segunda-feira, abril 07, 2008

Asteriscos

Ai, eu não preciso nem dizer o quanto eu gosto desse tempo, preciso? (não, isso NÃO foi uma ironia).
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Eu detesto quando não respondem meus e-mails. Eu sei, as pessoas tem muitas coisas pra fazer...mas, puxa. Eu detesto. O que eu posso fazer se eu detesto?
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Eu fui ver "Na natureza selvagem" de novo, sábado. Tá, eu sou meio obsessiva. Mas dessa vez saí com uma outra percepção do filme mais forte. SE VOCÊ NÃO QUER SABER O FINAL DO FILME, PULE ESSE TÓPICO. ATENÇÃO EU VOU REVELAR O FINAL DO FILME. PULE PARA O PRÓXIMO ASTERISCO. Saí pensando em como tudo o que o cara faz é uma resposta à família dele. Ele queria ser livre, mas passou parte da vida atrelado aos fantasmas do passado. Em última análise, ele se matou por não conseguir lidar com a família que tinha. Não conseguiu sustentar os laços e lidar com as dificuldades de todas relações. A morte foi a única forma dele perdoar a própria família. Tudo bem, ele não se matou deliberadamente, mas há diversas formas de suicídio. A única frase é emblemática: "se eu tivesse corrido para os seus braços, teria visto o que eu vi?". A única forma dele viver foi...morrer. Às vezes essa é a única forma que alguns de nós tem pra viver. E aí saí meio deprê do filme. Mas continuo adorando e pensando que alguns exemplos como esse continuam valendo ao menos para relativizar as certezas.
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Parece arrogância, mas é só estranhice. Eu fico distante de todo mundo não porque seja "superior", mas apenas porque estou em outra. Nem melhor nem pior. Outra.
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Sonhei com meu pai. Mais um daqueles sonhos em que ele "deixava de estar morto". Ele ia casar com a minha mãe. E estava lavando louças na cozinha da minha casa de VR. E eu dizia: "pai, mas se você vai casar com a mãe, e você já foi casado com ela antes de morrer, as pessoas vão notar que você morreu e desmorreu, porque se você apenas não tivesse morrido, não precisaria casar de novo". Bom, no meu sonho isso tinha uma lógica. E ele me explicava alguma coisa que eu não me lembro.
Eu às vezes faço uns exercícios de meditação que eu baixei da internet. Tem um específico, do De Rose (aquele véinho da Yoga), onde ele pede pra você entrar no seu coração, ver uma luz brilhante e segui-la. Lá você encontra seu Mestre do Coração, que pode ser alguém que viveu há tempos. Trata-se de uma imagem arquetípica de sabedoria, que em geral é representada por um velho de barbas compridas. Sempre que eu faço essa meditação me vem a imagem do meu pai. E ontem, na hora de dormir, eu fiquei fazendo esse exercício.
Formiga Irmã me contou que, esses dias, ela estava cochilando depois do almoço, na cama de nossos pais em VR. Eu estava aqui no Rio e minha mãe estava em Minas. Daí ela estava naquele estágio entre o sono e a vigília e sentiu um beijo do meu pai. Sentiu a pele dele e uma imagem muito nítida. Daí ela deu aquele pulo, acordou e não viu nada.
Droga. E ela me conta assim, depois de um tempão, na maior naturalidade.
Bom, foi só um sonho mais realista. Mas que é legal, é.
É muito bizarro a ligação que eu tenho com o meu pai. Eu sempre fui muito próxima dele, mas com a morte, ele ficou ainda mais perto - o que, de certa forma, foi ainda melhor, já que eu sentia muito mais saudade quando ele estava vivo e ficávamos muito tempo sem nos ver do que agora. Eu nunca sofri realmente pela morte do meu pai. No máximo uma saudade em determinados momentos. Eu sofri quando ele ficou doente. Durante o processo. Vendo ele se enfraquecer, passar pela quimio, ser internado. Mas quando ele morreu eu fiquei muito próxima dele. Ainda mais próxima. E, não, não me considero uma pessoa "espiritualizada" (o que quer que isso signifique), nem religiosa. É quase palpável isso que eu falo. Ele realmente está comigo o tempo todo.
Enfim. Tenho certeza de que algum dia vou encontrá-lo de uma forma mais palpável ainda. Não necessariamente numa vida após a morte. Mas de alguma outra forma.

3 comentários:

Ana disse...

Oi, Carrie,

Eu já tive uma experiência parecida com a da sua irmã. Senti minha mãe me abraçando, acariciando os meus cabelos enquanto eu estava entre o sono e a vigília – eu via a cama onde eu estava deitada, os lençóis, tudo exatamente como era, parecia que eu estava acordada, eu tinha certeza que estava acordada. Mas aí acordei... Pude até segurar a mão dela e sentir a pedra do anel que ela usava! Eu não diria que é um apenas um sonho mais real, mas um sonho diferente...

Beijo grande para você!

NanaZylber disse...

Oi, Carrie
Ler essa parte em que você fala do seu pai me deu uma sensação muito boa, de que há algo mais, que os homens da ciência(como eu mesma)não poderiam admitir, pois tudo tem de ser provado dentro de certos parâmetros. Nesse caso, o ciclo biológico de todos os seres vivos é o parâmetro conhecido.
Mas como os mais sábios dos homens reconhecem que não têm acesso a todos os dados do Universo ('só sei que nada sei')para deixar quisquer hipóteses de fora, torço muito para que haja muito mais. Para que exista algo além de nossa capacidade de entendimento, que carregue nossa história individual, que seja eterna, e atemporal. Pois uma vida tão amada e tão rica ao longo de sua existência não poderia simplesmente ir queimando como a chama de uma vela, até não sobrar nada.
Na vida adulta, perdi poucos parentes, um avô maravilhoso, um tio idem. E tive que ser eu a vê-los pela última vez. Tive que acompanhar seus últimos suspiros e espasmos. Só eu podia estar no CTI nessas horas. Penso muito nisso. Foi uma honra, um castigo, um acaso...não sei. Mas pude constatar em seus olhinhos que realmente é a esperança a última que morre.
Apesar de tudo, acredito em Deus. Pela fé, que é crer em coisas que não entendemos mas sentimos. E se acredito em Deus acho que há infinitamente mais coisas que não temos capacidade de compreender, assim como um bebê ainda não poderia compreender de imediato a Física, por exemplo. Mas o bebê, mesmo não sabendo de nada, é submetido às leis da Física, certo?
Perdoa a filosofia baratinha... é que eu quero muito mesmo crer na alma imortal, na viagem até uma outra vida, essas coisas...
Um grande abraço, Nana

Carrie, a Estranha disse...

Ana,

Ai, eu tb quero ter esses "sonhos"! Q lindo isso q vc disse! Obrigada por compartilhar.

Nana,

Q legal e bacana seu depoimento. Não tem nada de "filosofia baratinha". Tb concordo em gde parte com vc. Acho muita arrogância da nossa parte achar q não existe nada pq não se consegue "provar" nada segundo certos modelos.

É isso, aí meninas. Obrigada por dividirem esses momentos comigo.

bjs