quarta-feira, agosto 20, 2008

Passeio pelo Lado Leste Baixo



Tudo que se diga de Nova York é reforçar os estereótipos, mas ainda assim, verdadeiro. Em contrapartida é, também, ser injusto com a cidade – como todos os estereótipos são. Porque ela é tudo o que te disseram e muito mais – e muito menos, também. É ver homens de mãos dadas na rua. Gente de cabelos os mais bizarros. Judeus saídos de filme. Executivos. Pilhas de Carries and the city. Mar de gente nas calçadas. Mulheres de biquínis nos parques – se for verão. Gente comendo andando. Ou comendo no metrô. Lendo no metrô. É um banquete pros sentidos. Falando em celular. Mexendo nos seus blackberries, I-phones, etx, etc. Compra, compra, compra. Tudo barato e fácil. O metrô de Ghost e de Subway. O mais anti-turístico da cidade é o mais turístico e vice versa. É ver árabe até não poder mais. E judeu. E indiano. E latino. E chinês. E japonês. É ter restaurante nepalês. É não estar nos Estados Unidos e, ao mesmo tempo, estar na mais estadunidense das cidades. É dividir a vida em West e East. Tudo em New York parece um espelho. Um simulacro. Simétricos opostos (é, eu tenho mania de simétricos opostos) que se desdobram em um labirinto de espelhos. Cascatas de imagem. O mais real é a próxima imagem. O real não importa. O fake é tão real quanto o real. Pode ser um letreiro da Times Square ou o maluco do Central Park.

Seguindo o meu guia da Folha (que é aquele DK traduzido) resolvi fazer um dos sete passeios a pé sugeridos. No caso, pelo Lower East Side. O Lower East Side (Lado Leste Baixo) é o local dos imigrantes – bom, falar em local dos imigrantes em NY parece mais um pleonasmo - como fiquei sabendo no documentário do History Channel, no Tenement Museum, na Ochard Stree, de graça (o documentário. Para visitar o museu, que é nada mais do que uma visita a uma casa do século passado, pra mostrar como eles viviam, são U$ 17,00. Salim não paga. Salim só vê documentário e imagina como eles vivem. Salim bom de imaginação). O engraçado é que sempre que uma etnia começava a vir em peso, os “americanos legítimos” chiavam, baixavam leis contra imigração e aí outra etnia vinha. Foi assim com os irlandeses, os judeus, os chineses, os latinos...e a América se construiu. Com estrangeiros dispostos a fazer o trabalho sujo e pesado.

Comecemos nosso passeio pela Houston Street e por este café aqui:



Quando vi a foto do Woody Allen quase enlouqueci.


O lugar é podrão, mas eu queria ter comido algo. Mas meu passeio tava só começando e eu precisava guardar calorias e dólares (se você pensou “lugar no estômago”, você não sabe com quem está falando, meu amigo. Sempre há lugar no meu estômago).


Essa outra delicatessen na mesma rua está aí há mais de 100 anos. Cheiros deliciosos de salmão, coisas defumadas, caviar, chocolates...(mas segura, Carrie! Ainda tem o Chinatown!)




A mais antiga sinagoga de NY. Eu entrei. Está em obras:




Há determinadas regiões onde os comércios se misturam: judeus, chineses...é que nem qualquer rua de comércio popular do mundo: os comerciantes vão para as ruas e te chamam pra ver os produtos. Numa dessas, um cara se vira pra mim:



- Where are you from?



Eu, bobinha, dou trela: Brasil.




-Oh, Brasil! Tudo bom! - diz o cara, arriscando um português.


E começa a me perguntar se eu estou sozinha.



Eu, bobinha, respondo: sim.



Daí ele me chama pra passear com ele às seis da tarde, por Manhattam. Vou sorrindo e saindo devagarinho.



Claro que o cara era prego. Se fosse que nem o bonitão parecido com o Matt Danon, da NYU, não me chamaria pra sair - falando hipoteticamente, não que eu tenha visto ninguém parecido com o Matt Damon. Ainda.


Eis que surge....Chinatown!





Acho que pra quem é de SP isso deve ser mais familiar. Deve ser tipo o bairro da Liberdade (que é de japonês, né? Mas tudo bem). Pra mim foi uma grande novidade. Só se escuta chinês nas ruas. Restaurantes e mais restaurantes...uns - como o q eu almocei - só de noodles! (macarrão). Comi um dos pratos mais caros (macarrão com camarão) e deu U$ 10,00. Lojas de 99 cents...



Depois...Little Italy!








