sexta-feira, janeiro 02, 2009

Um post ressaquento


Ai, pessoas. Detesto esses blogueiros que só se desculpam pela ausência, mas não tem jeito. Às vezes acontece. Acho que nunca fiquei tanto tempo sem blogar. Nem posso dizer que é falta de tempo, mas falta de internet + preguiça + chuva.

Estou aqui, nos cafundós das Gerais, praticamente ilhada – às vezes a chuva cai ininterruptamente por mais de 24 horas. Comendo, dormindo, sendo acordada pelas infindáveis discussões da minha mãe com as minhas tias (sempre sobre temas que definirão o rumo da humanidade, como por exemplo o ano em que Fulano morreu, qual a cor exata que Beltrana passa no cabelo, do que afinal morreu Sicraninha ou outros que tais), pelo velotrol da minha sobrinha ou pelo meus primos mais novos com os amiguinhos. Nas horas mais vagas, ou que a chuva dá uma trégua, dou uma volta na rua, aperto criancinhas, encontro amigos e primos. No dia de Natal caí, enganada, num baile funk no clube local – me enganaram, eu achei que era um baile do clube, mas era um baile da Eclipse Night Club. O momento áureo do baile foi quando soltaram uma fumaça, tipo um gelo seco (pra mim era peido alemão) e nós nos trancamos do lado de fora da janela. Ah é. Também foi engraçado eu entrando de graça e ainda por cima com uma lata de cerveja. Me fizeram terminar de beber a cerveja do lado de fora – mas eu consegui entrar de graça. Porquê eu não sei. Talvez seja pelo fato de eu ser uma espécie de Serena Van Der Woodson local – cada cidade tem a Serena que merece. NY tem a Blake Lively, Andrelcity tem Carrie White. Yep. Depois estava indo embora descalça, com Formiga Irmã me dando bronca de eu estar muito devagar quando fui resgatada por um dos meus primos. Ainda fomos pra casa do meu tio beber cerveja até o dia clarear.

Mas o fato é: a idade chega para todos nós e eu não consigo sair mais dois dias seguidos e beber até cair e chegar as nove da manhã (ah, meus 15 anos!). Preciso de um dia pra me recuperar. Se não Dona Henriquetta reclama que eu to atrasada no crochê.

O Reveillon foi também muito bom, e só tenho a declarar que estou de ressaca até hoje – sem contar uma febre que ameaça.

Agradeço todas as mensagens bonitinhas que vocês colocaram nos comentários. Queria ter feito um post estilo “Retrospectiva 2008” e “Planos para 2009”, mas passou o momento e eu não fiz.

Anyway, Bial. Mudando de assunto.


Sábado eu fui a um típico evento caipira: encontro de violeiros numa fazenda perto de Madredeus. Alguns dos maiores violeiros de Minas Gerais (e arrisco a dizer, do Brasil) estavam presentes. A fazenda era muito bonita e, apesar da chuva, do barro que fazia os carros deslizar e dos banheiros químicos foi tudo muito bom.

Só um parêntese: eu queria saber quem foi o infeliz que inventou o tal do banheiro químico. Ponto 1): Qual é a química usada em tais recipientes do demo, já que nunca se viu um banheiro químico limpo. Ponto 2): Não raro, a luz do banheiro não funciona (papel higiênico até tinha, milagrosamente). Então era acertar no alvo segundo intervenção divina, uma vez que eu não ia sentar onde eu não conseguia sequer enxergar. Ponto 3): Banheiro químico é a certeza absoluta de que ninguém vai lavar as mãos depois. No banheiro normal há pelo menos a ilusão de que as pessoas – principalmente os homens – lavam as mãos. No banheiro químico, esqueça. Ponto 4): O que é a descarga que fica dando automaticamente? Além disso, um dos banheiros foi posto meio de banda e eu sempre imaginava aquela casinha caindo e eu rolando e sendo encontrada de calças na mão, com meio metro de papel higiênico usado colado no meu rosto.

Outra coisa: o barro. Quase aconteceu comigo o que aconteceu com mamãe certa vez. A estrada de Gotham City para cá era toda de terra há um tempo atrás – hoje em dia sobram poucos quilômetros só de terra, quase tudo foi asfaltado. Então bastava começar um período de chuvas pros carros atolarem. Certa vez, no meio de um atolamento, mamãe saiu do carro, de tamancos – os velhos tamancos dos anos 70. No que ela pisou no barro e levantou o pé o tamanco ficou. E nunca mais foi encontrado. Como diria uma amiga de mamãe: “nós fomos as rainhas do chantilly”. Pois bem. Estou eu, andando com meus sapatinhos pretos comprados em New York City, quando um deles ficou no barro enquanto eu fui obrigada a pisar só de meia com o pé – ou eu me desequilibraria e cairia no chão. Voltei de barro até o joelho, quase. Mas pelo menos não perdi os sapatos.

