sábado, novembro 25, 2006

Entre papéis, potes e Antônia


Já que ninguém levou a sério minha sugestão de me dar um kit-papelaria no meu aniversário, resolvi me dar. Comprei canetas coloridas, lápis, canetas marca-textos, corretivo, papel e mais uma ou outra bobagenzinha. Ni que eu tava pagando no caixa, chegou um cara dizendo que ele era a pessoa que tinha ligado pedindo “o material”. A mulher veio e trouxe um troço que, por mais que eu fincasse o olho, não consegui descobrir o que era. Fiquei pensando: eu queria ter uma dessas profissões, tipo arquiteto, que precisasse de materiais específicos, papéis, canetas especiais...


Minha boca enche d’água nas papelarias. Já falei sobre isso aqui. Adoro cheiro de papel, sentir as diferentes texturas...gosto de apalpar como se fossem legumes frescos, prontos a verter o suco da inspiração literária (perdão pela cafonice, mas não resisti). Tem um livro do Paul Auster chamado “Noite do Oráculo” em que o personagem é um escritor, morador do Brooklyn, em Nova York, que é seduzido por um caderno azul em uma papelaria que o faz voltar a escrever após um grande período de convalescença. O Veríssimo também tem uma crônica falando sobre isso: um caderno novo é a esperança de todo mau aluno em se tornar um bom. Tudo podemos diante da página em branco. Acho que é isso que me move nas papelarias. Gosto da página em branco, do lápis recém apontado, da resma de papel, da tela em branco. De começos.


Na verdade eu queria ter nascido no século XIX e ser um daqueles escritores que tem um gabinete de trabalho, canetas tinteiro, monograma, selo pra fechar carta com as minhas iniciais...eu vivo cantando a minha tia Tatá pra ela me dar a caneta tinteiro do meu avô, mas ela diz que só quando ela morrer (mas ela bem deu o pincel de barba para Primo Poeta que eu sei!). Já pensaram? Mandar mensagens de manhã, numa bandeja de prata. Receber depois do almoço a resposta...este mundo (este, que nós estamos) definitivamente não me pertence.


Mas voltando a realidade, depois passei na Casa & Vídeo, pra comprar umas coisinhas. Claro que lá dentro lembrei de mais meia dúzia de outras coisinhas. A Casa & Vídeo me traz conforto espiritual. Também já falei disso aqui (ai, tô tão repetitiva...). É bom saber, pelo menos por alguns minutos, que tudo tem um lugar para ser guardado. Seria bom se a vida também fosse assim. Se eu pudesse comprar diferentes caixinhas, potinhos e potões e colocasse etiquetas neles “amores mal resolvidos”, “frustrações”, “amigos que já não são amigos, mas não sei o que fazer com eles”, “sentimentos indefinidos”, “pessoas chatas”, “diversos”.

Tô eu na fila, divagando sobre a metafísica do tapeware, quando vejo um cartaz: “Atleta do mês: Amanda”. Fiquei pensando se isso era mais uma da terminologia da reengenharia empresarial moderna ou se a Casa & Vídeo agora promove competições. Não satisfeitos em oprimir o proletariado, será que agora eles obrigam os coitados a participarem de eventos sociais do tipo maratona? Cara, é por isso que eu fui demitida. Não tenho o espírito de equipe. Não visto a camisa. Esse mundo, definitivamente...bom, vocês sabem.


E tô aqui vendo Antônia, série da Globo. É boa. Boa, não, excelente. Também... É roteiro de Jorge Furtado. É O2 produções. Logo vi. Ainda que parta de uma idéia etnocentrista sobre o que a burguesia espera da cultura popular – negonas, misto de Byoncé e Mariah Carey - e não o que ele é – Deises Tigronas e Tatis Quebra Barraco – é muito bom. Mesmo porque a cultura popular também é rap paulista. E também é funk carioca. E mais um monte de coisas.


