quinta-feira, outubro 09, 2008

Novas cores

Acabo de deparar-me com os primeiros fios de cabelo branco. Não é que antes eu nunca achara nenhum. Já tinha achado – aliás, é sempre Formiga Irmã quem acha – um ou outro cabelo branco perdido. Mas eram casos isolados. Hoje eu achei dois de um lado e uns dois de outro. Dois pares.
Tinha acabado de almoçar e estava no banheiro da universidade, escovando os dentes e passando batom. Hoje eu coloquei duas piranhinhas, que eu costumo usar, uma de cada lado, puxando o cabelo pra trás, de forma que os cabelinhos das têmporas fiquem visíveis (aquele cabelinho novo que nasce onde se formam as “entradas”). Os vi ali, no meio do cabelo preto e dos dois dedos de cabelo castanho que nascem sem tinta. Ali, parados no meio do nada, pareciam bebês recém nascidos, meio sem lugar, olhando o mundo assustados, ainda tentando se acostumar ao mundo. E eu, como uma mãe de primeira viagem, me pus a investigar a natureza deles, como uma mãe examina pela primeira vez o seu filho. Mútuo reconhecimento.

Cabelos brancos não são sinal de velhice, necessariamente. Minha amiga Fló tem cabelos brancos desde os 18 anos e Formiga Irmã e Irmão Engenheiro também os têm desde os 25 anos, mais ou menos – eles têm cabelos espessos, escuros e ondulados; já eu, Formiga Sênior e Rimão do Meio temos cabelos mais finos, lisos e uma poucos mais claros (e que demoram a branquear. Formiga Sênior, apesar de Sênior, tem muito menos cabelos brancos que Formiga Irmã. Esta, como todos sabemos, dorme em um sarcófago de formol, repulsivo hábito que a conserva com a tez aveludada e que é responsável pela inconveniente pergunta: “quem é mais velha, você ou ela?” ao que eu sempre faço questão de responder. “Ela. Só dez anos mais velha que eu”. Que na verdade são 9, mas eu gosto de deixar o interlocutor sem graça).

Mas então. Voltando aos cabelos brancos. Examinei meus novos amigos com curiosidade, assim como eles me devolviam o olhar. Dois estranhos de (re)conhecendo. Desde quando estariam ali? Pelo tamanho diminuto, eram recentes. Entretanto, talvez já estivessem há alguns dias e a boa luz do banheiro e o penteado que eu fizera propiciaram a visibilidade somente hoje. Se é que há, de fato, alguma relação entre preocupações e cabelos brancos, sem dúvida os preparativos e primeiras semanas de Nova York foram dignos de cabelos brancos. Pra sempre eu vou me lembrar que na primeira vez em que me deparei com cabelos brancos foi em Nova York. Como uma espécie de coroamento da minha vida adulta. Agora é que começa. Agora é que vai ficar realmente bom.

Num piscar de olhos imaginei a minha velhice. Rosto ceifado de rugas, porém ainda os mesmos olhos de quando eu era bebê e alguns mesmos pensamentos. Hoje eu reparava uma moça comprando café na minha frente e em como a pele dela era absolutamente perfeita, com todos os poros fechadinhos dando o famoso aspecto de pêssego. Nunca tive a pele assim. Nem com todas as maquiagens do mundo. Quando criança, talvez. Desde a adolescência onde meu corpo experimentou uma tempestade de hormônios – e ao que tudo indica não ficou muito feliz com isso – que minha pele, por mais bem tratada e sem espinhas que esteja tem sempre esse aspecto de poros dilatados. Alguns, completamente arreganhados, sem solução. Buracos negros. Que eu chamo de crateras. Outros mais discretos que eu melhoro com produtos. Mas sempre um certo alargamento generalizado (sim, eu conheço o NormaDerm da Vichy).

É, eu sei, só eu os vejo assim. Os “defeitos” sempre são maiores pra gente. Tive um namorado que dizia que era bonito meu rosto com essas pequenas marcas e cicatrizes. Eu também passei a achar. Fazem parte de quem eu sou. Sem-querer-soar-uma propaganda-da-Natura-mas-já-soando, as marcas são quem nós somos. São as marcas que nos diferenciam. Cada vez mais eu acho que os defeitos são o que de melhor temos. Por isso evito de falar de algumas pessoas nesse blog. Pessoas que eu não posso falar dos defeitos eu não falo. As pessoas são tudo junto: defeitos e qualidades. Não consigo tecer um retrato perfeito sem dizer também os defeitos. Não poupo nem a mim porque pouparia os outros?

