sexta-feira, agosto 01, 2008

Yesss, nós temos o visto.


Fiz minha entrevista ontem no consulado e consegui o visto. Mesmo estando com 99% de chance de conseguir eu confesso que rolou um nervosismo. Quanta pressão.

Pra começar eu, tolinha, achei que agora que as entrevistas são agendadas previamente não haveria filas. Rá rá. Mega fila na entrada. Rápida, mas fiquei uns 20 minutos a meia hora ali – isso porque eles mandaram chegar com meia hora de antecedência e eu cheguei com 40 minutos, porque eu sou louca.

A diversão já começou logo na fila, quando uma famosa atriz da novela das oito, cujo papel é de primeira dama de Triunfo, chegou ao local. Eu sou acostumada a ver pessoas famosas ao vivo (eu, não. Aqui no Rio isso acontece com freqüência) e sei que TV engana. Mas também sei que têm atrizes que são maravilhosas de qualquer jeito – como a Alinne Moraes que eu vi em um shopping da Barra, a Carolina Ferraz e tantas outras. Mas a primeira dama de Triunfo é exatamente o oposto. Nunca vi tamanho caso de propaganda enganosa. Tudo bem que às 8 da manhã ninguém é muito bonito, mas...até eu sou melhor às 8 da manhã. Pra começar houve uma conferência na fila entre várias pessoas: umas dizendo que era ela, sim, outras que não podia ser de jeito nenhum, que tava muito diferente e ainda outras que diziam que devia ser uma irmã. Eu, como reconheço até o primeiro elenco de figurantes da Malhação, disse com certeza que era ela. Magra eu já imaginava que ela fosse, afinal todas essas atrizes são mais magras ao vivo. Só que a mulher é um cadáver. Calça 36 deve ficar larga nela. E o rosto dela – que na TV parece ser largo – é fino. E o cabelo... Fiquei lembrando da propaganda que ela faz de um xampu anti-caspa, “vivo exposta a todos os olhares”. Realmente, caspa ela não tem.

Não, isso não é despeito. Eu amo gente magra. Se pudesse, se meu biótipo permitisse, queria pesar menos 20 quilos do que estou agora – mas como sei que isso é muuuuito esforço pra pessoinha gulosa que sou, me contento com 10 a menos (uma vez que já se foram 10). Então, não é que eu ache bacana mulheres cheinhas. Eu acho lindo mulheres esqueléticas, tábuas. Mas ela é além de qualquer padrão de magreza. Ela parece subnutrida. Moradora da Etiópia ou Biafra. O rosto dela é encovado. Os olhos saltam de tão fundos que estão. Que isso, cara. Sem condições.

Formiga Mãe ameaçou ir cumprimentá-la e eu ameacei sair da fila e desistir da bolsa caso ela cumprisse a promessa. Há limites, meus caros. Há limites.

Beleza. Lá fomos todos nós – eu, a Primeira Dama de Triunfo, o casal de Viçosa na minha frente – entrar no consulado. Entra, deixa documentos e passaporte, pega senha e senta que lá vem a história. Rola uma cantinazinha com café, salgados etc. Fui rapidamente tomar um café – a primeira dama de Triunfo claro que não, afinal café pra ela deve ser banquete pra três dias; nem água ela deve tomar. O painel de senhas não funcionava e vinha um funcionário do consulado chamar os números. Chama, te entrega os documentos novamente. Entra em outra fila pra impressão digital. Um cara falando com porrrtuguêxx de Porrrrtugal manda eu botar uma mão, depois outra, depois oxxx polegarexxx. Reclamou que meuxx polegarexxx exxxtavam suando. Claro, amigo. Agora só vai parar de suar em dezembro. Sequei-os na roupa. Pus de novo. Funcionou. Vai pra fila da entrevista.

Eu achava que minha entrevista ia ser em inglês pois assim tinha me avisado a mocinha do consulado, mas um dia antes um amigo que fez essa mesma bolsa que eu e pediu o mesmo visto me disse que era em português. Na fila mesmo comecei a ouvir entrevistas em inglês e saquei meu repertório debuquis on de teibou que eu precisava falar.

