quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Ou, em bom português: "acaça seu rumo" *


Should I give up

Or should I just keep chasing pavements?

Even if it leads nowhere,

Or would it be a waste?

Even if I knew my place should I leave it there?

(Adele)




Não espere que as pessoas, mesmo as mais próximas, as mais queridas e as que mais te conhecem e te amam, aquelas que você jura que será amiga para todo o sempre e que te conhecem desde criancinha (às vezes até mais do que você mesma) vão te entender todo o tempo, estando sempre do seu lado. O amor morre, a amizade morre assim como eu, você, a Fátima Bernardes e a plantinha no xaxim. Mesmo que você regue e dê comidinha – a plantinha, não a Fátima. Ela pode durar mais com comidinha a aguinha. Mas um dia ela morre. Os sentimentos também. Ainda que se tenha todo o cuidado.


Não espere que elas tenham compreensão, mesmo que a casa esteja caindo pro seu lado. Não espere que elas aceitem os seus pitis ou as suas crises. Todo mundo tem o seu limite. Até os pais. O problema, meu amigo, minha amiga, quando o dia acaba, é só seu e no final das contas a coisa não tá boa pra ninguém e se a farinha é pouca, meu pirão primeiro. Salve-se quem puder, não é verdade?


Não ache que a convivência tolera tudo. Não mesmo. E nem tô falando em ver o outro com creme verde na cara, com 15 quilos a mais, TPM e camisolão de algodão. Nããão. Falo bem menor do que isso. Um dia – embora possa demorar – ele cansa. Um dia todos nós cansamos. Até o William Bonner cansa. E quando a gente cansa, só sobra a gente. Por isso, cuide dos seus afetos, mas cuide mais ainda de você mesmo. Não que isso vá impedir de você se cansar de você mesmo, mas...


Quando o tempo é pouco, a qualidade do tempo é outra. Se você tá ali, dando sopa, é como se fosse permitido brigar. Afinal, você está ali mesmo. Que que tem ficar um dia ou dois sem falar com você, não é verdade? Afinal, são dois dias de briga a menos. Depois disso você e a pessoa continuarão ali para se odiar por mais 365 dias.


Quando eu fui pra NY uma das grandes diferenças foi sentir a qualidade do tempo das pessoas ao meu redor. Parece que ninguém queria perder tempo com bobagem – nem eu. Eu quero me sentir de novo como que partindo. Ainda que não. Ainda que. Ainda.


Mas pode ser que eu esteja redondamente enganada e nunca tenha conhecido o amor sob espécie alguma. Pode ser. Sim, leitor esperançoso. Ignore essa pobre alma que já nasceu amarga – e comeu muito jiló no almoço. Segundo a Menina com nome de fruta, eu não acredito nem em Deus e nem no Destino – que Toninho não me ouça, coitado, se não aí é que ele briga de vez comigo (nessas horas em que eu vejo que escrever sobre si é sempre é um processo de outrar-se já que eu consigo passar, muitas vezes sem querer, exatamente a idéia oposta do que eu realmente “sou” - o que quer que isso signifique - fazendo com que até pessoas que me conheçam briguem comigo por coisas que lêem, esquecendo que quem escreve é a Carrie que, ainda que seja eu, não sou eu. Ela parece muito comigo, mas não sou eu. Ela diz coisas que eu não digo. Eu sou bem mais tediosa que ela. Mas eu também sou ela. Confuso? E quando elas escrevem sobre personagens elas escrevem sobre elas mesmas, ainda que as personagens sejam um rei da Idade Média. É sobre isso, a minha tese, no final das contas. Sobre o poeta que finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente. Sobre ser tantos pra no final não ser nenhum e "perder" a identidade no meio da multidão).


Deve ser por isso que as pessoas têm filhos. Pela ilusão de que vão conseguir sentir isso por alguém e, quiçá, ser correspondidos. Não, isso não tem nada a ver com o início do post, mas na minha cabeça tem. Aliás, nada nesse post tem a ver com nada – dirá o positivista leitor ali do canto. Tem razão, leitor. Aposto que o Joel já tá pensando: doutorado dá nisso?


Já passou – e muito – do tempo de eu procurar minhas próprias calçadas.

* O sobrinho da minha amiga Fló, de 3 anos, um dia chegou pra a vó e disse: "vovó, porque quando eu fico fazendo bagunça você abre as mãos assim - [nisso ele fez o gesto] - e fala: João Daniel, acaça seu rumo, João Daniel. Acaça seu rumo!"

Porque, João Daniel, todos nós temos que acaçar nosso rumo quando a gente começa a fazer muita bagunça.

7 comentários:

Ila Fox disse...

