terça-feira, setembro 09, 2008

Cansada para caralho. Acordei 7 da matina e fui assistir aula da minha orientadora. Pra graduação. Sem comentários. Saí deprimida pensando o quão falha foi minha educação - e pensando que o Brasil nunca vai ter jeito. E pensando que Alooou, eu faço parte de uma elite que conseguiu chegar ao doutorado. Que dirá o carinha que tirou o segundo grau em escola pública e olhe lá. Educação aqui é algo de outro mundo. Ninguém levanta da carteira, ninguém vai ao banheiro, ninguém chega mais de 10 minutos atrasado (e é pouca gente que chega atrasado). Ela pergunta as coisas e nego levanta a mão pra responder. Todos participam. Educadamente. "Por que o ciclo da cana de açúcar entrou em declínio no Brasil?". Hein? E eu sei lá! Uma menina: "porque descobriram ouro?". Quase. Outro cara: "por causa das plantações no Caribe?". Meu Deus. Onde esse povo aprendeu isso? Graduação!
Talvez vocês argumentem que é porque eles pagam quase 1.000 dólares a disciplina. Não, não é isso. No Brasil as pessoas também pagam muito caro pela educação (faculdade particular) e quanto mais elas pagam, mais é o descaso e o esculacho que elas têm para com o curso. Eu dei aula em pública e particular e estudei em pública e particular Quanto mais cara a faculdade, mais o aluno não tá nem aí. Sem contar que aqui a faculdade é cara, mas muita gente tem bolsa.
Isso sem contar as coisas que ela falava do tipo "esse é um quadro típico do período colonial, todo mundo aprende isso na escola" e eu nunca tinha ouvido falar no quadro.
O curso vai de independência - ai, que vergonha...- até governo Lula (aiiiiii, que vergoooooonha!). Legal que ela vai dar Dom Casmurro daqui a duas aulas, pra dar Abolição (em compensação vai dar um texto da Benedita da Silva, também). E toda aula tem um filme equivalente que os alunos devem assistir em casa (não tem essa enrolação do Brasil de assistir em sala de aula quando o professor tá com preguiça de dar aula). E, dentre a avaliação final estão, além de duas - DUAS - provas, dois - DOIS - trabalhos de 5 a 8 páginas: um sobre algum documento e outro sobre um dos filmes.
(Se eu fiz 3 provas a faculdade toda foi muito).
Tá boa, santa? Depois os caras se acham os melhores do mundo e a gente não entende porque.
Deprimi legal. A sorte é que eu fui pra academia depois e liberei endorfinas.
Não, nem tentem me consolar dizendo "ah, mas agora você está aí". Não. Eu estou aqui agora. E antes? E quem nunca vai poder vir pra cá? Ok, toda cultura tem seus prós e contras - eu AINDA quero acreditar nisso - mas você fica pensando se tivesse nascido num país como esse, aonde estaria numa hora dessas - no Brasil?. Não, eu não quero morar aqui e ficar longe da minha família e amigos. Eu só queria que todo mundo - minha família e amigos - tivesse nascido aqui.
(Não, eu não vou dizer que eu queria que o Brasil fosse um pouquinho melhor porque eu não consigo nem supor isso num futuro longínquo).
Conheci um menino gente boa, que fala português (outra diferença: aqui as pessoas começam a estudar um assunto e, se ele for em outra língua, elas aprendem a língua! Simples!), morou em Floripa e no Rio. Quando eu disse que era do Rio ele soltou um "eu amooooo o Rio!!" em bom e velho português - você, leitor ali da direita, que coçou o saco e riu também teve o mesmo pensamento que eu, né? Que ele é boiola? Pode ser...nao, eu nao acho q todo mundo é gay. Eu apenas acho q estou em NY. Em todo caso ele me deu o telefone dele, caso eu precise de alguma coisa (ele tb mora no Astoria, perto de mim). Hummm.... Purpurina, quem sabe? (sabe como é, essa minha pinta de travesti...).
Ela - a profesora - tem duas monitoras que são alunas de doutorado. Os alunos de doutorado aqui tem q fazer 3 anos de disciplinas e acompanhar os professores em todas as materias - corrigindo prova, fazendo todo trabalho de peão (e aprendendo muito, também).
No Brasil a gente faz um ano de disciplina. E olhe lá.
***
Quase quebrei a máquina de chocolates e biscotinhos da universidade. A feladaputa me comeu um dólar. E não me deu meu chocolate. Empurrou até na beiradinha, mas ele não caiu. Dei meia dúzia de chute, soco e pontapé nela, mas nem assim. Só parei quando as pessoas começaram a me olhar estranho e meu pulso-ainda-pulsa problemático começou a doer. E ainda chega um japinha (ou china, nunca consigo distinhguir e eles estão em toooooodas as partes): "oh, it sucks!". Suck my ass, japinha. Ajudaê!
E pior: não tinha mais "an dola" trocado pra botar na máquina. Logo fiquei sem meu chocolate.
***
Cheguei em casa e havia mensagem da grega na nossa caixa de comunicação - que nem no Big Brother que eles sempre deixam as msgs nos lugares para o líder achar e no Brazil's Next Top Model que a Fernanda manda msg pras modelos...Um jornalzinho sobre coisas estudantis e uma folha com os benefícios da aloe vera.
E os benefícios do banho diário, será que ela conhece?
Agora me diga, leitora escorada na quina da mesa enquanto olha o feijão, pode? A pessoa não come uma fruta e vem pregar alimentação saudável? Ah, num fode.
Hoje eu descobri que ela tem umas maçãs no canto da cozinha. Até apalpei para ver se era de cera, mas era de verdade. Periga juntar bicho. Tô falando que a defesa sanitária vai ter que intervir.
***
Eu não sei o que eu tô fazendo aqui que ainda não tô dormindo. Vocês não têm idéia do meu grau de cansaço. E do desespero que eu tô ficando com a minha tese. E amanhã eu tenho q levantar nesse horário também.
***
Eu não entendo um país onde tenis Adidas custa menos que Havaiana (que é usada que nem sapato social), Haegen Daez custa menos que banana, Citré Shine é que nem Colorama e a gente pode tomar água da pia. Não entendo. Por isso é que as pessoas saem atirando. Tem que atirar, mesmo. Só matando. Só invadindo o país alheio, mesmo.
***
Como diz essa minha amiga que não está muito certa da cabeça: "essa cidade piiiira as pessoas, Carrie! Piiiiiira!".
E alguém tá duvidando?

