sábado, outubro 25, 2008

A crise

Atendendo a pedidos – da minha massa de leitores – hoje falarei sobre a crise. Do ponto de vista de quem está no olho da crise. De quem vivencia a crise.

Crise? Que crise? Ah, sim. A crise financeira, claro.

É...a crise...pois é. (Cof, cof). A crise é uma coisa muito séria. Hãn...

A verdade é que eu não sei falar da crise financeira estadunidense. Não mais do que vocês. Eu não conheci o país sem crise. Então meu referencial é o mesmo. Se isso aqui é a crise, uau! Manda lá pra casa! Quero duas e pra viagem! Com uma coca diet.

Cheguei dia 12 de agosto. As coisas deram uma piorada a partir de setembro, mais ou menos, não é isso? Meu amigo brasileiro que está aqui desde janeiro diz que o preço das coisas no supermercado aumentou. Com três meses de Nova York não dá pra eu dizer isso. O preço do meu La crema Danone, do Special K, do Low fat Milk 1% e do pão integral são os mesmos desde que eu cheguei. Meu café continua o mesmo. O Victoria’s Secrets também continua o mesmo – 5 e pouco (nem adianta pedir pra eu levar, pobrada, porque eu não tenho dinheiro. E como diria a avó da Raquel “encomenda sem dinheiro não sai do Rio de Janeiro”).

Além disso, eu convivo num universo muito restrito. Vou pra biblioteca todos os dias onde está todo mundo estudando. Encontro pessoas, a maioria estrangeira. Sento no refeitório pra comer e a TV está ligada na CNN. De vez em quando alguém passa e resmunga qualquer coisa. Esses dias um cara de um país que eu não sei qual é ficou falando horas comigo. O quê eu nem faço idéia. Algo sobre a Rússia e os EUA e EUA apoiarem conflitos em outros países. Jornal eu só leio as versões online do New York Times, CNN e Globo – leio não, seleciono uma ou outra notícia. Quando consigo pegar o jornal do Metrô, que é de graça, também leio. Comprar? Cês tão loucos. Dar 1,5 num jornal? Prefiro dar no meu café que me é muito mais útil. O New York Times de domingo é 4,50!! Isso é o preço de Little Woman, livro da Louisa May Alcott, no Strands. Não. De jeito nenhum.

É que nem aquela frase que se as pessoas soubessem como são feitas as leis e as salsichas...pois é. Eu incluiria as notícias. (Fui googlar e, crente que eu estou pensando em uma coisa original, descubro que alguém já pensou nisso) http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/helioschwartsman/ult510u356201.shtml

Minha bolsa é a mesma e, ao menos que o mundo quebre na próxima semana, não vai mudar. Meus dólares foram comprados quando eu estava no Brasil – e comprei por 1,68. A grega safada porcalhona da Silva Sauro continua me explorando pelo mesmo preço – como eu já disse eu sou a terceira pessoa que mora aqui esse ano e o preço toda vez aumenta, mas por safadeza dela e não pela inflação.

Desemprego. Dez mil desempregados em NY - é isso? Bom, se eles vierem aqui pro Queens vão ver um monte de anúncios dizendo “help wanted” ou “precisa-se de ayuda” (ou algo do tipo). A que preço, eu não sei. Em Manhattam também não é difícil encontrar esses anúncios. Até comentei aqui que na Union Square um cara me parou perguntando se eu queria um emprego – aliás, ele gritava pra todo mundo. Subemprego, ok.

