sábado, maio 17, 2008

Gothanianas


É muito engraçada a vida em Gotham City. Se a cidade carece de entretenimento e cultura, ela transborda em elementos cômicos – além de outros, mas hoje o que eu quero destacar é isso. Pra mim, pelo menos. Pra quem tem olhos pra ver. É um humor meio negro, mas é um humor.

Todos os dias eu acordo e dou de cara com o jornal O Globo e o jornal da região. O que eu mais gosto de ler neste último é a coluna social. Imaginem vocês. Coluna social já é um troço bizarro. Coluna social em Gotham City é duas vezes bizarro. E aí você acha antigos colegas de escola fica sabendo que Fulaninha de Tal acaba de volta de Nova Yorque ou de Cabo Frio (?!!). Que Beltrano acordou de idade nova e recebia os cumprimentos da esposa e dos filhos e se pergunta como você viveu até aquele dia sem aquelas informações todas.

E os erros de português do colunista em questão são o melhor de tudo. O pior de tudo (pode ter pior?) é quando ele resolve ser sério e quer falar de algum assunto de relevância, tipo queda do dólar ou a economia asiática. Aí ele diz o que há de mais óbvio, crente que tá dando um furo de reportagem. Sei lá, acho que ele se acha o Anselmo Góes de Voltaço.

Toda segunda feira ele começa com a mesma frase: “segunda feira, dia mundial da ressaca, tempo de muitos bocejos nas salas de aula e locais de trabalho”. Ele acha legal começar sempre assim. Acho que na cabeça dele ele está criando um estilo próprio, um bordão, uma coisa meio “sorry, periferia”, do Ibrahim Sued.

Tem os dias em que ele não está com o menor saco e taca meia dúzia de foto e fim de papo.

Algo inexplicável. Só lendo.


***


Tenho por hábito andar/correr pelas ruas do meu bairro. O engraçado é que todas as pessoas – TODAS – te dão bom dia. Independente se te conhecem ou não (no Aterro do Flamengo, no Rio, Onde eu corro, se você encarar alguém por mais de 5 segundos apanha). Acho tão bonitinho! Coisas de cidade do interior. Um troço meio Wisteria Lane (sim, as ruas são arborizadas, com casas grandes, com grandes jardins na frente, com cerquinhas brancas...qualquer dia eu coloco fotos aqui).

O pior é que a pessoa passa por você umas três vezes, já que o caminho completo inclui umas três voltas. Aí na segunda vez eu não sei o que faço, se cumprimento de novo, se ignoro. Formiga Irmã me orientando: “não, aí você dá só uma olhadinha e um risinho. E seja simpática, porque as pessoas podem achar que sou eu!”. E tem aquelas senhorinhas todas meio parecidas, né? Cheinhas, baixinhas, louras e de meia idade. Às vezes acho que é a mesma e já é outra, deixo de cumprimentar...elas vem em geral em grupo, como andorinhas ou maritacas.

Engraçado é que as pessoas nunca cumprimentam quem está indo pro trabalho. Porque é um bairro burguês, logo, todo mundo anda de carro. Logo, quem está a pé e não está de roupa de exercício não é morador (há inclusive uma difernciação de quem caminha no bairro e é do bairro e de quem vem de outros bairros caminhar aqui) são as empregadas domésticas, garis, vigias e diaristas que estão chegando. Que, supostamente na cabeça podre da burguesia gothaniana, não merecem bom dia. Ou são seres invisíveis - o que dá na mesma.

(Na verdade Gotham City não é uma cidade pra se andar a pé ou de ônibus. Somos muito mal servidos em transporte coletivos. Acho que é mal de cidades projetadas).

De vez em quando passamos por velhinhos caquéticos, que mal andam e Fu Sis vai me informando: "Esse aí era o todo poderoso da cidade". Penso comigo: pela aparência devem ter acendido o primeiro auto-forno da CSN.

Tinha um bem velhinho que sempre passava e dizia pra minha irmã que ela era a moça mais bonita que ele já tinha visto. Quando eu passei ele me disse a mesma coisa (os homens são todos iguais, não importa a idade. Ou então ele me confundiu com a minha irmã).

Aliás, esse negócio de me confundirem com a minha irmã ta muuuito chato. De vez em quando perguntam quem é a mais velha. Ela só é DEZ anos mais velha que eu. Ela tem 40 anos. QUARENTA. E vai fazer 41. E UM. Eu tô começando a ficar sem graça, porque ninguém acredita que ela tem 41 anos e me olham como se eu fosse louca. Eu podia confessar que ela mora em um sarcófago de formol, que na verdade há um retrato dela envelhencendo dentro do armário, mas nããão. Eu não falo! Eu fico na minha e apenas aviso que ela é DEZ anos mais velha que eu. Esses dias um cara disse que eu devia ter uns 23 e ela uns 28. Tudo bem que era o Will – peça raríssima - mas mesmo assim...).

2 comentários:

Anônimo disse...

Carrie,
Recebi o livro, muito obrigada!
Demorei a vir contar pra vc pq queria ler todo primeiro. Gostei demais do seu conto, achei um dos melhores do livro! Vc ganhou uma leitora de carteirinha...
Abraço e boa semana, Carla.

Carrie, a Estranha disse...

Oi, Carla! Muito obrigada! Fico muito feliz! Já estava preocupada, achando q o livro não tinha chegado.

Bjs e boa semana.