quarta-feira, maio 09, 2007

Sobre o post retirado


Tem horas em que a gente cansa, não é verdade? Tem horas em que se rende à tristeza, à melancolia, ao fracasso e ao desânimo, pois essa parece ser a única maneira de te deixarem em paz. Quem sabe ficam com pena de você e te deixam quieto. Ninguém chuta cachorro morto. Quem sabe esquecem da sua existência. Você é carta fora do baralho, cavalo longe do páreo. Não é concorrência. É uma boa estratégia se fazer de vítima. Mas aí você se anima, se empolga e baixa a guarda novamente. E vem outro tombo. E você pensa: porque eu fui acreditar? Por que eu não me mantive distante? Por que eu não vi as placas de “perigo”?

Eu já devia saber que certas pessoas não gostam de ser citadas neste blog. Eu tomo cuidado com isso. Eu me policio, afinal elas têm todo o direito de não quererem se expor. Mas aí eu penso que se eu citar de outra forma ou omitir o nome, mudar o sexo, não haverá problema. Pois afinal a pessoa faz parte da sua vida. Ou pelo menos você tenta. E você vê isso como uma homenagem. Assim como a Lucrecia, a esquila, via. Mas aí você esquece que não conhece a pessoa e nem a pessoa te conhece. O que é um elogio pra você, pode não ser pro outro. Você se sacaneia, se chama de maluca, obsessiva, fala que tem pobrema de neuvro exatamente porque você sabe que não é bem assim. Ou só assim. Você se chama de gorda, mas sabe que não é assim. Você é hiperbólica por natureza. Então esse tipo de vocabulário já foi incorporado no seu dia a dia. Você não espera que alguém vá se incomodar. Ainda mais alguém que supostamente te conhece. É aquilo lá de cima. “Eu não creio em uma só palavrinha de tudo quanto rabisquei aqui. Isto é, talvez eu creia, mas suspeito estar mentindo como um desalmado”. Eu troco as pessoas, invento nomes, conto histórias minhas como se fossem dos outros e vice-versa. Só cito o nome quando é pra homenagear ou quando eu sei que são pessoas com as quais eu posso falar, como o meu primo Serginho, por exemplo. Pessoas que cresceram comigo, que sabem como eu sou e, qualquer coisa, a gente tem liberdade pra sentar e conversar. Não guardo as coisas. Resolvo logo.

Mas aí algo sai fora do tom e eu me vejo aqui, fazendo uma das coisas que eu mais odeio: me justificando pelo que eu escrevo (tá, fui para a primeira pessoa aqui, mas eu precisava). Mesmo se lembrando do Roland Barthes e de todos os teóricos das letras que dizem que existem mil textos em um só texto e que a interpretação é sempre do leitor. E por um segundo você pensa que vai acabar com essa merda de blog de uma vez – pois afinal se pessoas que te conhecem não conseguem te entender, talvez você não saiba se expressar. Mas aí você se lembra que prometeu a sua amiga Dani que nunca ia fazer isso, porque ela gosta dos seus textos e quando não lê diz “tô com o dever de casa atrasado”. E lembra da sua Tia Deceles que disse que vai comprar um computador só pra ler o seu blog. Se lembra que sua mãe aprendeu a mexer no computador por causa do seu blog. Se lembra de todos os seus amigos, virtuais ou não, que passam por aqui. Se lembra de que conheceu pessoas muito legais como a Vanor e a Cris graças a isso. E de certa forma você faz parte do cotidiano de todas elas. Elas chegam ao trabalho e lêem, ou dão aquela paradinha no meio do dia, fugindo um pouco da rotina por vezes massacrante. Às vezes elas precisam conter seus risos com as bobagens que eu falo, para que os chefes não as vejam gazeteando. De certa forma eu subverto a vida. Às vezes os maridos ou mulheres não entendem porque elas estão rindo feito bobas na frente do computador. Às vezes elas choram e tem que esconder a lágrima pra que ninguém veja. E depois vêm me falar: “puxa, que legal aquilo que você escreveu do seu pai, me lembrei da minha mãe...” e você pensa que de alguma forma o que você escreve é importante nem que seja pra meia dúzia de pessoas. Elas até sonham com você, mesmo sem te conhecerem! Elas pedem sua mãe, sua irmã e sua tia emprestadas. E é em nome delas que você continua. E em nome do seu ego, claro. Porque você gosta de ser elogiada. E você tem o grave defeito de não se fazer de humildezinha que “ó, nem ligo”. Sim, você tem poucas mais profundas vaidades. Você tenta não ligar, claro, pois assim como Kippling acredita que o sucesso e o fracasso são dois impostores que vem e vão. Você tem que ser o céu e não se importar com as nuvens. Elas passam. Você não. Mas é bom um elogio de vez em sempre. E você fez uma promessa a si mesma. De não desistir. Porque você já abriu mão de algumas coisas. Disso não. Talvez esse seja o fio. Aquele. E por isso te chateia tanto quando falam. Não quando falam mal do seu texto, quando não concordam com as suas opiniões, mas quando tomam o seu texto como agressão.

