da Cris só me fez engordar!
Vou falar com ela sobre o encontro.
Bjks