terça-feira, janeiro 22, 2008

Enquanto isso, na caixa de comentários...

“De neurótica pra neurótica, cara, às vezes eu fico com vontade de te mandar um envelope cheio de silêncio. Mas desses silêncios que vc tivesse que parar e levar um tempo pra ouvir E esse tempo ia te fazer tomar consciência da minha existência. E vc ia sentir sem entenderque tem uma pessoa no mundo que de vez em quando te lê e treme. Ou sorri. Ou - que clichê recorrente - se identifica. Seja porque eu formei em jornalismo, porque faço regimes, porque tô escrevendo uma tese de doutorado no momento ou porque acho o Suzanão de reitora da novela o ó.
Eu te gosto muito, Carrie. Um dia - profético - eu ainda vou sair do subsolo e a gente vai ser amiga, mesmo que de longe. Uma amizade epistolar, bem preto e branco.
Bjo.


Ana"




O que dizer diante de um comentário desses? Essa é uma, dentre as milhares, de coisas boas da internet. Quando eu receberia um comentário desses? Talvez quando eu publicasse um livro – o que poderia nunca acontecer.


Quando as pessoas dizem – e há muitas – que eu me exponho demais no blog eu penso: quem me dera que eu conseguisse. Porque o que realmente importa é indizível. Tudo que eu consigo é arranhar a superfície. Tirar o verniz – e não, isso não acontecesse quando eu falo sobre meus hábitos alimentares e sobre qualquer outra coisa do meu cotidiano. Talvez estejamos todos encerrados em caixões, tentando ver a luz do dia. Eu percebo que eu consegui quando eu vejo um comentário desses - e muitos outros de várias pessoas aqui. Por alguns instantes, para algumas pessoas, eu consegui. Consegui fazer com que entre as distâncias intransponíveis e abissais entre os seres humanos – que existem e são intransponíveis e abissais – foi possível uma pequena ponte. Temporária. Com os jacarés no fosso, dando saltos e tentando pegar nossos calcanhares. Uma ponte feita de silêncios e reticências, vazios, de hesitações, suspensões e engasgos. Uma ponte de indizíveis coisas que se tornam um pouco mais comunicáveis e diminuem a dor, o espanto, porque é como se outras pessoas pegassem um pedacinho dela também e me ajudassem a carregar. “Dor de quê?”, “espanto!?”, devem estar se perguntando os leitores mais normais. Se você não sente isso, que bom pra você (ou não, pois pra mim é isso que me faz viva). Não estou aqui fazendo uma apologia do sofrimento, longe de mim. Credo. Estou dizendo dele, do vazio, dos buracos, do que não se diz e que às vezes é lindo em outras apenas triste, que nos acompanha. Eu não sei porque as pessoas escrevem, mas eu escrevo por isso (além uma incrível comichão nos dedos que me faz sair pegando em canetas, lápis, teclados...). Talvez o que chamam de exposição seja o ônus de toda arte.


Sem querer ser piegas já sendo: já somos amigas, Ana. Muito obrigada.

7 comentários:

Helen disse...

Nossa, eu teria um certo receito antes de escrever, do tipo,será que isso é digno dos leitores...

Mas deve ser mto bom ter um retorno tão positivo assim, expresso com todas as letras :)

Anônimo disse...

Eu conheço os comentários da Ana de um outro blog, onde ela comenta pouco, mas qdo comenta, saem só coisas lindas. Mas esse que ela deixou pra vc, além de bonito, é poético e tocante.

Sei que não é o momento, mas não pude deixar de rir da sua frase "leitores mais normais" \o/. É tão bom se sentir entendida, ou "parte de"; pois às vezes tb sinto dor e espanto e vazios...

Anônimo disse...

Não comento muito.... sou quase uma leitora fantasma (rs)... mas tenho q comentar que essas palavras de Ana foram no mínimo tocantes....
Mar, de Godan City

Carrie, a Estranha disse...

Helen,

Uai. Tendi, não. Como assim se é digno dos leitores? Vcs são minha razão dos meus escritos! (angariando leitores ;)

Jussara,

E vc ficou me devendo um e-mail, hein? Dizendo "oi", só pra eu ter o seu e-mail.

Marrrrcele!

Mas saber q vc está aqui já me deixa muito feliz.

Bjs

Trinity disse...

Agora vc veja, eu tava correndo, num dava tempo de ler tudo, vim direto no post que eu comentei e vi que vc respondeu só os outros dois comentários. Fiquei borococô e pensei: "nossa, nem me viu." =(

Voltei com o seu aviso e... O tal indizível, a ponte, a dor, o espanto (o espanto!). Você sabe. Então a gente se sabe dizendo agora. Amiga. Eba. Que chique. =)

Carrie, a Estranha disse...

Bobona (mostrando a língua). Isso q dá vir ler correndo.

Anônimo disse...

É verdade, Carrie! e sabe que me lembrei disso quando li esse post? acho que foi a ciclotimia que não me deixou escrever, ai, ai.