Minha sábia mãe diz que somos escravos da palavra que dizemos e soberanos das que calamos. Eu sei. E somos ainda mais escravos do que escrevemos. E é justamente por isso que eu escrevo. Pra que as coisas realmente existam, tenham solidez e corpo. E a forma como eu escrevo é essa. Eu não quero mudar. Eu quero burilar, lapidar, mas o bruto é esse aí. Sorry. Um olhar meio enviesado. Meio torto. Meio rindo, meio falando sério. De certa forma, acredito como Baudelaire que a vida foi feita pra ser transformada em livros. Talvez a minha vida só exista pra isso. Então, abrir mão disso seria abandonar um grande pedaço da minha vida. Um dos melhores pedaços. Eu já abri mão do teatro que era meu outro refúgio. Não me façam abrir mão do que eu acho que pode se tornar a minha literatura. Eu simplesmente não suporto passar tanto tempo assim no tempo real. Nem com todas as drogas do mundo. Isso aqui é só um experimento. Blogs são bobagens. Mas, justamente por eles serem bobagens é que eu me choco por eles incomodarem tanto. Se é assim com um reles blog lido por meia dúzia de pessoas, imaginem quando eu escrever um livro de verdade e, por ventura, me inspirar em certas pessoas pra moldar os personagens? Ou pior: as pessoas acharem que eu me inspirei?

Eu sei que isso é uma escolha. E eu escolhi ser assim, quer seja através da tese que eu faço, deste blog e das coisas que eu já escrevi e ainda hei de escrever. Acredito piamente no que disse Clarice Lispector: “escrever é uma maldição, mas uma maldição que alenta”. Eu pago o preço. E vou continuar pagando, porque ainda é muito barato. Eu ainda estou em dívida. De vez em quando acontecem aborrecimentos como esse. Escrevendo eu sou outra pessoa. Muito melhor do que eu sou na vida real. Escrevendo eu faço sentido e as coisas ao meu redor fazem sentido. Escrevendo eu construo sentidos. Só quando eu escrevo algo é que esse algo se concretiza. Não quero saber se o resultado é bom ou ruim. Já passei tempo demais me preocupando com isso e eu devo ao teatro essa grande lição: não ter medo do ridículo, do risco; dar a cara à tapa. Arte é risco. Vida é risco. Arte é vida. Escrever é um ato de arrogância. Você acredita que o que você tem a dizer é importante a ponto de expor ao público. E é ao mesmo tempo um ato extremo de humildade. Ainda mais em um blog. Você coloca a cara à tapa. E às vezes o tapa dói. Muito. Como hoje. Mas é o preço.

Além do mais eu desconfio das pessoas excessivamente modestas. Elas partem do pressuposto que vão ser criticadas pelo que fazem e por isso não podem mostrar ou mostram com reservas. Ora, isso é ou não é um modo de ser arrogante às avessas? Quem você pensa que é que não pode errar, não pode ser criticado? Eu pretendo errar muitas e muitas vezes. Só me entristece quando eu erro magoando os outros, não tendo tido a menor intenção (porque às vezes eu até tenho essa intenção). Mas eu não posso adivinhar o que vai magoar as pessoas.

Sinceramente, me desculpe. Não fiz nada que eu não teria feito comigo. Isso costuma ser um bom balizador, mas acho que não deu certo dessa vez.

Falei no início que ia me render ao desânimo, né? Mentirinha!! Tô só começando. E não caio mais nessa esparrela de me fazer de vítima.

