sábado, março 03, 2007

From hell - parte IV

Lá dentro:

Ao adentrarmos o recinto, Gisele já sentia a natureza chamando. Fila quilométrica. Qualquer projeto de beber cerveja que eu poderia ter foi sepultado naquele exato momento. Pensei em pedir um uísque cowboy, virar e desmaiar pra conseguir me livrar de tudo aquilo. Eu, Fló e Dani ficamos esperando próximas ao banheiro.

A abertura do show era do Mc Leozinho. Aquele que cantou com o Rei. Só então me dei conta de que a maioria dos homens estava sem camisa. Dessa maioria, todos – e quando eu digo todos eu digo T-O-D-O-S – eram super bombados e tinham o peito depilado. Todos. Nenhum sinal da mais rala penugem. Os caras eram mais depilados do que eu. Medo. ET, telefone, minha casa.

De cinco em cinco minutos eu achava que estava saindo porrada, mas eram apenas dois deles se cumprimentando. De vez em quando uma turma levantava um deles. Claro que todos estavam completamente suados e ao mínimo sinal de deslocamento você era contaminado por fluidos que eu prefiro acreditar serem apenas suor e saliva. As garotas eram um pouco mais variadas. Tinha a horda de louras habituais, mas tinham algumas morenas, também. O vestuário era, claro, aquele de sempre. Sainha, shortinho, vestidinho, qualquer coisa bem “inho”. Concluí que deveriam estar ali todos os candidatos reprovados pelo BBB. Mas, pelo andar da carruagem, eles tinham chances no ano que vem.

Horrorizada, resolvi relaxar. Não poderia beber, não poderia me divertir com a música, então resolvi rir. Primeiro curti um pouco os grandes hits funkeiros, como a melô da chapinha – ih! Choveu! Cabelo encolheu! – e outras pérolas envolvendo sabão em locais recônditos etc. Quando Gisele voltou com suas necessidades fisiológicas devidamente atendidas – umas duas horas depois – fomos pro fundo da Fundição, perto das janelas. Começou um grande bolão dentro de mim pra ver quanto tempo eu agüentaria naquele local.

Dona Henriqueta dava 50 que eu ia embora em uma hora (e logo puxou o tricô); Afonso, o nerd, apostou 50 que eu ia embora em meia hora; Priscila, a adolescente, disse que eu sairia em 15 minutos (e não pagou nada porque tava dura); Linda Blair apostou 100 na minha permanência por duas horas e que eu iria me atracar com um Pit Boy. Pollyanna e Padre Quevedo não foram.

Quando eu já estava curtindo os funks me começa uma porra de uma seqüência micaretense. Aprendi a fantástica coreografia do “Sou praieiroôô, sou guerreirôô, tô solteiroôô, quero mais o quê?”. De uma profundidade pungente. Praticamente um silogismo socrático. Sou praieiro, logo sou guerreiro, logo tô solteiro, logo quero mais o quê? Sim, claro! Como eu não pensei nisso antes?!!! O segredo da felicidade estava ali, simples, de forma clara e cristalina e eu perdendo tempo fazendo doutorado!! Ah, pára!

De repente vejo lágrimas escorrendo dos olhos de Gisele. De riso. Ao me ver fazer a coreografia com essa minha carinha simpática e bem humorada. Com a minha tez naturalmente de pessoa praiana. Eu devia ser a única pessoa naquele lugar de preto.

(Continua, claro, logo em cima)

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