terça-feira, fevereiro 05, 2008

Novas expressões para velhos sentidos


Tenho ouvido com freqüência a expressão “vamos nos falando”. Funciona assim: você liga pra um(a) amigo(a) pra perguntar o que ele vai fazer à noite ou se quer ir ao cinema ou qualquer outra atividade. Aí ele diz que até tá afim, ou diz que não vai fazer nada, mas está esperando Beltrano ligar avisando sobre um possível programa, mas que deve ser cedo (ou tarde), logo ele ou ela podem encontrar com você antes (ou depois). E ela (ou ele) finalizam com um “a gente vai se falando”. Ou seja: tudo combinado e nada resolvido; se chover você molha a grama. Enfim. A nível de non sense, enquanto explicação não elucidativa sobre o nada, funciona como um anestésico semântico com fins de prorrogação da atividade proposta, sem entretanto anular a possibilidade da mesma. Ou, em bom português: nem caga, nem desocupa a moita. Nem trepa nem sai de cima.

O que, aliás, é uma característica folclórica do carioca. Como sabemos, os estereótipos sobre as pessoas e os lugares são apenas estereótipos, contudo não menos verdadeiros. O carioca é o boa praça que não quer deixar ninguém na mão, quer agradar a todos, quer reunir todo mundo, quer ter todas as opções em aberto. É o caso do “passa lá em casa”. Não é pra você passar na casa dele(a). É apenas um outro sentido pra “a gente se ver por aí”. Outros correlatos são o “vamos combinar” ou “vamos tomar um chopp qualquer dia desses”. Nenhum equivale a seus reais significados. E o celular é o meio de comunicação por excelência pra gente ir se falando.


Hoje (na verdade é ontem, mas como eu ainda não dormi é hoje) é aniversário de uma amiga. Ficamos de ir nos falando pra ver o que ela ia fazer. Eu ia ao cinema. Outra amiga ligou, da canícula de Água Escondida, querendo farra. Falei que tava na dependência da outra amiga que ficou de dar uma resposta. Ficamos de ir nos falando. Nenhuma das duas ligou, eu não fui ao cinema e dormi – o que, aliás, com a chuva que tem dado aqui no Rio tem sido o melhor programa. Além de ir se falando, é claro.



14 comentários:

Anônimo disse...

putz, eu uso uma parada parecida: "ahhh, a gente se fala tá?". hahahaha!
é, acho q aqui isso é bem típico msm...

anouska disse...

pois é, amiga, eu também fiquei de ligar, mas essa chuva, fala sério... carioca funciona muito melhor ao sol. sei, sei que você detesta, mas pra mim frio e chuva só estando em londres. ou lisboa. sei lá eu. qualquer lugar onde você n~çao tenha que praticar o esporte de pular poças. quem sabe um dia desses a gente não faz como eu e a bellitcha: marcamos de tomar um café na livraria cultura de são paulo. funciona que é uma beleza. sp é o melhor lugar pra se estar com chuva. eu dei uma broxada legal e nem atravessar a ponte rola mais. a gente vai sair hoje pra ver 'no country for old men' aqui em niterói mesmo. se quiser atravessar a ponte estás convidadíssima! hehe. bjs

Trinity disse...

Oi, amiga! :)
(se ficar insuportável vc me avisa, mas ainda tô empolgadinha com nossa recente amizade)

Sorri concordando. Eu sou mineira, mas é coisa de ser boa praça do brasileiro parece ser ainda mais diplomática com o carioca. Aqui eu tomei um susto a primeira vez que usei a tática:

- Ok then, we can have a cup of coffee together one of these days...
- Oh, lovely. What's the best day for you?
- ... :/

Toma, garota ischpérta.

P.S.: Parabéns pelos quilos queimados, ainda mais em época de escrever tese. Que inveja. Eu tô aqui tentando escrever alguma coisa pra ostrar pra minha orientadora amanhã, morrendo de culpa porque fico assistindo os Normais no youtube e me entupindo de kit kat e café. Afe.

Carlos Pimenta disse...

Conheci um alemão, dentista aposentado em Curitiba, Rudolph Schmeidler. Quando soube que ele foi do exército alemão, e não teve filhos, comecei a especular sobre seu passado na Alemanha Nazista. Ali no balcão do Sudaméris, onde eu trabalhava, e o Dr. Rudolph era cliente, apenas consegui extrair uma confissão: Não tivera filhos por achar que, por tantas as vidas que exterminou na guerra, não seria justo dá-la a alguém...
Jamais entendi aquele mea culpa, somente fiquei matutando: Como um dentista poderia matar alguém, ainda que na guerra? O certo teria sido ele trabalhar no serviço médico do exército salvando vidas, jamais tirando. Não teria sido ele um dos cientistas alemães que fizeram experiências com judeus e estaria no Brasil com nome falso?.. Quem sabe?
Passemos, o que quis dizer no início era um comentário sobre frases postergativas(???): O Dr. Rudolph convidou-me para ir à casa dele para ver o acervo que tinha da II Guerra. Como estava em fase de provas na faculdade, respondi:"Qualquer dia eu vou"...
Ele respondeu: Qualquer dia é resposta de quem não vai nunca, porque não tem interesse nem coragem de dizer que não tem.
Ofendido, foi embora levando consigo segredos que eu poderia ter sabido do seu passado na guerra. Nunca mais conversou sobre tema que não fosse a gerência de sua conta. Posso não ter desvendado aquele mistério, mas descobri que nunca se deve dar respostas postergativas, que na verdade querem dizer "amanhã lhe dou meu talvez definitivo".