Envelhecemos desde o primeiro dia de vida, eu sei. Estamos a cada segundo mais velhos. E isso é o que de melhor pode acontecer – do contrário é sinal de que você morreu. Lidamos com a morte todos os dias da nossa vida. A qualquer momento ela pode acontecer. Como um raio que corta um dia de céu azul. No entanto, é um susto cada vez que somos sacudidos com essa perspectiva ou qualquer aspecto dela.

Quando eu fiquei menstruada – com 11 anos – minha segunda reação foi chorar. A primeira foi fingir que não era comigo, até que a minha mãe disse “minha filha, eu acho que você ficou menstruada”. Isso porque mais cedo eu brincava de usar absorvente. Achava legal. Assim como eu achava legal me vestir com as roupas da minha mãe. Mas quando foi pra valer eu não gostei. Tanto que meu corpo explodiu em espinhas. O corpo fala, é a mais óbvia das verdades. E talvez eu chorasse porque na minha sabedoria infantil já soubesse que, mesmo com 11 anos, o tempo já cravava sua foice na minha jugular – mas ele o fizera, volto a dizer, desde o momento em que eu vim ao mundo.

Vendo esses pequenos, talvez ainda solitários fios de cabelos brancos, a um mês de fazer 32 anos, eu pensei: como é bom estar viva. Estranho. Mas bom. Cada vez mais eu aprendo a aceitar os fios brancos, as marcas, o estranho, o torto, o buraco (de celulite, da marca de espinha), as pequenas veias azuladas e arrebentadas, a pequena adiposidade na região abdominal (tão minha, tão infantil!) como o que me definem. Não só, mas também.


Claro que uns tratamentozinhos aqui e outros ali também não matam ninguém.

8 comentários:

Lenissa disse...

É cabelo branco é fueda... eu já ando às voltas com os meus. O pior é que sobrou pro meu pai... ele que já cortava meus cabelos na adolescência (corte reto que só exigia mão firme e obediência), agora expandiu seus serviços cabeleirísticos pra pintar minhas madeixas.... crês? Pois é na última visitinha a Porto Alegre botei o homi a pintar, ficou ótimo e custou 60,00 reais a menos. Agora é tratar de aprender a fazer solita.
Beijos e enquanto forem 4 não se preocupe tanto...

Vanessa Ornella disse...

Parabéns pelos fios brancos, Carrie. Eles aparentemente chegam no momento em que precisamos reconhecer nossa própria maturidade, nossas lutas e conquistas, nossos fracassos e dores. Os fios brancos servem para informar o interlocutor de que não somos mais moleques (portanto, respeitem meus cabelos brancos!).

Embora eu não tenha experiência na área (mas pressinto que terei em breve, afinal já tenho 36), eu aposto que seus fios maduros não ficarão magoados se um dia você resolver disfarçá-los em outro cor. O importante é que a gente saiba se reconhecer independente das tintas mentirosas do dia-a-dia, do rímel ao batom, passando pela tintura do cabelo e o escarlate das unhas.

Helena disse...

Carrie Maria!, Senil da Silva, lol, tenho poucos cabelos brancos no meu cabelo preto que nunca pintei. Sou virgem de pêlo :) quanto a todo o resto inerente ao desgaste dos anos, pois, já não posso dizer o mesmo. Carrego em mim quase quarenta anos bem vividos (e comidos e bebidos!). Gosto do carregamento, em geral.
Em especifico fico-me por aqui, bom fim-de-semana.

Helena disse...

Ah, aguardo os contos! Venham as "Folhas".

Carrie, a Estranha disse...

Oi Lenissa! QUE MÁXIMO! Pai que pinta cabelo! Eu é Fumiga Sister quem pinta! (qdo eu tava ruiva eu ia a salão, pq vermelho é difícil!).