E eu sempre me comovo com essas histórias de jovens-artistas-que-vencem-todas-as-dificuldades-pra-fazer-arte. Porque eu realmente acredito que arte é a única coisa que ainda é capaz de salvar alguém. E olha que eu acredito em pouca coisa na vida, mas na arte eu acredito. Muito. Com força. E arte não é privilégio de poucos e nem supérfluo pra alguns. Arte é tão essencial quanto comer e beber. Desde a pré-história.


É como diz a musiquinha tema “Ôou. Antônia brilha. Antônia sou eu. Antônia é você”.


Hãn-han? Pegaram?

5 comentários:

Anônimo disse...

Carrie, eu amo escrever cartas. Tive uma namorada para a qual mandei 300 cartas de amor. :)
Ah, eu ganhei um puta presente de uma amiga minha: um apontador antigo, de ferro, grande, com um tambor giratório (qual tambor de revólver) para apontar seis tamanhos diferenes de lápis. Ele tem uma manivela de ferro que você vai girando e a medida que gira o lápis vai sendo apontado. :)

Anônimo disse...

Tb gosto mto de escrever cartas, mas depois do e-mail, quem ainda as manda? eu gostava mto de cadernos, canetas e papéis, até o ginásio; depois, no segundo grau, veio aquela hist. de apostilas pra lá e pra cá, e perdeu um pouco a graça; e na universidade então, que tinha que escrever tudo rápido, com letra horrível? eu tb gosto de todas essas coisinhas de papelaria, mas acabo não comprando,pq acho caro.Vc gosta de post-it?

Na parte dos potinhos e potões vc disse tudo,rsrsrs.
“Amigos que já não são amigos, mas não sei o que fazer com eles”, foi ótimo,rs.

Anônimo disse...

Só tenho 5 coisas para dizer:

- Amo papelaria (ai como é bom cheiro de lápis de cor!)

- Amo loja de coisas para casa (pode ser desde utilidades à decoração)

- Também amo caixinhas, potinhos e afins. (Acho que minha vida teria muitas caixas de Pandora)

- Odeio estas psicologias bobas de empresa, é um saco depois de uma semana estressante e cansativa você ainda ter que ir numa palestra sobre "responsabilidade no trabalho" em pleno sábado, por que se não ir pega mal.
Se trabalhar fosse legal ninguém precisaria ser pago para isso).

Anônimo disse...

Ops, foram 4 coisas, mas tudo bem.

A 5º coisa é que é muito bom encontrar pessoas que são como nós.
Assim a gente não se sente tão "estranho"

Carrie, a Estranha disse...

Celso,

Puxa, q legal! Taí uma coisa q eu gostaria de ter: um apontador antigo!
Eu escrevo cartas muito de vez em qdo. Só em ocasiões especiais, para pessoas especiais. Mas adoro bilhetinhos.

Jussara,

Sim, adoro post-its! E clips - coloridos, de todos os tamnhos... - e prendedores de páginas. Eu ainda uso bastante material escolar, do tipo q vc disse - tudo bem q eu compro mais do q preciso, mas uso. A maioria das coisas q eu preciso fazer pro doutorado eu faço no computador, mas antes disso gosto de riscar os livros, anotar coisas nas margens...
Qto aos cadernos, mesmo tendo blog eu ainda tenho diários! E tenho diferentes cadernos pra escrever várias coisas. Rsrsrs...como se ainda tivesse assunto! Mas certas coisas devem ser escritas pra realmente ninguém ler. E certas coisas devem ser escritas em papel. E guardadas em graaandes caixas, junto com agendas da adolescência, rosas velhas q a gente coloca dentro do caderno e mechas de cabelo (eu tenho tranças inteiras q um dia foram minhas)

Ila,

Sim, lapis de cor é tudo! E giz de cera? Gente, às vezes eu acho q eu deveria ser professora de primário! Simplesmente amo esses cheirinhos!

Tb é muito bom encontrar leitores tão fiéis qto vcs! Tb me sinto como se não estivesse tão "estranha".

Bjs