16 comentários:

Anônimo disse...

Não é a toa que o Brasil só é conhecido pela Amazônia, samba, futebol, mulatas, Carmem Miranda, violência e prostituição! Essa é a nossa cultura! E o Rio de Janeiro é a essência disso tudo: da malandragem, vagabundagem, músicos, poetas e desocupados de plantão. A população não tá nem aí pra isso! É revoltante!
Ahaaa, deixa pra lá! Quer saber? Vamos tomar um choppinho e esquecer isso...
Bjs,
Marcelo

La Vita `e Troppo Strana disse...

Carrie querida do coracao:
muitas pessoas me perguntam se eu tenho vontade de voltar para o Brasil. Qdo eu respondo: nem morta! elas estranham....agora vc entende, nao eh? eh olha que eu nem moro em NYC... so vou a NYC passar fim de semana ou feriado prolongado.
beijos...e continue aproveitando...

Anônimo disse...

Olá, Carrie! Sou uma leitora que nunca se manifesta, mas acompanho seu blog há mto tempo e adoro! Fiquei mto, mas mto feliz (vc não imagina o qto) quando vc ganhou a bolsa do doutorado sanduíche. Fiquei mto orgulhosa, por conhecer as deficiências das universidades brasileiras, e mto feliz, pois a partir do que leio, sabia que vc ia fazer bonito aí.

Cara, eu concordo plenamente com vc quanto à admiração por essa porcaria de país (pode ser uma merda, mas é o povo mais foda do mundo, não adianta, eles são os melhores). Não tiro o mérito desse povo, que nasceu nos EUA (eu tb qria ter nascido lá... com toda a minha família e amigos, mas daí eu não seria eu, etc) e tá estudando esse país longíquo e do além que é o Brasil. Mas, quanto à aula de graduação...