Esta sensação de que temos que fazertudoaomesmotempoagora, tbm me persegue... eu não consigo ficar "a toa", sinto me inutil, como que desperdiçando minha vida sabe? E engraçado que mesmo quando faço tudo que quero eu sinto que poderia ter feito MAIS e MELHOR! afff, sou muito perfeccionista comigo mesma e isso me mata!
Me esqueço que as vezes é necessário ter estes momentos de "desfragmentação cerebral". Senão a gente enlouquece.
Alias... descobri que quanto mais eu penso mais minha vida se torna dificil de ser entendida. Descobri que as vezes a ignorancia é o primeiro ingrediente da felicidade. Pode ver! se inteligencia fosse garantia de descobrir todos os segredos da vida todos os filosofos, cientistas, pintores, matemáticos e tal estariam atrás do trio elétrico (urgh). Ao contrários, estas pessoas estão sempre com ares melancólicos como que se perguntando o sentido da vida.
E se elas nunca descobrirem?
E se elas já descobriram e por isso que estão desanimadas?
Aiai. Melhor eu parar de pensar! O_O

*

Amor? se um dia você sentir, vai preferir ter continuado sem sentir.
E se você já sentiu, talvez justifique sua sensação de que comeu muito jiló no almoço.

*

A verdade, Carrie, é que ninguém nunca vai entender a gente, nem nós mesmos.

*

Bom deixa eu acaçar meu trabalho aqui...

Beijocas

Lost Girl disse...

Afinal "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã". ;o) O problema é que a gente sempre acha que vai ter um amanha. A gente sempre acha que vai dar pra se desculpar. A gente sempre acha que vai dar pra esquecer, pra recomeçar, etc. Só que, né. Nem sempre dá. Mas com isso também tudo se desgasta, né? Sei lá. As pessoas REALMENTE deviam passar a tratar as outras sempre como se fosse o último dia. Pq aí muita BOBAGEM é deixada pra lá. Bobeirinhas, picuinhas, briguinhas. Coisinhas bestas que só desgastam relações e que não têm um pingo de importância. Garanto que se a pessoa estivesse no seu ultimo dia de vida, ia deixar passar tudo isso e se concentrar SOMENTE NO QUE É BOM. E aí a vida ia ficar tão mais leve, mais fácil, mais divertida. A gente tem que filtrar. O problema é que a gente sempre esquece e acha que tudo é pra sempre. E assim a gente perde TANTO TEMPO na vida, meu deus. Com coisas bestas. Tanto tempo que poderia ser tão melhor aproveitado. Com coisas boas.

Mas mesmo com isso tudo, a gente nunca pode deixar de lembrar que, no fundo, no fundo, somos sozinhos, mesmo. Isso tb poupa mto sofrimento.

Ana Manga disse...

Miguxa, a probabilidade de vc se expressar bem, de que seja bem claro, especialmente pra quem e diz especialista em ler vozes de textos, que tu num é a carrie (o quê???) e carrie num é tu (num brinca???) é muito, mas muito mais alta do que essa de vc estar se "outrando-se" equivocadamente. Vc se outra-se adoravelmente, nóis é que cafudimo as bolotas. Pra todo caso, eu me arremedo rápido (pelo menos), e de agora em diante te convido pra todo culto pagão e prática do "segredo" pra mó de arrumar mais farinha pro nosso pirão. Na verdade, eu fico é consolada. Posso por exemplo encerrar esse comentário dizendo: nó, miguxa tipo coisa de destino isso d'eu ter te achado, né? Benza deus ;)
Quem se outra-se equivocadamente nos outros cest mois. É o espelho que anda afastado do homi e do destino, de repente, vai saber...
Bjoks, miguxa!
Menina com nome de fruta :o)

Ana Manga disse...

P.S.: Lembrei que eu ia comentar era isso de estar de passagem, e como a qualidade das relações - entre a gente e as pessoas, lugares, a gente mesmo... - melhoram porque tem-se a impressão de que não temos todo tempo do mundo, já diria a bandinha. Mas tô achando melhor fazer um post sobre, q já tô é monopolizando sua paradinha de comentários. Bju!

Anônimo disse...

Carrie, o amor é uma merda... mas quanto a valorizar enquanto ainda dá tempo... bah todos nós fazemos errado...nós todos somos antas, não sabemos administrar nada,nem a piii da nossas vidinhas bestas, empregamos tanta energia e tanto, tanto tempo em tudo e as certezas nunca chegam. Nos dias em que a ficha cai (de vem em quando sabe)a pergunta mais sensacional de todos os tempos:por que to fazendo isso mesmo?
Sandra Lee

Anônimo disse...

Acabei de ler o teu poste e lembrei-me destas palavras: "Remoinhos, redemoinhos na futilidade fluida da vida!" .

São do "Livro do desassossego", de Bernardo Soares, heterónimo de FP.

Carrie, a Estranha disse...

Oi Helena,

Puxa, eu gosto muito de F. Pessoa e do livro do Desassossego em particular. E era exatamente nele q eu pensava qdo falava do outrar-se - q nem é minha a expressão, mas de uma pesquisadora q fala dele.

Ana,

Não tá monopolizando nada. Fique a vontade. Não, tem nnguém cafundindo as bola, não. Os textos são abertos, como diria Umberto, o Eco, e quem somos nós para imprimirmos sentido a eles. É coisa q eu fico surpresa. Pq se eu passo isso, de alguma forma eu tb sou.

Oi, Ila, Lost e Sandra!

Bjs