Carrie, a Estranha disse...

Oi, Bella! E o filme, foi bão?

Não, Cris. Era outra amiga de Nikiti sem ser vc e a Bellinha! Por incrível q pareça, eu tenho outras amigas q moram em Nitkity! Rsrsrsr... Vc não ficou de ligar. Mesmo porque eu não ia à banda de Ipanema. Muuuito tumulto.

Ana,

Oi, Miguxa!Rsrsrsrs...

É, acho q isso deve ser problema de brasileiro!

Carlos,

Adorei vc! Q história mais interessante! Adoro histórias de nazistas fugitivos. Vc é de Curitiba?

Bjs, bjs e bjs

Carlos Pimenta disse...

Dear Carrie White

Sou mais ou menos de Curitiba( você deve estar a se indagar que minha resposta é postergativa... e é, descobri que ainda não aprendi bem a escapar delas). Aconteceu assim: Nasci em Franca, filho de mineiros que migraram para Curitiba, onde fiquei até 4 anos passados( viu? ao menos já aprendi a não escrever anos atrás, o que seria redundância), agora estou em Umuarama, aprendendo um pouco sobre como teria sido viver no interior. Acho que é bom, faz bem para a pele e para a alma... Meu pai deveria, isto sim, é ter ido mais para o interior, para que hoje eu pudesse escrever da meninice no interior. Essas pessoas vendem tão bem!
Como não dá para apagar, quero ficar velho e escrever da velhice no interior... Ih... melhor não vai ser um marasmo! Pense num velho querendo contar coisas interessantes como nadar no rio ou barranquear uma novilha( vixe, peguei pesado contando o que ouvi de uns amigos recentes que falam de suas experiências adolescentes).
Pois é, era só para falar que gosto de histórias de nazistas fugitivos, sempre quis descobrir um deles no Brasil. Como já disse, joguei a oportunidade fora.
Grato pelo comentário!
cpimenta@yahoo.com.br

Canimo disse...

Nós duas já estamos há um tempo nessa de "vamos nos falando" . Agora com essa onda de você não beber mais e eu depois de ler seu post anterior estou também determinada, nosso chopp já era!

Hetie & Claudio disse...

Carrie Querida do Coracao (tem gente me plageando!!!.. I'm just kidding...)
Aqui o negocio eh dizer: ok, let me know...ate ai, tudo bem...o duro, mas duro mesmo, eh qdo eu ouco: me deixa saber!!! doi, mas doi mesmo.... ate aonde me lembro, acho que isso nao esta correto nao!...Mudando de alhos para bugalhos: minha irma desfilou na Vai Vai em Sampa...deu sorte, 1o. ano de desfile e esta comemorando ate agora...beijinhos...

Andrea disse...

A gente não faz por mal.

Stella disse...

Isso é bem verdade mesmo! Estamos sempre marcando coisas que não acontecem, só pra 'manter o contato' de alguma maneira.
Hoje mesmo falei com um amigo dele vir aqui assistir 'Friends'. Mais ou menos combinamos o dia. Só que acabou no "vamos nos falando". Hahahah..
Como foi o carnaval, no final das contas? :)
Vários babados no BBB que eu fiquei sabendo por mamãe hoje. Hhahah..
Aí lembrei dos seus comentários sobre o programa e nem fez mais nenhum. :(
Mas, então tá. :****

Lenissa disse...

Ai cara nem me fala... eu sinceramente, e sem o menor pudor de milindrar a cariocagem... ODEIO isso! Andavam pensando sobre isso essa semana quando levei outro 'toco' (se é que podemos usar essa expressão aqui) das minhas amigas, para um programinha que pra mim estava mais que definido. Mas pra elas existia apenas uma mera possibilidade de ocorrer. Como boa gaúcha, caxias, que chega 10-15 minutos antes dos compromissos - fica um tanto difícil entender o 'vamos nos falando'... Já tinha um post em mente sobre isso - vou linkar pra cá - ooooobviamente! Bom, vou indo, beijos, vamos nos falando.

Patrícia disse...

Que porradinha, hein? Bom, me defendendo, eu fiquei de ligar quando soubesse o que iria fazer. Como eu não fiz nada, não coloquei o pé para fora de casa, não liguei pra vc. Além disso, eu recebi uma visita inesperada que também explica o fato de eu não ter ligado pra dizer pra vc passar aqui em casa, como vc tinha sugerido. Tá bem explicado assim????????

Carrie, a Estranha disse...

Não. Claro q não. Ainda mais se a visita é de quem eu estou pensando - se a visita for de outro quem eu estou pensando, aí tudo bem.

Eu queria ir aí pra te dar um beijo de feliz aniversário e te dar um presentinho. Que é um gloss e q agora está guardado e me deu muuuuito trabalho pra escolher, já q eu não sei se vc usa gloss. Nem batom. Pelo menos não me lembro. de te ver usando - caso use, deve ser uma cor bem fraquinha, então comprei um clarinho.

Mas acho q vou usá-lo. Humpf.

MARY disse...

Gostei da resposta sobre postergação do Senhor Rudolph, o jeito de falar dele é objetivo como o meu!haha