terça-feira, janeiro 20, 2009

O dia em que os EUA fizeram as pazes com o mundo *

O Jimmy Carter ainda é vivo? Jurava que ele tinha morrido há séculos.


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Os ex-presidente Dick Cheney distendeu um músculo das costas ao carregar caixas da mudança da Casa Branca.

Pergunta: se até aqui em casa, que apesar de Versailles não é a Casa Branca, sempre tem um empregado, um jardineiro ou um vigia pra ajudar, será que a Casa Branca não tem um filho de Deus pra ajudar o homi a carregar uma caixa?


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Acho que o Jorge Pontual sai do armário nessa cobertura. “E a multidão explooooode!”.

É posse de presidente, Pontual. Não é desfile no sambódromo.


- Pontual, você tá emocionado?

...

- Pontual?


Silêncio.

Acho que foi confraternizar com a massa de negões espetaculares.

Eu quase morro de rir dessas coberturas.


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Pelamordedeus, Maria Beltrão e todos os jornalistas da Globonews: NÃO é BÉÉÉÉrack Obama. É BaRÁÁÁÁck Obama. É só ouvir o hominho anunciando. É só ver a CNN de vez em quando. É BarÁÁÁÁÁqui. Paroxítona. BÉÉÉÉÉraqui não é aqui nem na China. Nem na Arábia. Nem nos Estados Unidos.

Vou ter que dar uma de esnobe e ver na CNN.


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Falem o que quiser dos Estados Unidos, mas são ou não são a maior democracia do planeta? Com problemas, com mil defeitos, longe do ideal, mas, ainda assim a maior democracia.


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Lágrimas, lágrimas.

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Imagens do Harlem. Telão em praça pública. Minha amiga Karen deve estar por lá. Na biblioteca da NYU os alunos devem estar todos no refeitório vendo na TV. Na Times Square deve ter gente assistindo.


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Como já disse aqui a beleza desse momento histórico vai além do que vai ou não acontecer. Obama é apenas um homem em uma estrutura complexa que dá pouca chance a mobilidade. É a força simbólica do momento. E qualquer coisa é melhor que mais Bushs e afins.


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Estuda-se História por vários motivos. Cada um tem seu motivo e muitos têm o mesmo. Há razões práticas, óbvio. Há quem estude, mas não goste. Há o acaso e o aleatório. Eu só passo falar de mim e, obviamente, em retrospectiva - e, como tal, construo e costuro significados a partes da minha vida. Hoje eu vejo que eu estudei História e sempre gostei de História porque através dela aprendi a relativizar a minha própria vida. Com a História é possível ver mudanças gritantes em muito pouco tempo ou situações que sobreviveram por séculos ruírem em segundos. História me deu perspectiva. Com História você vê que tudo é possível. O dia de hoje é a soma do Mandela, da Revolução Francesa, de Rosa Parks, de Martin Luther King, de Henry David Thoureau, da queda do Muro de Berlim e de todos os muros de injustiça e opressão, dos pais fundadores dos EUA - que criaram um país ancorado em valores como o direito a buscar a felicidade, assegurado na Declaração de Independência -, mas também de cada sioux e apache morto brutalmente pelos brancos, de cada prisioneiro torturado em Guantánamo, de cada imigrante mexicano ilegal trabalhando a um salário de fome, de cada negro morto pela Ku Klux Klan ou nas fazendas de algodão, de cada cubano que chega de balsa, dos governos de Bush, de cada palestino e judeu morto, de cada político corrupto brasileiro e de cada ditador latino-americano. Ao constatar esse fato é também possível ver que nossas próprias vidas são o resultado tanto das nossas guerras como dos períodos de paz e de atitudes muitas vezes independentes e aparentemente desconectadas. Com História você aprende que nada está desconecatado. A dificuldade é enxergarmos os invernos da nossa vida sabendo que eles são parte do ciclo das estações. Se você consegue se lembrar disso, encontra forças para esperar seu momento de florescer – esperar tendo semeado, pois a esperança estéril, apenas por esperar, o otimismo vazio, também é burrice. John Biden, o vice, pensou em abandonar a política, depois do inverno de perder um filho se abateu sobre a sua vida. É difícil olhar pra cima e pra frente quando o chão abre diante de nossos olhos te sugando com toda a força. A vida é curta, o tempo é pouco e podemos ser arrancados antes da colheita. Então estudar História te dá forças pra ver além. Em momentos como esse, onde eu vejo que foi possível eleger um negro num dos países mais racistas do mundo, eu lembro porque eu estudo História. Olhar a História me deu largueza de visão. Porque História não é aquela coisa cheirando mofo que fica presa nos livros pra gente decorar. História é a sua própria história, amigo.

