segunda-feira, novembro 12, 2007

Pensamentos de uma segunda feira


Eu só queria um mordomo e uma governanta. Um mordomo inglês e uma governanta alemã. Um mordomo inglês que citasse Shakespeare no original e uma governanta que citasse Goethe no original. Ele se chamaria William McDougal (seu avô era escocês) e ela Bertha von Schlüter. Fräulein Bertha. Ele, magro e alto. Ela, corpulenta, sólida, de profundos olhos azuis e coque branco impecável.

Eles cuidariam de mim e de todos os aspectos da minha vida prática para os quais eu não tenho a menor competência. Saberiam a minha senha do banco, pagariam minhas contas em dia, não deixariam que eu entrasse no cheque especial, me avisariam com antecedência quando a comida está acabando, quando o papel higiênico está acabando, quando o café está acabando, quando o filtro de papel está acabando, quando é o aniversário de Fulano de Tal, para quem eu deveria ligar, comprar presente, etc.

Bertha entraria furtivamente e pontualmente as sete da manhã no meu quarto, abriria as cortinas e colocaria meu café – preto – sobre a mesa de cabeceira, junto a um exemplar do The Times. Sem dar palavra, pois sabe que eu odeio falar de manhã. Mas caso eu passasse de quinze minutos ela entraria no meu quarto e me arrancaria da cama à força, nem que tivesse que puxar os lençois e me derrubar no chão - não espalhem, mas reza a lenda que Bertha teria sido da Juventude Hitlerista.

Eles teriam todas as minhas senhas. Até a do blog. Entrariam em meu e-mail e responderiam. Seriam um misto de babá e secretários particulares. Além de amigos e mais confiáveis até do que eu mesma.

Eles gravariam minhas séries prediletas na TV. William torceria um pouco o nariz para esses produtos da cultura de massa, mas Bertha talvez simpatizasse com Desperate Housewives e, embora negasse veementemente, chorasse com Sex and the City.

Eles organizariam meus livros, meus textos, meus armários.

Betha teria algumas inclinações pelo idealismo alemão enquanto William seria um herdeiro da tradição empirista inglesa. Os dois travariam animados embates filosóficos enquanto eu apenas observaria e sorveria suas aulas.


*

Enquanto isso, Herbie, meu amiguinho que me chama pra brincar com freqüência quando o trabalho está demais, vê desenho animado molhando o pão com manteiga e açúcar no Toddy quente. Já falei que se ele entornar não come batata frita no almoço.


*

Chuva, enfim.

13 comentários:

Viviane disse...

O sonho da minha vida é ter uma governanta...

Viviane disse...

O sonho da minha vida é ter uma governanta...

Anônimo disse...

Olá

E um Rodrigo Santoro com uma mistura jeito de Chico Buarque viria para te levar para passear.

Ai, tô viajando Carrie, mas tudo tem que ser perfeito.

Beijos

Alê

Anônimo disse...

hahaha, impagável seu texto Formiga!!!!
Bjs, Bibi

Carrie, a Estranha disse...

E vcs se esqueceram do mais importante de tudo: umm pônei pra acompanhar!

Bjs

anouska disse...

eu qué brincá com herbie também, eu qué!!!!! *batendo o pezinho*

ahuahuhauhauha!

adoro.

anouska disse...

cara, eu não sei aí, mas aqui do outro lado da poça tá um frio do cagaio, tá? isso deve ser praga sua...

Patricia disse...

Olha, eu me contentava com uma boa secretária, que pagasse as minhas contas em dia e entendesse de administrar meu dinheiro no banco, que marcasse meus compromissos e me lembrasse deles. E ainda arrumasse a minha mesa de trabalho, o meu armário.

Carrie, a Estranha disse...

Cris,

Herbie manda lembranças. No momento ele está debaixo de uma cabaninha, lendo gibis com uma lanterninha. Diz ele q é o q há de mais legal no nosso planeta. Já tentou fazer fogueirinha, dei um pito nele - onde já se viu? Quase bota fogo no cobertor?! - mas toda hora vem aqui e fica puxando meu pé, q nem assombração, querendo q eu brinque com ele. Ai, ai...

Sim, aqui está um pouco mais agradável a temperatura - além de chovendo horrores.

Patrícia (qtas patrícias!),

Ah é, mas já q é pra sonhar, q seja alto!

Bjs

Anônimo disse...

Aimmmm, tb quero. Vc escreve muito, parabéns.

Anônimo disse...

Faltou mencionar que William passaria a ferro o seu exemplar do Times antes de dispô-lo à mesa de cabeceira.
E as crianças chamariam Bertha apenas de "Fräulein". E ela odiaria a França e os franceses.

Carrie, a Estranha disse...

Sim! Anna e seus contatos com a alta roda sempre enriquecem meu vocabulário imagético! Mas quem me daria o times seria Bertha. Tudo bem, William pode passar a ferro e dar para ela.

Bjs

Gileade disse...

Puxa, Carrie, se você tivesse dinheiro para pagar um mordomo inglês e uma governanta alemã, pra que você iria querer levantar às 7 da manhã?!