Sempre me lembro de meu pai nesta época do ano; isto é: mais do que o normal, pois dia 5 faz 5 anos que ele morreu.
Tento ler um livro dele. Uma edição velha e carcomida pelo tempo de “Grande Sertão: Veredas”. Tenho o mesmo velho hábito de meu pai: riscar as frases prediletas, mesmo nos romances.
Pego algumas frases riscadas por ele e é como se, de repente, estivéssemos a conversar novamente: “Riobaldo, a colheita é comum, mas o capinar é sozinho” – diz pai. Contra-argumento com “Mire veja: o mais importante e bonito do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando”. Papai pondera que: “Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois, no fim dá certo”. E eu que: “viver é muito perigoso”. Seguimos nesse diálogo silencioso através das páginas de Guimarães Rosas e vou aprendendo mais sobre o meu pai, que era tão grande que não deixa nunca de me ensinar.
Sobre o insólito do nosso diálogo, pai me responde que “o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”. E vamos seguindo nessa longa travessia, que para mim, no momento, se transforma em real. Eu e pai, de mãos dadas; ele me mostrando aqui e acolá; eu fazendo perguntas sobre Riobaldo e Diadorim, como fazia quando a minha mão inteira cabia dentro da mão grande dele e andávamos por aí vendo as coisas do mundo de gente grande.
A gente nunca cresce.
8 comentários:
que lindo......fiquei emocionada...bjs.
Querida, Grande Sertão é um hino, talvez o melhor livro. É emocionante e a ligação mais perfeita da afetiva: "Diadorim é minha neblina".
bjs
Amo.Amo.
muito lindo, mesmo, emocionou. grande sertão é um livro que eu preciso muito ler. e é urgente. bjs
ei, valeu pelo link! bj
Minha linda
Que beleza voce falar deste homem espetacular que me deu estes filhos não menos espetaculares
Não podia ser diferente
Desculpem a corujice e a empolgação
Mother
Ôôô...esse é o meu bebê! Q atende pelo nome de mamãe!
Bjs
É cosnis, a garganta ficou apertada lendo esse texto.
Dois grandes homens, dois grandes médicos, dois grandes encontadores.
O velho João e o velho Herberto,
encantados. Travessia...
Um abraço
Ô, cosnis! Prazer tê-lo aqui. Foram algumas de nossas conversas q me levaram a este João.
Bjs
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