Como todo gato que se preze, Rôbo teve 7 vidas e gozou cada uma delas. Logo bebê foi fazer um passeio à casa dos avós em Gotham City e entrou debaixo da máquina de lavar e não conseguia sair. Foi preciso Rimão do Meio virar a máquina e desmontá-la , para, enfim, achar o travesso aninhado entre as engrenagens. Mais velho um pouco, caiu do terceiro andar. E de novo. E de novo. Sobreviveu a três quedas do terceiro andar - o apartamento da minha irmã nunca foi telado e com o tempo ele passou a conseguir controlar seus impulsos suicidas - parece que o siamês é particularmente mais suicida que as outras raças.
Gato de apatamento, certa vez passou férias em Cabo Frio, na então casa de Único Cunhado. Achou que era selvagem. Sumia durante o dia e às vezes até durante a noite. Chegava de manhã, todo arranhado, folhas no pelo. Seu filho, Carnaval, que era de Único Cunhado (que deu este nome para que, pelo menos assim, tivesse Carnaval o ano ineiro), ainda uma criança, andava pela casa enquanto pensava na crise de meia idade do pai, indo atrás de gatinhas novas e aventuras fulgazes. Por fim resolveram amarrar uma coleira de uns 50 metros no pescoço de Rôbo, para que ele pudesse aproveitar a vida de um gato livre, sem se perder. Deve ter sido zoado pelos amigos até a morte, coitado.
Aliás, em tempos pré-internet, Único Cunhado fazia as vezes de agenciador de felinos. Botava anúncio procurando parceiras e depois levava Rôbo ao local. De uma dessas noites de aventura nasceu Carnaval. Que era um gatão enorme, mas morreu cedo. Único Cunhado acha que ele teve AIDS felina, mas na época não diagnosticavam. Pergunta de Formiga Irmã: "mas ele era promíscuo?". "Não" - respondi. "Compartilhava seringas" - e logo imaginei o siamês com uma seringa na patinha, desfalecido no sofá de casa.
Rôbo era extremamente carinhoso. Adorava calça jeans. Bastava alguém chegar de calça jeans ele logo se aninhava sem a menor cerimônia, gravando as unhas no tecido. Às vezes Formiga Irmã passava dias fora de casa e quando voltava ele havia protestado defecando em locais totalmente heterodoxos. Ele não usava areiazinha. Sempre foi só jornal.
Eu adorava botar ele no chão e quando ele se esticava todo eu o rodava num looping de 360 graus. Formiga Irmã apertava-o até ele soltar um gemidinho. Também gostava de apertar a patinha dele, naquela junçãozinha mole.
Rôbo já saiu até no jornal. Certa vez Formiga Sênior foi dar entrevista sobre a tese dele e lá estava Rôbo, no Caderno B do Jornal do Brasil. Companheirão.
Mas de toda essa história, o que eu queria contar mesmo - e suscitou todas essas lembranças - foi a esclerose de Rôbo. Ele foi tendo tipo um Alzheimer no fim da vida. Minha irmã se mudou pra um apartamento térreo e ele deu pra sumir. Só que como todo gato - que tem uma super noção espacial - Rôbo passou a esquecer o endereço de casa. Que nem esses velhinhos mesmo. Daí ele era entregue na porta da casa por algum bebum local que já sabia de onde ele era. Fiquei imaginando ele querendo pegar ônibus pra outro lugar, que nem essas histórias que a gente escuta.
O ápice foi o dia em que, durante um temporal, Rôbo quedou-se estaticamente no lado de fora de casa. Minha irmã chamava: "vem, Rôbo! vem!". E Rôbo impassível, deixava-se encharcar pela chuva. Pra um gato se deixar molhar vocês podem imaginar como ele devia estar. O que me deixou insone esses dias: o que pensam os gatos esclerosados? Que são peixes? Latem?
Eis que uma bela manhã Rôbo despediu-se de minha irmã. Foi-se. Seus restos mortais repousam no quintal de Formiga Sênior e Único Cunhado, assim como as cinzas de vários tios de UC.
Rôbo agora provavelmente anda pelo céu dos gatos. Onde certamente deve alcançar todos os muros de primeira.
(Este foi um post programado antes da minha viagem)
8 comentários:
Poxa C., fiquei triste...lembrei dos 2 gatos q eu tive, q já partiram tb.Mas realm os bichanos dão um brilho mt especial à vida.
Um dia me animo e escrevo sobre eles também.
Qt à esclerose, que teve foi a cachorrinha da minha tia (sem cacofonia, please), que véinha ainda ficou cega e vivia ficando presa entre o sofá, ou atrás do fogão, rs.
Own..adoro gatos..sempre achei que elas foram criados pela natureza como uma ode à nobreza e elegância...nuca descuidados, nem desleixados ou esparramados como os cães. Sempre limpos e elegantemente portados...e ainda têm aquele olhar que nos atravessa...Nunca os criei...minha mãe sempre ameaçou jogar o pobre bichano pela janela...depois de mim, é claro...Na casa de minha avó nasceram 5...um deles se esconde para saltar sobre os desavisados...a coisa mais linda! E ele ainda olha de vez em quando pra ver se vem alguém..rs...
Post perfeito para meu dia (minha rottweiler companheira de 15 anos "começa" a partir).
Eu também adoro apertar aquela junçãozinha mole da patinha!!!
Queremos foto do Robocat!
Queremos posts de viagem! Queremos posts de viagem! Queremos posts de viagem!... Urgentemente! Depois disso, aproveite, querida.
bjs
Vini
com certeza ele está no céu dos gatinhos, mas preciso te dizer que ROLEI de rir com asua resposta: compartilha seringas! Vc é genial!
Hmmm seria este o verdadeiro gato-robô??? hehe
http://noticias.terra.com.br/ciencia/noticias/0,,OI4226063-EI8145,00-Gatorobo+da+Inglaterra+tem+protese+de+joelho+do+mundo.html
Post liiiindo. De chorar de rir e de tristeza.
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