Olha, sou de Brasília e estudei a vida inteira em escolas públicas (ensino infantil, fundamental, médio, superior, idiomas, tudo que vc pensar, não tinha dinheiro pra nada) e a graduação fiz na UnB, Ciência Política e Relações Internacionais. A estória da decadência do ciclo da mineração... nós aprendemos isso sim, até no colégio. Se não me engano, sua graduação é em jornalismo (?) e, talvez por isso, vc nunca tenha passado pelas disciplinas de graduação do ciclo básico de ciências sociais e economia.

Celso Furtado é o rei (e mais uma galera excepcional) e a gnt estuda na graduação (todo mundo das ciências humanas, menos comunicação social). Nossa, e eu ralei horrores na graduação. Tipo, quando fiz FEB (Formação Econômica do Brasil), eu tinha controle de leitura surpresa (dependia do humor do professor auferir como andava nossa leitura), seminários, resumos e questionários pra entregar pro monitor e 3 provas (escrotas). E grande parte das minhas matérias de graduação foram nesse estilo.

Desculpa, mas eu tinha que falar. Eu me identifico mto c vc e lhe admiro bastante bastante, mas isso não podia passar... Num esculhamba a gente assim também não! rs... Nóis é pobre mas é limpinho e capaz, uai! Quem sabe um dia nosso país tem jeito... rsrs


Um abraço e aproveite muito!

P.S.: Torcendo por vc e para que a grega tome banho! :)

Carla disse...

Carrie, eu tenho que concordar com a leitora anonima ai. Num esculhamba a gente assim nao, eu tambem ralei muito na universidade.
Uma coisa que voce deve lembrar a si mesma, todo dia, e que voce esta no miolo da intelectualidade americana. NYU nao e pra qualquer neguinho nao, a galera se fode pra entrar, e pra sair tambem. Voce esta convivendo com parte da comunidade intelectualmente superior desse pais. Tem todo tipo de faculdade aqui, e tem aluno de faculdade que voce nao acreditaria que existe.
Coisa segurisima e nunca achar que os Estados Unidos podem ser definidos por NYC, nem achar que aluno de NYU e americano medio. Longe, muito longe disso.

Carla disse...

Afe que ficou chato esse meu comentario, parecendo aulinha de comportamento. Vixe, repara nao, viu?

trinity disse...

Carrie,

vc fez graduação em uma federal pelo que acompanho, como assim você não tinha prova???
Eu que me graduei em universidade de autarquia municipal tinha semana de prova, trabalhos, etc!

Concordo que o ensino daqui vai de mal a pior. Mas eu te digo, essa matéria de história do Brasil que eles estão aprendendo é conteúdo da 5ª série (atualmente 6ª série). Para quem faz cursinho pré-vestibular é um tema que tem conteúdo até. Afinal questão típica de 1ª fase de FUVEST e UNICAMP(lembro que qdo prestei teve uma questão para explicar o que tinha em comum Brasil e Cuba).

Mas eu sei que é minoria da minoria que vai chegar a uma graduação. O que dirá um doutorado!

Aproveite tudo e mais um pouco por aí, pois você é nata!!! E continue postando sempre que possível. Eu amo ler esse blog!

Carrie, a Estranha disse...

Marcelo,

Hahahaha...imaozinho muito revoltado!

Anônima e Carla,

Vcs tem razão. Eu fiz Comunicação, que é o lixo, do lixo, do lixo da área humana. Vc simplesmente não aprende nada em Comunicação. E, sim, sobre isso eu posso falar. Só fui aprender um pouco no mestrado. (se alguém aí fez comunicação e não concorda comigo, sorry, mas ou vc ainda está iludido ou quer se enganar). Realmente a exigência é mínima. Todo mundo só quer saber de fumar maconha e foda-se o mundo.

Só um esclarecimento, meninas: eu quis dizer q achei muito foda ELES saberem coisas sobre o brasil. Eu não imaginava. É claro q eu estudei ciclo da mineração, da borracha, da cana, essas coisas todas no colégio. Só q a idéia q a gente tem de americano é q eles acham q Brasil é selva e q andamos pelados pendurados em cipós. Me surpreendeu saber q garotos super jovens, de 20 anos, tinham uma noção boa do q era o Brasil. Claro, como uma de vcs comentou, eu sei q eu estou convivendo com a elite da elite. O problema é q a minha faculdade tb é a elite da elite no Brasil (a UFF, a na area de historia, é q nem a Unicamp e a USP, são nota 7 na Capes - a maior). E, claro, as pessoas estudam mais lá do q na Estácio, onde eu dei aula, mas mesmo assim a distancia é tremenda entre a elite do Brasil e a elite dos EUA.