17 comentários:

anouska disse...

nossa, juro que não entendi nada. vim aqui mais cedo, tinha o post do chico bento XVI e agora esse. boiei. mas captei aqui e ali que você escreveu algo sobre alguém e esse alguém não gostou. olha, isso já aconteceu comigo uma vez. foi um dia em que meu blog bateu o recorde de visitas porque um monte de gente cretina resolveu deixar um recado malcriado por lá. quanto ao que você escreveu aqui (lindo, forte e tocante), uma frase me disse muito: "Você acredita que o que você tem a dizer é importante a ponto de expor ao público." eu comecei a escrever por conta da análise. foi só quando eu deixei de achar que eu era um ser absolutamente desprovido de importância que aceitei colocar a cara a tapa. e até hoje tem sido bom; pelas pessoas tão legais que eu conheci e pelo exercício mesmo de aprender a me expor. beijo grande.

p.s.: e quem excluiu o comentário acima fui eu. às vezes eu acho que estou desaprendendo a soletrar...

Carrie, a Estranha disse...

Hahahaha...eu vi a msg original. Não tinha nada de errado, não!

POis é...

bjs

Anônimo disse...

carrie, tava genial o post, vim ler de novo e cadê! mas tudo bem... Adoro o seu blog, abraços de Campinas.

Anônimo disse...

eu tb entendi mais ou menos isso q a cris entendeu...
não gostei dessa história de acabar com blog não. humpf!
nem pense nisso!
bjs

Carrie, a Estranha disse...

Cris e Bela,

Era um post sobre gordura. A Bela chegou a ler. não tinha nada demais, eu apenas repetia os argumentos q já tinha desenvolvido naquele post maior, sobre os gordos. Só q eu citei uma amiga q não queria ser citada, mesmo sem nomes. Mesmo sem ninguém ter entendido q era ela. Mas deixa pra lá. Morreu.

Amigo de Campinas,

Abraços pra vc tb. Obrigada.

bjs

Anônimo disse...

na faculdade eu tenho aula de tecnologias de produção, ou algo parecido. a professora, uma moça estranha que veio do sul, tenta nos fazer acreditar que vivemos no século XXV. é muito futurista.
eu passo a aula toda me sentindo bizarra porque não sei o que é um podcast, sendo que ela afirma com veemência que eles já estão substituindo o rádio (!).
enfim, estou falando isso porque ela afirma com igual certeza que os blogs são o que há no mundo da comunicação e eu, sempre torcendo o nariz,penso: tenho que me render nessa. eu acompanho o sublimesucubus religiosamente! não perco um post! e me questiono se não estou a contra gosto inserida nessa pós-modernidade enlouquecida.

não sou fã de blogs. na verdade tinha até um preconceito. um belo dia sentei no meu computador e sua página estava aberta, pois a minha mãe lia de vez em quando. desde então sou uma viciada!
não pense em parar de escrever! se tem alguém aborrecido com alguma brincadeira mal interpretada, tem milhares de outras pessoas adorando os seus textos inspiradíssimos.

tudo de bom pra vc. não fica pensando nessa coisa aí não. acontece e não é nada sério. mesmo.

anouska disse...

eu li otexto e, bem, não achei que tivesse nada de mais nele, muito menos de ofensivo. mas é isso aí, essas coisas acontecem. pena que você tirou, eu tinha gostado bastante. bjs

Carrie, a Estranha disse...

Rê,

Q fofo, esse post! Muito fofo.

Sim, eu sei o q é isso. Tb fiz comunicação e tinham muitas pessoas estranhas falando coisas... E eu sempre olhava tudo meio com cara de tédio, afinal...sei lá. Acho q é uma questão de gosto mesmo.
Eu tb não sei o q é um podcast.

Eu não sei o q são ou o q serão os blogs. Mas, sinceramente, tb não estou muito interessada! Rsrsrs...Quero curtir. Só. E fazer disso um teste.

Quem é sua mãe? Ah, q bonitinha! Ela nunca punha comentários, não?

Acho q há pós-modernidades e pós-modernidades. Enfiar tudo num mesmo saco de gatos, de Virilio a Jameson, de Levy a Bauman...é um pouco demais. Uma coisa é estar nela. Outra bem diferente é ter posturas extremamente integradas, do tipo "a-ha, U-hu a pós-modernidade é nossa!!" vai uma grande diferença.

bjs

Anônimo disse...

Carrie, serei repetitivo: muito bom esse seu texto (aliás, o post anterior também estava). Esse negócio de aprender a se expor e essa necessidade da palavra escrita me dizem muito. Bj.

P.S.: Quando você me citou eu achei ótimo; tem minha permissão pra fazer de novo quando quiser...
:D

Carrie, a Estranha disse...