Ó ceus! Dúvida cruel na hora de almoçar! Resolvi almoçar na China e comer a sobremesa na Itália.








Quem estaria nessa limousine? Dom Corleone?



De novo, na Little Italy, um garçom me aborda:


- Ciao, Bella! Where are you from? Russia? You look like russian.


(É, esse meu moreno jambo que me denuncia)



Eu, tolinha, dou trela (maldita mania de ficar sociável no estrangeiro...bem Formiga Irmã me avisou que eu sou sociável. Ou quem sabe sou como o Rubem Fonseca, só quando saio do Brasil é que falo com as pessoas.): Brasil...


- Ah, Brasil! Brasil!


Conversa vai, conversa vem ele me pergunta se eu moro sozinha. Eu, tolinha, mas aprendo rápido, respondo:


- No, with my husband.


Só escuto as gargalhadas dos outros garçons quando eu virei. Agora eu pergunto a você, amigo leitor: o Philip Seymour Hoffman me convida pra tomar um café, pergunta se eu tô sozinha? Nããão. Lóooogico, que nããão.


Por fim:







Que não tem nada de Brasil...

***

Plantão El Greca: hoje ela acordou muito, muito cedo - tipo umas 7 - tomou banho e partiu. Chegou depois de mim. Ontem conversamos um pouco. Ela disse que também - assim como eu - é a caçula, que todas as irmãs e os pais moram no Canadá.

***

Minha pele e meu cabelo ficam muito bons aqui. O clima é seco, pra quem tem pele oleosa é o máximo. O cabelo seca em cinco minutos - assim como a calcinha. Não tem nada de elétrico.

***

Formiga Irmã: pilhas de locais vendendo Kerastase aqui perto! Você nem imagina!

Depois passei na Macy's, mas agora não tenho forças de contar sobre essa experiência mística no templo do consumismo. Passei incólume. Não comprei nem uma coisinha. Ainda estou preocupada com a grana, com o pagamento da minha bolsa...

Ai, que vida dura essa de doutoranda. Eu só tenho medo que as agências de fome(nto) cortem essas bolsas pra fora. É bom demais pra ser verdade - e, como a gente sabe, tudo que é bom dura pouco.

6 comentários:

Hetie & Claudio disse...

Carrie querida do coracao: Little Italy eh um dos meus lugares prediletos...(qqr lugar que eu va em NY acaba virando "um dos meus lugares prediletos" mas, va la...!)...qdo eu era nova no pedaco eu tb "falava" que era Brasileira...nao acreditava q as pessoas so lembram das mulheres peladas e dos travestis do carnaval...Caso me perguntem ainda... sempre falo que sou Italiana Gracie Die!!!! Tutti bonna gente!!!!infelizmente, mas eh a realidade....
o metro dai eh um espetaculo, nao eh? leva a gente pra todo lado...o daqui so tem norte/sul... ah, eh tem o bondinho tb (o metromover)...mas nada comparado a NYC...adorei as fotos..

Ciao, bambina, domani parlamo piu...

Anônimo disse...

Que otimos o post e as fotos. Vou passear pelo Lower East Side logo, logo. E, se bobear, daqui a pouco voce encontra o Philip Seymour Hoffman. Nao sei se ele vai te convidar para um cafe e perguntar se voce esta sozinha, hehe. Outro dia encontrei a patti Smith na Village, quase tive um treco.

(Adorei a intervencao do Salim, bem apropriada para o lower east Side, alias. :))

Natalia/NY

Anônimo disse...

Fantastique!!!
MAP

VanOr disse...

Amei o post, Carrie! Começou intenso, penenetrante, depois me fez mijar de rir. Como sempre.

Conheço esse TV show da Donna, minha filha. E a pousadinha deles, já faliu?

Quero "aplicar" esta semana pro visto canadense. Topas? Pode levar até uma semana, dependendo da incompetência deles, e eu só tenho mais 2 e meia aqui. Amanhã combinamos.

beijos, VanOr

Carrie, a Estranha disse...

Hetie,

É, as vezes perguntam se eu sou italiana. Não tenho exatamente vergonha de ser brasileira (nem orgulho, me é indiferente). O foda é sempre acharem q somos putas.

Natália,

Sim, tem feito ótimos dias!

Imão? É vc?

Vanor,

Siiim! Projeto Canadá! Avante!

Bjs

Carla disse...

Carrie, eu morro de rir com seus posts. Alias, vou parar de deixar um comentario atras do outro porque voce vai pensar que eu sou stalker, ne?
Esse blogger nao mostra emu contato, mas se quiser escrever, meu email e: carlacll arroba yahoo ponto com ponto br.