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Obama é apenas um homem em uma estrutura complexa que dá pouca chance a mobilidade? É. Mas é assim que se muda. Muito pouco e devagar. A gente mesmo muda muito pouco. Mas o pouco que mudamos é muito. Estudar História é ver as mudanças e continuidades. E lembrar que nós também somos feitos delas.


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Piada da Lúcia Hipólito, pra mim a melhor de toda a cobertura: “A famosa mão invisível [do mercado] tem artrite”. Ou seja: por mais que finjam – é, só fingem, porque são os primeiros a intervir quando lhes interessa - os liberais, o mercado não se auto-regula. Laissez faire,laissez passer, le monde va de lui-même¨'. (Deixai fazer, deixar passar, o mundo caminha por ele mesmo) é o caralho! Marx falou isso, mas alguém escutou? Não. Nem os próprios marxistas, nem os liberais.

* Até quando, não se sabe. A paz é possível, mas é relativa.

6 comentários:

Anônimo disse...

Carrie,

É JOE Biden, não John (Joseph "Joe" Biden).
Marx não teve que por em prática o que pregou, sobrou pro Lenin que se f* todo e deve ter xingado muito o barbudo. A história soviética mostra que tentar controlar a economia não funciona.

Carrie, a Estranha disse...

Querido Joel! Qto tempo!

Já estava sentindo falta das suas constantes correções, críticas e comentários q variam entre o emputecimento e o sarcasmo e eu nunca sei se estão do meu lado ou a favor. Bem-vindo de volta! (Pelo menos, assinando com o seu nome, é claro).

Eu pesquisei na internet antes de escrever "Joe" pq realmente não conseguia entender se o nome dele era Joe ou John e vi as duas formas, além de ver q o nome dele era de verdade era Joseph. Como não entendo muito bem sobre apelidos americanos, e sou um pouco burrinha, acabei colocando John. Que,realmente não é apelido e sim nome e não faria sentido. Perdão.

A História inteira - e não só a soviética - mostra q tentar controlar a economia não dá certo. Ao mesmo tempo deixar a economia solta tb não dá certo - e é impossível - como creem os liberais. Na verdade eles fingem q vão deixar solto, pra na verdade regular qdo e no q lhes interessa. O mercado não é uma entidade q fica "nervosa", "tranquila" e tem que ser acalmada de tempos em tempos. O mercado é uma construção histórica. Foi isso q eu tentei dizer - mas provavelmente não consegui, porque, vc sabe, nem sempre eu consigo explicar o q eu quero, ainda mais assuntos sobre economia e Marxismo q eu nunca tinha estudado até o doutorado e, mesmo neste, fiz apenas quatro cursos q versavam unicamente sobre o assunto, o q é muito pouco tendo em vista a complexa obra desse grande teórico.

Lenissa disse...

"Como já disse aqui a beleza desse momento histórico vai além do que vai ou não acontecer. Obama é apenas um homem em uma estrutura complexa que dá pouca chance a mobilidade. É a força simbólica do momento. E qualquer coisa é melhor que mais Bushs e afins." É por essas e por outras que eu adoooooro o Fublime Fucubuffff... penso tal-e-qual! Bjkas!

Andrea disse...

Eu também acho binito esimbólico o Brasil eliminar uma virgem do BBB e deixar uma biscate convicta que ainda por cima combinou voto pra emparedar a outra.

Sim, é o BBB9 e é por ele que eu acredito que o Brasil tá aprendendo a votar e que o futuro será melhor.


Beijomeligaquandovieraorio.

Dali disse...

Carrie,
Sobre todas as coisas que já ouvi (opa! li!) sobre o Obama, a maioria servia apenas como uma forma (meio pop, meio boba) de exaltar a força negra e tal, e bem no final, acho que o vc falou foi a primeira colocação que eu gostei e concordei:
o verdadeiro momento histórico da coisa está bem aqui: um negro ter sido eleito presidente de um dos países mais racistas do mundo. O fato de ele ser negro não representaria nada em sua ficha se esse não fosse o símbolo desta grande nação que hoje se transforma... e sim, essa pequena mudança na linha da história que hoje põe um marco em cima de um assunto tão controverso e antigo...

beijos e adorei o post!

Carrie, a Estranha disse...

De baixo pra cima:

Oi Dalila!

Sim, eu acho q o mais importante é um negro q se elegeu por ter conseguido chegar até Harvard e por ter um discurso não racista as avessas, magoado e ressentido.

Andrea,

Serio? Foi assim? Confesso q não consegui ainda engrenar nesse BBB. Tonoriovouteligarporquetosemcel.

Lenissa!

Saudades! Bigada, bigada, companhela!

Bjs