Começo do Joel:
“Era o melhor dos tempos, era o pior dos tempos, era a idade da sabedoria, era a idade da tolice, era a estação Iluminada, era a estação da Escuridão, era a primavera da esperança, era o inverno da desilusão, tinhamos tudo diante de nós, nada tinhamos diante de nós, iamos todos direto para o Céu, iamos todos direto na outra direção”.
“Era o melhor dos tempos, era o pior dos tempos, era a idade da sabedoria, era a idade da tolice, era a estação Iluminada, era a estação da Escuridão, era a primavera da esperança, era o inverno da desilusão, tinhamos tudo diante de nós, nada tinhamos diante de nós, iamos todos direto para o Céu, iamos todos direto na outra direção”.
1) "Era inevitável: o cheiro das amêndoas amargas recordava-lhe sempre o destino dos amores contrariados. O doutor Juvenal Urbino sentiu-o assim que entrou na casa, ainda mergulhada em penumbra, onde fora de urgênciapara tratar um caso que, para ele, já tinha deixado de ser urgente há muitos anos. O refugiado antilhano, Jeremiah de Saint-Amour, inválido de guerra,fotógrafo de crianças e o seu mais tolerante adversário de xadrez, tinha-se posto a salvo das inquietações da memória com um defumador de cianeto de ouro" (O amor nos tempos do cólera, Gabriel Garcia Márquez).
2) "Você vai começar a ler o novo romance de Italo Calvino, 'Se um viajante numa noite de inverno'. Relaxe. Concentre-se. Afaste todos os outros pensamentos. Deixe que o mundo a sua volta se dissolva no indefinido. É melhor fechar a porta; do outro lado há sempre um televisor ligado. Diga logo aos outros: 'Não, não quero ver televisão!'. Se não ouvirem, levante a voz: 'Estou lendo! Não quero ser perturbado!'. Com todo aquele barulho, talvez ainda não o tenham ouvido; fale mais alto, grite: 'Estou começando a ler o novo romance de Italo Calvino!'. Se preferir, não diga nada; tomara que o deixem em paz” (Se um viajante numa noite de inverno. Ítalo Calvino)
Começo da Amana (é, Cósnis, pórrumá oto, que ela já pegou o Guimarães):
"– Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvores no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha ocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser – se viu –; e com máscara de cachorro. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que, por defeito como nasceu, arrebitado de beiços, esse figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, cara de cão: determinaram – era o demo. Povo prascóvio. Mataram. Dono dele nem sei quem for. Vieram emprestar minhas armas, cedi. Não tenho abusões. O senhor ri certas risadas... Olhe: quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente – depois, então, se vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem,fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia. Toleima. Para os deCorinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar comcasa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredadodo arrocho de autoridade. O Urucuia vem dos montões oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo dá – fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas quevão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgensdessas lá há. O gerais corre em volta. Esses gerais são semtamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pãoou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a parte." (Guimaraes Rosa, Grande Sertão: Veredas).
3 comentários:
Então, cara Carrie, eu sempre passo por aqui e leio, mas sou uma sem-vergonha-não-comentadora, o que é uma lástima para qualquer blogueiro de respeito. Mas, saiba, aprecio muito seus escritos. E já que você pediu a colaboração dos frequentadores sobre inícios de livros, eis a minha sugestão:
“Nasci num quartinho pequeno, mas tão pequeno que os gritos da mulher que me pariu ricochetearam pelas paredes e acabaram engolidos por mim. Por isso, creio eu, cresci muda. Minha mãe era uma cigana filha do Vento, sem mais morada que o ar que cerca tudo, e mal acabou sua tarefa de trazer-me para este mudo, lavou-se com esmero e partiu para o nada do mesmo modo que veio.
Deixou-me, é claro, – ainda que enrolada numa manta – o que na visão dela era o bastante para manter-me viva e aquecida até que o Destino houvesse de encontrar para mim outra mãe com paradeiro mais certo. Muito tempo mais tarde, descobri que ela era regida pela Roda da Fortuna, Arcano Maior, instável e eterna – e perdoei-a sem mais, porque sabia que partira por instinto e que um ida haveríamos de nos reencontrar, as duas”.
(Letícia Wierzchowski – O Morro da Chuva e da Bruma)
Um forte abraço
Acho bonitas as aberturas intrigantes, que começam atiçando o leitor a querer saber o resto da história... :)
"Lolita, luz da minha vida, fogo da minha virilidade. Meu pecado, minha alma. Lo-li-ta: a ponta da língua faz uma viagem de três passos pelo céu a Boca abaixo e, no terceiro, bate nos dentes. Lo. Li. Ta.
Pela manhã, um metro e trinta e dois a espichar dos soquetes; era Lo, apenas Lo. De calças práticas, era Lola. Na escola, era Dolly. Era Dolores na linha pontilhada onde assinava o nome. Mas nos meus braços era sempre Lolita.
Teve uma precursora? Teve, sim, teve. Na verdade, talvez até não houvesse Lolita nenhuma se, certo Verão, eu não tivesse amado uma rapariga-menina inicial. Num principado junto ao mar. Oh, quando? Quase tantos anos antes de Lolita nascer quantos eu contava nesse Verão. É sempre de esperar num assassino uma prosa de estilo caprichoso.
Senhoras e senhores do júri, a prova número um é o que os serafins, os simples, mal informados e nobremente alados serafins, cobiçaram. Reparai neste emaranhado de espinhos."
(NABOKOV, Vladimir. Lolita)
esse post me fez descobrir q perdi minha edição do "cem anos de solidão" na mudança. merda... mas esse seria meu mais belo início de livro. só não tenho como copiar aqui pra vc. bjs
Postar um comentário