Tirando essa parte chata, o evento em si foi muito legal. E me deu margem pra pensar em vários projetos de doutorado, mestrado bla bla bla. Pois, depois que você entra no mundo acadêmico é um caminho sem volta. Você passa a olhar tudo com os olhos de eu-acho-que-isso-daria-um-bom-projeto. E bom projeto se traduz em dinheiro pra você trabalhar onde todo mundo se diverte, ou se divertir enquanto está trabalhando - que nem o ginecologista da Gisele Bündchen ou o urologista do Santoro (especialidade, aliás, do meu velho pai). Se você está na área das Ciências Humanas e Sociais que nem eu tudo pode resultar em um bom projeto. Só basta ter imaginação.

Apesar de anos de freqüência em Minas Gerais eu sou leiga na música caipira ou de viola – não confundir com música sertaneja, aliás, abordaremos esse tema já, já caro leitor.

Então vários pontos me impressionaram.
Pra início de conversa, qualquer fã ardoroso de um único estilo musical é meio mala. Além de meio mala, afirma o seu gosto denegrindo os alheios. Vide punks, sambistas, roqueiros, jazzistas, pagodeiros...Com os violeiros não poderia ser diferente. A música de viola é a melhor do Brasil porque expressa a verdadeira cultura brasileira.

Ponto número 1: a autenticidade é critério de valor. Evidentemente, autenticidade segundo os critérios definidos por eles mesmos. Em conseqüência disso, toda e qualquer manifestação da cultura de massa – e aí entra a música sertaneja – é vista como nociva à verdadeira música de viola. Menos o Almir Sater. O Almir Sater ajudou na popularização do ritmo, com a novela Pantanal. O Almir Sater é legal. Ainda que ele vá no Faustão. Ele pode.

Ponto 2: por ser a verdadeira música de raiz, autêntica, bla bla bla, ela é uma forma de resistência cultural. Odeio – O-D-E-I-O – essa palavra resistência – a não ser quando utilizada em contextos de física newtoniana (ou sei lá que parte da física trabalha com resistência, atrito e bla bla bla). A cultura é móvel. A cultura é maleável. Se você precisa resistir bravamente pra que um ritmo não acabe, alguma coisa está fora da ordem. Longa bibliografia sobre o assunto (Hermano Vianna, Canclini, Barbero, Formiga Senior...).

Ponto 3: lá pelas tantas um dos caras que tavam cantanto me vem com o papo de que “esse evento é uma resistência cultural contra as eguinhas potocós da vida”. Cara...Deixemos a eguinha potocó em paz. Se ela existe, é porque existe gente que gosta e ouve. Deixemos a Mulher Melancia, os pagodeiros e os axés todos em paz. Eu, a-nível-de-selumano-enquanto-pessoa-gente, não curto. Mas, nem por isso digo que isso não é música.

Além de tudo, o cara que tava pregando contra a eguinha potocó e a favor da viola é um “violeiro zona sul”, daqueles criados em apartamento que resolveu estudar viola. Como diria meu primo, criado a Danoninho. Então, a pergunta é: se o critério de música “de raiz” é ser “do povo”, como ele mesmo parece alardear, quem é mais “do povo”: o violeiro-danoninho ou o Lacraia? Um evento a 90 reais a mesa pode ser considerado “pro povo” e “do povo”? Cultura popular pra quem?

Resumindo, minhas questões seriam basicamente as seguintes: 1) o que caracteriza a moda de viola e o que a distingue do sertanejo? (caipira é sinônimo de viola?); 2) Quais os critérios de valor para se julgar a boa moda de viola? Quem são as autoridades culturais e como elas estabeleceram? 3) Autenticidade X massificação.

Esse assunto dá pano pra manga e, com certeza, já devem existir bons trabalhos abordando algumas dessas questões. Eu, me recolho na minha insignificância de apenas curiosa, aliada a algumas parcas leituras sobre o tema. Além disso, minha ressaca ainda não me deixa pensar com clareza. Mas fica a sugestão.

4 comentários:

Unknown disse...

Eu também passei as festas em Minas! e como se diz: "meu sertão virou mar" Nunca vi chover tanto, nem em Londrina - PR, chove tanto assim, cruzes!

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Aliás, acabou de começar a chover novamente aqui em BH.

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Sim Carrie, a idade chega um dia para todos nós. Eu não consigo mais correr até o ponto de ônibus. Que seja falta de preparação física. Mas antes eu conseguia correr um domingo todo na casa dos primos sem me cansar, por que agora não consigo simplesmente dar uma corridinha até o ponto de ônibus sem ficar me sentindo como se tivesse 70 anos? por que??

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Eu só tenho uma coisa a dizer: tenho medo de banheiro químico. Mesmo que eu quisesse eu simplesmente não consigo usar banheiros suspeitos. Eu travo geral.
E eu ri muito com sua idéia do banheiro descer rolando o morro. :-P

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Carrie, eu acho que qualquer fã ardoroso de qualquer coisa é um mala. Apoio a flexibilidade de idéias e gostos. ;-)

Carrie, a Estranha disse...

Oi Ila!

Nossa, eu não consigo segurar atividades fisiológicas. Preciso ir nem que seja no matinho.

Bjao

Ila Fox disse...

Puxa, fazer no matinho exige grande dose de concentração heim? as vezes estou no banheiro, e se tem gente conversando na frente da porta eu travo. Argh!

Carrie, a Estranha disse...

Anos de prática! Rsrsrs...