terça-feira, novembro 04, 2008

O pote de ouro



Esses dias me lembrava – aliás, Mab é que me lembrou – daquele filme do Woody Allen, “Husbands and wifes” onde dois homens são vizinhos de porta, um mora de frente para o outro. Um deles, casado, observa a casa do vizinho da frente, solteiro, pelo olho mágico. Vê lindas mulheres chegando, música e sinais de festa. Quando ele entra, a mulher dele está de bobs no cabelo, com máscara na cara, roupão e assistindo TV. Ele suspira desanimado, pensando na vida do vizinho. No dia seguinte, a mesma cena ao contrário: o homem que dera a festa no dia anterior olha pelo olho mágico o vizinho da frente. De ressaca, solitário, domingão. A cena que observa é o marido saindo com a esposa, uma cesta de piqueniques e filhos. Ele suspira, desanimado, pela vida do vizinho.

Ambos têm razão. Ambos são felizes. Ambos são tristes. Porque não dá pra se ter tudo. Definitivamente não dá.

A cena toda poderia ser resumida na frase “a grama do vizinho é sempre mais verde”, mas há maneiras mais sofisticadas – e enganosas – que nos fazem perceber (ou não) isso. O fato é que toda vida olhada por trás do olho mágico ou por cima da cerca é mais glamurosa do que realmente é. Só que não se pode perder de vista que há gramas mais verdinhas do que a nossa, bastando para isso abrirmos mão do nosso pasto conhecido – só para continuar nas metáforas gramíneas. Mas a questão é: como saber até que ponto estamos idealizando um lugar que não existe ou até que ponto esse lugar realmente está ali ao alcance dos que se dispuserem a ir até lá? A “felicidade” - com todas as aspas – deve ser o nosso horizonte? Que, como todo o horizonte, foge cada vez que chegamos perto?


Eu ando em dúvida se o pior é o tédio ou o sofrimento. Porque o sofrimento me parece ser o primeiro passo pra mudança – não necessariamente alguém muda com o sofrimento, mas fica a dúvida se é possível mudar sem ele (sem querer advogar em favor da dor, mas é difícil pensar se alguém muda se não for por um grande e imenso incômodo com a situação atual). O tédio parece encobrir os verdadeiros sintomas como uma nuvem meio cinzenta, que a gente nunca sabe pra que lado vai nem onde realmente está. Na dúvida, deixamos ele ali. Daí pra dor, já é um avanço.

Mas a dor também não é garantia de nada. Afinal, entre o gozo e a dor os limites são tênues. Aliás, se confundem em muitos casos e você nem precisa ser masoquista pra saber disso. Por ser conhecida, a dor é um lugarzinho confortável. É bom reclamar. Fica sempre uma dúvida de que, em algum lugar, possa existir a salvação. O pior é sair e descobrir que não existe salvação. Que não existe um lugar melhor. Constatar que tudo aquilo que se supunha a resposta para os problemas é também um local de dor. Aí você já não tem pra onde voltar. Nada mais é seguro. Você fica preso numa espécie de limbo – que, como a gente sabe, foi abolido pelo Papa. Esse papo de que é preciso mudar, nem que seja pra uma dor diferente nem sempre funciona. A dor conhecida é muito melhor do que uma nova.

Mas volto a dizer: a diferença entre constatar que uma certa dose de dor sempre vai haver (e você aprende simplesmente a lidar com ela) ou quando estamos sofrendo inutilmente, já que é possível sim, ir para outro lugar, é que são elas. Na dúvida, muita gente prefere o tediozinho. A nuvenzinha. Afinal, não tá doendo. Às vezes o problema é não doer.

4 comentários:

Anônimo disse...

O pior de tudo realmente é não doer, é o vazio, como se a gente fosse um sonâmbulo diurno, no viver. Este vazio implica em uma paralisia, pois como você falou, a dor é um primeiro passo para a mudança. O ruim é se acostumar com a dor, por ela ser conhecida, e perder o medo de arriscar. Que a vontade de ser potente permaneça sempre conosco!

Anônimo disse...

Definitivamente não dá para ter tudo...mas a gente tem que buscar aquilo que faz a gente se sentir satisfeito...pelo menos na maior parte das vezes. O vazio, o nada, a indiferença é a morte em vida...se acostumar com a dor é deixar de sonhar. E como diz o(a)anônimo(a) aí em cima...Que a vontade de ser potente permaneça sempre conosco!!!.

Anônimo disse...

Hum... tocastes na minha ferida hoje não seu se gosto
bjs
Sandra Lee

Anônimo disse...

ó minha flor. Seu post O Pote de Ouro é genial. Estou sentindo tudo o q está ali. O Nada fica cada dia maior e num tô achando como renascer. Tento fazer um blog, pois saí de sampa p/ morar no interior e tô enlouquecendo apesar de saber q o lugar ideal é dentro da gente -mas quem disse q é fácil fazer um blog?