E nisso você vai ouvindo as entrevistas, né? Pra turista é em português, mesmo. E são várias cabines, mas as portas ficam abertas e o cara fala por um microfone. Daí eu ia ouvindo: “mas seu marido tem uma loja de material esportivo? Que tipo de material esportivo?” e pensava: "fudeu".

Chega minha vez. Um funcionário jovem, naquela idade indefinida entre os 28 e 43, simpático e até bonito me atendeu. Ele era careca, aquelas carecas raspadas no talo, e a cabeça dele brilhava, mas brilhava de tal forma que eu quase me desconcentrei. Se não tivesse um vidro entre nós eu acho que eu não ia agüentar e ia querer dar um tapinha na careca dele – eu tenho aquela síndrome que faz as pessoas terem gestos involuntários; no meu caso é dar tapas em carecas muito luzidias. Sério, parecia que o cara tinha passado um lustra móveis antes de sair de casa. Ou um óleo de peroba. Mas ele era bonito, apesar disso – ou por causa disso, sei lá.

Aí ele pegou meu formulário DS 2019 (se você está pleiteando um visto de estudante vai precisar desse formulário ou do I-20 que a escola ou universidade te manda. Caso não tenha ou não tenha uma previsão certa de quando ele vai chegar, nem tente marcar o visto, porque eles não deixam. Em compensação se você tiver todas as portas do paraíso se abrirão e 100 virgens com manjares lhe esperarão ao lado de Alá. Eles marcam a entrevista em menos de uma semana) e perguntou se eu ia estudar na NYU. Quase que eu respondi: “se vocês deixarem!”, mas não achei prudente fazer piadinhas numa hora dessas. Disse “yeah”, no meu sotaque de seriado da Warner. "Congratulations” ele respondeu. Disse também que era aluna de doutorado em história e tinha ganhado uma bolsa do governo brasileiro pra complementar meus estudos. Aí ele perguntou que tipo de história eu estudava. Ai, meu Santo Padroeiro das Carecas Reluzentes! Nunca pergunte a um doutorando o que ele estuda. É impossível responder em duas palavras e você corre o risco de ficar uns dois dias tendo que ouvir sobre a tese do sujeito. Mas eu consegui responder em duas palavras. Disse que estudava história contemporânea, particularmente história e literatura.

Pronto. O cara abriu um sorriso maior ainda. História tem esse poder de fazer as pessoas simpatizarem com você, como o médico que eu fui – ou achar que você é maluco, como a mulher do STB. Mas graças a Deus ele parou por ali. Não me pediu nenhum documento e disse que meu visto tinha sido aprovado, que era pra eu me dirigir ao balcão de taxas e voltar na janelinha dele.

De novo: se você está pedindo visto pra estudante precisa pagar uma taxa extra de 40 dólares (fora a taxa SEVIS, de 100, fora a taxa que todo mundo paga, de 131, no Citbank, fora a taxa da empresa que entrega o passaporte em casa: vinte e poucos reais, dependendo da localidade). Vou eu pra fila.

É claro que, como Murphy é meu amigo, na hora em que eu fui a mulher na frente do carinha na minha frente estava pagando em cartão (você pode pagar em cartão ou dinheiro, dólar ou real) e O Sistema travou. E no que travou, fudeu tudo. Não aceitava mais dinheiro, não podia atender outras pessoas, ficava tudo empacado até que ela conseguisse entrar de novo n’O Sistema. Uns 20 minutos depois, com O Sistema reestabelecido, uma outra moça com um bebê entrou na nossa frente – já que ela tinha um bebê (as pessoas deveriam ser punidas por terem bebês e não presenteadas). E a moça tentou pagar em cartão, claro (Murphy fazia dancinhas ao lado, enquanto mostrava a língua pra mim). E claro que O Sistema travou de novo. Porque a anta da funcionária passou a caralha do cartão de novo sem tentar saber se O Sistema estava bem. Como diz ela: “eu não sei se é um problema aqui ou a nível de mundo”. Ficamos nós lá, a nível de azarados, esperando a porra d’O Sistema resolver levantar. Mais 20 minutos, fila crescendo, embolando com a da impressão digital, com a da entrevista...e eu pensando se o dinheiro ia dar, já que eu só tinha 100 reais, pra pagar 40 dólares (não sabia qual a cotação eles usavam) e mais a taxa da TNT (não o canal de TV, a empresa que faz a entrega do passaporte) que era maior do que eu previa. Deu 66,00. Ah é: não tem jeito de você pegar o passaporte lá. É só por correio.

