segunda-feira, março 19, 2007

Viagem rumo a si mesmo


Dia de mega arrumação-monstro no lar White. Daquelas. Que eu tava pra fazer desde que eu defendi o mestrado. De tirar tudo da parte mais alta do armário e do canto mais empoeirado do coração. De reorganizar pra deixar fluir. Incrível a quantidade de espaço que surgiu. Nos meus armários e dentro de mim.

Sabe aquela prateleira onde, a cada término de namoro, você vai tacando tudo que lembra o sujeito pra depois pensar no que fazer? Pois é. Hoje foi dia de encarar as prateleiras.

Até que a coisa não foi tão ruim. Não, em verdade eu vos digo: foi ótimo. Porque eu vi tanta coisa legal que foi bom lembrar de como eu sou legal. Cara, eu sou bacana. Bem bacana. Eu consegui me tornar uma pessoa legal.

Caderno de alfabetização – sim eu guardo como uma relíquia. Cadernos de redação de quinta, sétima série. Diário de quando eu tinha nove anos de idade, relatando os dias em que Tancredo Neves ficou internado. Um caderno onde os colegas de sala e professores escreviam no fim do ano. Tanta gente que eu nem sei quem é dizendo que “nunca vai me esquecer”. Um amigo dizendo que eu era uma pessoa legal, “apesar de esquisita”. Na minha época tinha um lance de caderno de perguntas. Em cada página deste caderno você colocava uma pergunta – do tipo: o que você quer ser quando crescer? Qual sua cor predileta? O que você acha de mim? – e numerava. Aí entregava pra pessoa, que ia respondendo em cada página, no seu número correspondente.

Agendas. As agendas são um capítulo à parte. Verdadeiros livros, pesados de tanto recortar e colar. De tantos Patrick Schwaysies, Tom Cruises e Rob Lowes. Ingressos de shows, de filmes. Bilhetes de sala de aula. Carteirinhas de colégio. Medalhas ganhas em competições nem sei mais de quê. Quando eu abandonei o hábito de escrever tudo na agenda eu passei a escrever em grandes cadernos espiralados. Dúzias de cadernos. Daqueles de mais de duzentas folhas. Todos cheios de questões e dores e dramas e inquietações...

Fotos. Muitas. Viagens.

A única coisa que eu joguei fora hoje foram meus cadernos de faculdade. Vamu combiná que anotação de sala de aula de faculdade de Comunicação não tem a menor importância, né? (que meus alunos não me leiam). Sem contar que eu só tive professor surtado que dava filme, experiências sensoriais, excursões, tudo, menos matéria (nunca senti tanta falta de fazer prova quanto na época da faculdade). Os textos eu até guardo, mas caderno...já vai tarde.

E cartas. Tenho uma caixa enorme cheia de cartas. Cartas de um ex amigo e ex amor onde a gente competia pra ver quem escrevia mais. Tenho cartas dele de 26 páginas, manuscritas, de um lado e de outro. A gente também mandava matérias de jornal sobre bandas e coisas que a gente achava que o outro ia gostar. Era Paleozóica Pré Internet e pré MTV.

Duas tranças de cabelo. Meu, claro. Porque volta e meia meu cabelo tava enorme e eu cortava quase curto. Aí guardava os chumaços de cabelo. Nunca tive coragem de vender.

Lembranças da minha primeira (e quase única) comunhão, de amigos, “santinhos” de morte, convites de casamento, participação de casamento dos meus avós - de 1928 - dos meus pais.

Descobri que o período onde eu estava mais magra na minha vida adulta foi há quatro anos atrás. Eu estava pesando 11 quilos a menos do que eu estou agora. E mesmo assim fazia dieta e me achava gorda, confirmando que de anoréxica e louca toda mulher tem um pouco. Então prometi pra mim mesma que o máximo que eu posso chegar de magreza é neste peso de onze quilos a menos. É o suficiente pra eu viver comendo as coisas que eu gosto. Menos é insanidade e sofrimento. E eu tô legal de insanidade e sofrimento, já.

Dei uma olhada em algumas dessas coisas antes de embalá-las em suas caixas e fiquei pensando que eu gosto muito da pessoa que eu fui, que eu sou e que eu ainda vou ser. Eu tenho orgulho de mim. Apesar de. Eu dei conta. Eu consegui. Algumas coisas são absolutamente iguais na minha vida e outras parecem que fazem parte de uma outra existência, vivida por outra pessoa. Acho que com quase todo mundo é assim, né?