Ôôô...q bonitinho. Bigada.

Anônimo disse...

Puxa, achei tão interessante o post sobre a gorda na sociedade. Cheguei a comentá-lo no buteco. E rola este problema. Não fique chateada, pois como vc sabe tem muitos leitores fiéis. Quanto ao papel do blog, concordo que é sim uma bobagem. Mas bobagem saudável. Chego em casa às sete da noite, vou fazer o que? Ver TV com suas bobagens habituais (noticiários sobre violência, novelinhas, séries americanas)? Ler algo mais profundo depois da agitação do dia? Não. Vou mesmo é entrar nos meus 20 e poucos blogs favoritos(alguns sérios, outros leves, ler sobre meu cruzeiro, opiniões de esquerda e direita, rir pra valer com o seu p.ex, ver os hypes pra baixar e discordar, lembrar de músicas que ficaram lá atrás e baixá-las correndo, fuçar sobre novidades no cinema ehrrr indie, ler resenhas de livros etc. Isso tudo em não mais de uma hora. Me policio no computador tbém. O foda mesmo nos dias de hoje é o tal do politicamente correto. Eta praga. Tudo é ofensivo. Pára. Chega de mau-humor. Continue assim. Abss

Anônimo disse...

Agora eu entendo bem quando colocam esta frase antes de algum escrito; Os personagens aqui descritos são ficticios qualquer semelhança é mera coincidencia. Acho que é valido tambem; Os personagens aqui descritos são verdadeiros qualquer semelhança com os ficticios é mera coincidencia, Voce sabe quem eu sou.

Anônimo disse...

Nao sei qual foi o post retirado e nao estou entendendo nada, mas acho q as pessoas tem q se assumir e deixar q falem delas seja em uma roda de amigos ou em um blog na net (o q ]e praticamente a mesma coisa). Nao desista por causa de pessoas pequenas. Bjinhos

Anônimo disse...

Aline, acho que você não devia ter retirado o post que falava sobre gordos, que por sorte, consegui ler antes de você retirá-lo. Quem é a mala que ficou ofendida? A linda que tem um namorado gordo e que exige dela estar sempre gostosa? Não entendi por que retirar um texto tão legal por causa de outras pessoas, mesmo porque você não citou nomes e tenho certeza que quem lê seu blog nem faz idéia de quem seja essa pessoa, a não ser ela mesma. Queria ter comentado sobre isto desde o dia em que li o texto, mas não estou conseguindo sequer ver os comentários, acho que é problema no meu computador. Hoje deu certo. Nada de retirar textos, quem não quiser que não leia seu blog. Um beijão. Juninho.

Carrie, a Estranha disse...

Juninho!! Pois é. Mesmo sem citar nomes a pessoa se ofendeu, acredita? Fazer o quê? Tenho que aceitar...não precisava ter tirado, mas preferi. Mesmo pq eu apenas reafirmei pontos de vista q já tinha falado antes. Enfim. Vai entender o ser humano.Tb acho q é só não ler, né? Acabei ficando super triste e me aborrecendo de verdade. Bom, depois conversamos...
Às vezes os comentários somem, mesmo. As pessoas reclamam. Não acho q seja problema do seu computador.
bjão!

Anônimo disse...

Amiga, manda o post que vc retirou pr'eu ler por e-mail. Quem leu adorou e eu quero ler também!!!! Fazer o quê né. Já que tem gordinhos afendidos pro aqui!!!!! Não adimito que vc pare!!!! Acho um ato de coragem uma pessoa se expôr da forma que vc faz, isso é ter atitude! Parabéns!!!!! E eu amo vir aqui relaxar!

Vanessa Ornella disse...

Eu tive a sorte de ler também, e olha, na mesma hora eu suspeitei da garota boazuda do namorado gordo. Você acha que ela não gostou de se sentir exposta, né? Mas eu tenho pra mim que ela não gosta é de ter um namorado gordo, ainda que ninguém saiba quem é ele ou ela. Como dizia seu texto, o gordo é a bactéria defeituosa do cocô do cavalo claudicante do bandido banguela, perneta e caolho.

Se minhas suspeitas estiverem corretas, diga a sua amiga que censura de cu é rola. Mais um pouco e ela vira Roberto Carlos. Mais um pouco ainda, e ela vira Mao Tse-Tung. Você merece amigas melhores, querida.

beijos da sua admiradora,

VanOr