Volto eu pro carequinha-gostosinho. Daí ele me pergunta se a fila está muito grande e eu digo que sim. Daí ele começa a fazer diversas piadinhas sobre filas, que filas são sempre ruins, mas aí eu já entendo pouca coisa. Imagina você ter que ouvir um sujeito falar em outra língua, numa cabine, por um microfone, ele sentado e você em pé – tendo que abaixar pra escutar... (aliás, só a cabine que eu fui é que o entrevistador ficava tão baixo assim. Nas outras a pessoa fica em pé, mas mais ou menos no mesmo nível. Será que é tão difícil assim conseguir uma cadeira? Cortem os gastos no Iraque e mandem mais cadeiras pros consulados. Aliás, isso deve ser proposital pra pessoa não relaxar. As mesmas técnicas ultizadas em Guantánamo) Apenas balanço a cabeça e digo: “oh, yeah! Oh, yeah”. Podia xingar a minha mãe ali que eu não estava dando notícia de nada.

A Taxa da TNT era 27. Tinha 24. Putaqueopariu. Se eu ainda que tiver sair e pegar dinheiro em banco...mas graças a Jisus-minino eles aceitavam cheque (se for Rio é 17, mas como eu queria que entregassem em Gotham, interiorrrrr, era 27).

Resultado: o passaporte chega entre 5 dias a uma semana pelo correio (só dão em mãos em caso de morte). Acabo de comprar minha passagem pro dia 11, segunda feira, às 18:25. Ai, meu Deus. Agora que me dei conta que 11 de agosto é um mês antes de 11 de setembro. E se rolar uma comemoraçãozinha básica do pessoal da Al Qaeda? Tipo, uma rota alternativa, que saia da América Latina...U-hu! Fala Osama! Me mira, mas me erra, hein rapaz!

É isso. Agora acho que é realmente sério – claro, como dizem no consulado, o fato de você ter o visto não garante que você vai conseguir entrar no país, já que você ainda precisa passar pela imigração e pode ser deportado.

Ai, ai. Que maravilha. Acho que finalmente eu encontrei um país onde as minhas paranóias têm respaldo. Não vejo a hora de me informar sobre os kit anti-terrorismo e comprar o meu, com lanterna, pilha, comida enlatada...Acho que minha próxima viagem será para a Faixa de Gaza. Aí eu vou poder ficar nervosa tranqüilamente, sem ninguém pra me dizer que eu não tenho com o que me preocupar, que é tudo muito seguro. Já pensou que beleza? Quem sabe um pós-doc em Israel...

5 comentários:

b. disse...

ei! que bom que deu tudo certo!
ja arrumou lugar pra ficar?
vem que ny ta sensacional nesse verao!
sorte ai!
beijos
barbara (nossaiorque)

Carrie, a Estranha disse...

Oi Barbara!

Bacana! Sim, sim. Ficarei no Queens!

Obrigada!

Bjs

Docinho de abacaxi disse...

Hahahahaahahahahaha!!!
Estou super fleiz por vc!Parabens!!!Mtas felicidades!
Faça uma boa viagem e aproveite tudo o que puder por lá!
Nossa, como passou rapidinho o tempo dessa tramitação toda(pra mim, é claro). Vc já está com tudo pronto! Minina... To passada!
Na sua viagem para a Faixa de Gaza, me avisa que eu vou junto!
Tb quero o direito de ficar neurótica demais em paz!!!
As pessoas não deixam a gente sofrer com o nada, é feio ser preocupado. E prefiro chamar de "atento aos possíveis imprevistos previsíveis".
NY q é realmente um lugar avançado: é cool ser neurótico. Vide Woody Allen.
Enfim, felicidades para vc, Estranha!

Carrie, a Estranha disse...

Obrigada Docinho de Abacaxi.

Possíveis imprevistos previsíveis é ótimo. Adorei.

Bjs

Anônimo disse...

Pronto, viu?
Deu tudo certo.
Agora é só embarcar e aproveitar a viagem. Não esqueça de ir de meias Kendal para relaxar as pernocas.
Boa viagem.
Beijo.