E quanto mais eu limpava, selecionava, jogava fora e organizava mais leve eu ficava. Depois passei pras roupas. Eu dei um monte de roupa há pouco tempo, então não tinha nada pra ser doado, mas nos sapatos tinha uma grande quantidade de pares que eu não usava mais. A fila anda.

Gosto sempre de pensar nessa analogia entre a arrumação física e a arrumação das coisas dentro da gente. Acredito piamente no Feng Shui. Detesto guardar tralha e coisa que eu não uso. Guardo coisas de valores sentimentais: cartas, fotos, cadernos...Mas não tenho o menor pudor em me desfazer de coisas que não uso. E de sentimentos que não uso.

Acho que quando as coisas estão desordenadas – no quarto e dentro da gente – elas ocupam mais espaço do que deveriam e se tornam maiores do que realmente são. Quando você resolve encarar e consegue ver o que pode tirar de útil e o que deve ser jogado fora é incrível como tudo se torna mais fácil. Surge um espaço que você não imaginava que tinha. Espaço por onde é possível transitar com mais leveza. Espaço que fica a disposição de novos inquilinos, novas lembranças.

Estou exausta, mas não consigo dormir. Logo mais me levanto às 7:20 e tenho um loooongo dia pela frente. Que bom. Bom quando a gente tem um dia pela frente a ser preenchido.

Fico pensando, na minha morbidez habitual, até quando esse bem estar vai durar. Que desculpas eu vou arrumar pra achar que nada vai dar certo e voltar a ser a hiena do desenho. Quem eu vou ver e o que eu vou ver que vai me desestabilizar. Mas, quer saber? Foda-se. Depois eu volto novamente a ficar bem. A vida é essa ciclotimia mesmo. Quando as coisas estão muito “ruins” tá na hora de melhorar e vice versa. O que nos leva a pensar se existe mesmo o bom e o ruim ou se tudo não depende da forma como olhamos.

Uma ótima semana pra todos nós. Muitos recomeços. Muitos espaços novos pra serem preenchidos com novas experiências. Que aprendamos a encarar a prateleira nossa de cada dia.

3 comentários:

Anônimo disse...

Adorei o post, Carrie!
Eu tenho várias coisinhas guardadas tb. Tenho coisas até de qdo fiz o pré-escolar, a segunda e terceira séries. Bom, acho que ainda tenho, se minha mãe não jogou fora, numas doações de livro que ela andou fazendo :(. Faz tempo quero perguntar isso pra ela, mas fico sem coragem, com receio de ela ter dado junto, sem querer (suspiro).
Tenho algumas cartas tb, não muitas, pq sempre fui eu quem escreveu mais.
Já as agendas e os cadernos de questionário, eu joguei, ou perdi, não lembro.
Eu gostaria de escrever em cadernos, assim como vc faz, mas não sei pq não escrevo. Acho que é pq escrevo mto e-mail, embora as respostas sejam curtas, ou embora as respostas quase nunca venham, e nisso acabo escrevendo algumas coisas que eu escreveria num caderno. Mas eu penso bastante tb, e acho que isso me deixa com preguiça de escrever...
Tb guardo as coisas pelo valor sentimental; sempre que dá (e que a preguiça deixa,rs) eu faço o limpa(o ou a limpa?).
Agora o seu post me motivou a dar o start pra arrumar meu quarto, que faz tempo suplica por uma ordem,só que eu não sei arrumar tudo de uma vez, sou meio devagar, então vai ter que ser aos poucos.
Ah, e eu não gosto mto de mexer nas coisas antigas, pq trazem lembranças e sentimentos estranhos,às vezes ruins, às vezes bons.
E por falar em arrumação , gostei da que vc fez aí do lado direito. Os livros e filmes vão ser permanentes ou vc vai mudando? tb deu uma limpada nos links, não? ficou mais clean.
Ciclotimia, conheço bem essa palavra :(.
Boa semana pra nós, então.

Desculpe o comentário longo.

Carrie, a Estranha disse...

Oi, querida! Adorei o comentário! Sinta-se à vontade! Q bom q isso te motivou a alguma mudança! Bjs

Anônimo disse...

durante a faculdade (Comunicação tb) comprei dois cadernos daqueles pequenos, que até a 4ª série se usava, no meu tempo - até hoje são meu xodó. não cheguei a usar completamente nem UM deles.
pra vc ver...