Mas por enquanto ainda não é o caso de pintar (por causa disso, eu pinto pq eu gosto de mudar de cor).

Vanor,


Que lindo!

Ah é. Já pintei meu cabelo de tudo qto é cor, não vai ser agora q eu vou ter pudores!

Oi Helena!


Ih, eu já pintei de tudo qto é cor esse cabelinho! Rsrsrs...

Sim, assim q der eu termino o primeiro conto.

Bjs
Ah é.

Hetie & Claudio disse...

Carrie querida do coracao e meus queridos todos de comentarios: ter cabelos brancos (mesmo que sejam 2 ou quatro) na idade de voces eh maravilhoso...como o tio Ahze tem vindo me visitar constantemente nos ultimos tempos, nao me lembro se tinha cabelos brancos qdo eu tinha a idade de vcs...!!!!!!!!!!!!!
Ah, nem tudo esta perdido...consegui lembrar q nessa idade eu era loira, pq com essa idade tudo vai bem com a gente, tudo combina e sabedeusmaisque!...
Com a minha idade de hoje (que ate poderia ser mae da Helena se eu tivesse "comecado cedo)a coisa fica preta, ou melhor, branca...
Minha sorte e que puxei pelo meu lado paterno e nao tenho muitos cabelos brancos, embora ja me chamem de senhora e me cedem o lugar no onibus (aijesuscristinho)...
nao adianta muito ser jovem de espirito, pq o coitado pode ate dar cambalhotas, mas como a cara ja entrou na "lei da gravidade" agente corre o risco de ficar ridicula..
Todo esse meu comentario acima eh so para falar que, de certa forma, para mim, a chamada "maturidade" nao esta me fazendo muito bem!!!!
estou meio down, por causa dos cabelos brancos, da lei da gravidade, do meu desemprego (porque alem de estar ficando velha tb estou emburrecendo, ja q fui eu mesma q sai do meu trabalho ha 2 meses atras, num instante de diarreia cerebral e briguei no office..) e agora essa crise financeira esta fazendo as coisas ficarem um pouco dificeis para se conseguir um emprego novo...)
Well, desculpem...a Carrie disse que eu poderia desabafar...e de repente escrevi tudo isso...

Obrigada!
Bom, pelo menos agora as pessoas podem me chamar de vovo mesmo, ja que vou ser avo de verdade em Janeiro...
Gracas a d'eus ainda tenho a Carrie querida e seus amigos do coracao para escorregar num desabafo de vez em quando
Desculpem,
Beijos

Anônimo disse...

Amiga, qdo vi meus primeiros fios de cabelo branco, há menos de 6 meses, quase surtei, fiz minha cabelereira arrancá-los. Como se eles fossem uma ofensa e uma ameaça a minha juventude...uma sensação horrorosa! Hoje, continuo temendo-os, mas ao invés de arrancá-los, resolvi pintá-los.
Um dia sei que vou me orgulhar dos "meus cabelos brancos" poeticamente falando, mas aos trinta e poucos anos, tá doendo. Feliz minha irmã que começou a tê-los com 20 anos, nada que a mostrasse o que os meus tem me mostrado, que agora sim, vc não é mais nenhuma adolescente, mãos a obra minha amiga, agora a vida é pra valer.
Sim, eu estou em conflito com minha idade e meus cabelos brancos...tá dificil aceitá-los. Não ria de mim, nada que uma boa terapia não vá resolver...
Beijos e saudades

Carrie, a Estranha disse...

Hetie, minha querida...

Desabafe o qto quiser, sempre! A casa é sua! Duvido q vc esteja emburrecendo e q titio Alze (adorei!) esteja te visitando. São fases. Fases passam. Ok, menos a gravidade.

Dani,

Eu não sei se eu rio (tá bom, vc disse pra eu não rir...) ou se eu tento falar alguma coisa animadora (tb inútil). Cara...eu tô achando o máximo meus cabelos brancos! Rsrsrs...pena q eles são poucos ainda! Até cogitei ficar grisalha! Estilo velha maluca: cabelos grisalhos e longos! Hahahaha...Bom, mas como vc bem sabe, o problema não são os cabelos brancos, pois podemos tê-los em qualquer idade.

É isso.

Bjs