Pobreza. Claro que aqui existe pobreza. Mas é bem diferente da miséria do Brasil. O mendigo daqui não é miserável – e, volto a dizer, não tenho parâmetros pra avaliar se aumentou ou não, quase sempre vejo os mesmos mendigos, com seus cartazinhos – o que eu mais gosto é o que fala “pra que mentir? Eu preciso de uma cerveja”. Qualquer dia vou sair dando uma moedinha pra cada um em troca de uma foto. E, mais uma vez citando meu amigo brasileiro, os mendigos aqui têm cada casaco que dá vontade de roubar e sair correndo. Os mendigos somos nós. Hoje eu acho que vi um cara roubando uma bicicleta em frente a universidade. Pelo menos ele estava com uma ferramenta arrebentando a tranca e tinha uma cara meio estranha. Se ele não é o dono que perdeu a chave então ele estava roubando. Mas ontem sentou uma mulher que eu jurava que era mendiga do meu lado no Whole Food (rede de supermercados natureba que vende comida idem) e me perguntou se eu tinha um I-phone, porque ela estava querendo comprar outro e não sabia se esses estavam dando problemas, então eu não sei identificar mendigos.

Li uma notícia que um cara, em Los Angeles, desempregado há vários meses, matou a família toda (filhos, mulher e sogra) e depois de matou.

Em suma: ainda que estejam em crise, eles são muuuuuito ricos e uma crise nos EUA é bem diferente do que uma crise no Brasil. É que nem um sujeito jovem, saudável, que pega uma forte gripe.

O que eu sinto dessa crise é: talvez minha mãe e irmã não venham pra cá porque o dólar não pára quieto. Ou seja, como sempre, quem se fode são os países mais pobres.

E, sei lá. Não deixa de dar um gostinho de vingança, essa crise. É bom ver os EUA se fudendo um pouquinho. É, eu sei que numa economia globalizada bla bla bla, vamos sofrer as conseqüências...mas eu não tô falando racionalmente. Contanto que a aviação internacional não quebre até 15 de dezembro – data do meu retorno – me impedindo de voltar para o Brasil - me fazendo passar o Natal abraçada a Zorba cantando we hope you a merry Christmas - eu acho é poooouco, como diria minha amiga Fló.

Eu quero mais é dar uma de Nero. Ver Roma pegar fogo enquanto eu toco meu violino do meu barquinho.

Ou, como se diz lá na minha terra, quero mais é que o mundo acabe num barranco que é pra eu morrer encostada.

Enfim. Mas o que eu sei? Eu só sou uma formiga. Entendo de folhinhas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu tb não saberia falar de uma crise... nem aqui no Brasil. Eu não gosto de ver noticiário pq, em suma, mostra somente tragédias ou coisas do gênero. Eu assisto TV pra me divertir. Não tenho tv a cabo, mas qndo tenho oportunidade só vejo seriados e filmes. Na minha restinha lista de canais, gosto de novelas e filmes.
Eu adoro história (não tanto qnto vc, confesso) e ficção (não a científica), por isso me limito a esse tipo de coisa agradável. rá!
Adorei o q vc falou sobre não saber identificar mendigos. É uma verdade, eles são "gente como a gente". Se vestem normalmente, fiquei chocada com isso... qq um pode ser um mendigo.
Sobre o desemprego, concordocom o q vc disse. Com 4 dia nos EUA eu já tava trabalhando (subemprego, lóóógico), mas tava.
Beijão Carrie!
Vou ler e comentar seeeempre!!!
Se cuida.
Kaw

Vanessa Ornella disse...

Carrie, baby, acho que NYC não é realmente o lugar ideal pra se dar conta da crise. Tem muita gente comprando, muita gente de fora de NYC, talvez até de outros planetas, mas enfim, gente à vera comprando, comprando, comprando. Como em toda boa crise, a pobretada é a comissão de frente da pembada. Minha irmã, por exemplo, que é pobre em NYC e depende de tips pra sobreviver, já sentiu a crise na carne: a renda dela caiu, então ela tem que resolver todo mês que conta vai atrasar. As pessoas do seu meio de convívio só conseguem perceber que a crise é séria mesmo quando aquele amigo com um cargo executivo incrível numa fábrica de eletrodomésticos ou automóveis recebe uma cartinha demissional. Daí pro fim do mundo é um pulo, mas essa marola não te devora. Fica na paz.