E, não, claro q não reparo, não Carla. Eu entendo o q vc quis dizer.

Anonima, ve se anima e assina agora! Eu tb penso isso! S eeu nascesse aqui e todos meus familiares eu não seria eu, eu me chamaria Raimundo e seria uma rima, não uma solução.

;)

Trinity,

Meu bem! Vc não tá enteeeeendeiiiindo! Graduação em Comunicação não se faz prova! É sempre trabalho, experincias lúdicas, vivencias existenciais... é sério! Não to de sacanagem! Eu acho q Comunicação é um curso q podia acabar e ninguém ia dar falta - alias, só não quero q acabe pq eu preciso dar aula.


E eles estao aprendendo esse conteúdo, mas num nível superior. Sobre um país q não é o deles.

Muito obrigada pelos elogios. Eu tb gosto muito dos meus leitores.

Bjs

Anônimo disse...

Oh gente, foi mal!!! Eu nunca tinha comentado em blog nenhum, por isso nem sei sabia onde por a identidade... rsrsrs...

Isso tá virando é um fórum!!! :)

Beijos a todos

Anônimo disse...

Oh gente, foi mal!!! Eu nunca tinha comentado em blog nenhum, por isso nem sei sabia onde por a identidade... rsrsrs...

Isso tá virando é um fórum!!! :)

Beijos a todos

Carla disse...

Carrie, concordo com voce sobre comunicacao. Eu fiz Letras e estudava no mesmo predio, a galera fumava mesmo muita maconha e tinha muita aula externa, muito contato com a natureza. A gente passava com aqueles livros todos pra ler e discutir e morria de inveja da vidinha deles.

Entendi sua bronca agora com as faculdades do Brasil. Mas olha, o americano medio pensa sim que a gente anda nu, que e tudo selva e que falamos qualquer lingua tribal + espanhol. Voce e muito sortuda de morar em NY e frequentar NYU, provavelmente nunca vai conhecer a classe media suburbana ignorante. Fuja deles!

Anônimo disse...

Também fiz Comunicação e concordo: não se aprende nada. Sou pela extinção do curso de Jornalismo há tempos, mas nunca tinha parado pra pensar no de Comunicação. Acho que você está certa, ele não faria falta.

No mais, entendo muito essa sensação de deprê quando você começa a comparar o aqui e o lá (ou aí e cá).

trinity disse...

Carrie,

aqui nas universidades do interior de Sampa os cursos da área de comunicação (Jornalismo, Relações Publicas e Publicidade e Propaganda) tem prova por isso eu falei...

Carrie, a Estranha disse...

É, eu sei...onde eu dava aula tb tinha. Mas onde eu estudei nao tinha. Mas tendo ou nao tendo, o curso é fraco. Eu não recomendo.

Beijinho...

Júlio César Meireles de Andrade disse...

Cosnis, você bebe água da torneira, aí???????

Carrie, a Estranha disse...

Hahahahaha...bebo, Cosnis! Quer dizer, em casa a grega tem uma jarra q é tb um tipo de filtro, então, como gosto de água gelada, bebo agua desse "filtro" - q tb não é gdes coisas. O país todo tem água tratada da torneira.

Na Europa tb bebia! Mas lá tinha o problema de, dependendo do país, o tratamento não é muito bom. Ó, q coisa, mininu! Por isso aqui a água, nos restaurantes, é de graça. Vc nem precisa pedir. Vc chega e eles vem com um jarro e te servem uma . Aí perguntam o q vc quer beber. Se vc quiser agua com gás, aí vc pede. Ou se quiser ficar o tempo todo bebendo essa agua eles te servem qtas vezes vc quiser.

Bjs

Anônimo disse...

Formiga, tá impossível, heim!!!!rsrs
Vc sabe que concordo com vc!!!
Muitos cursos e até faculdades aqui no Brasil é preciso ter apenas um pre-requisito: ser insistente!!!
É um horror, mas somos lixo!!
O professor é nada mais, nada menos que um obstáculo para o aluno ao longo da graduação.
E, tem mais...Não há solução...Pelo menos pros nossos dias.
Bjs,
BB