quarta-feira, outubro 31, 2007

Eu sou o meu próprio BOPE


A maior fonte dos meus problemas advém do fato de eu só conseguir ser direta. Reta. Sem elipses.

Esses dias, em um momento de delírio e desespero acadêmico – e eu tenho muitos como dá para perceber – entrei no site do Instituto Rio Branco para ver como é a prova para ser diplomata. Tudo bem, é difícil, mas não é nada que eu não consiga. Direito, História, Português... Inglês + espanhol ou francês. Não digo que é fácil, demandaria tempo e dinheiro, mas eu acho que conseguiria. Estou na faixa etária em que as pessoas tentam. Tenho mestrado, o que me pouparia um curso de dois anos. Salário inicial: sete mil e pouco. Tenho mais da metade dos pré-requisitos. Em quinze anos se chega a embaixatriz, o cargo mais alto.

Daí eu parei e me dei conta de que me falta uma qualidade básica: ter diplomacia. Do jeito que eu sou é bem capaz de eu chegar na Coréia do Norte e dizer: “Qualé King Jong? Senta o dedo nessa porra, rapá! Tira essa farda que tu é muleque!”.

Comentando com minha amiga Senhorita P., cujo irmão vai tentar a prova do Rio Branco, ela me disse: “eu acho que você não daria uma boa diplomata”. E eu perguntei por que, mesmo já sabendo a resposta. E ela respondeu eufemisticamente: “você é muito direta”.

Durante algum tempo eu pensei que isso fosse uma qualidade. Porque ser direta pode parecer que você é sincera. E ser sincera pode parecer dizer tudo o que se pensa para todo mundo. E isso pode parecer ser bom, se você é ingênuo ou burro ou jovem demais. Dois erros. Primeiro, o tudo nunca é dizível. Segundo, a única sinceridade que realmente importa é a sua para com você mesmo (ainda que também guarde uma impossibilidade total). E essa às vezes pressupõe certos silenciamentos.

Eu só dou certo em coisas onde eu posso ser reta. Eu só sei traçar uma reta e ir. Que nem o Forrest Gump. Run, Carrie, Run. Em tudo que exige curvas, malemolência, jogo de cintura, eu me arrebento contra o primeiro muro. Porque eu não sei fazer curvas. Eu venho sempre em alta velocidade e freio na curva. Mas aí já é tarde demais. Daí sempre bato. Eu sempre acho que vai dar e não dá. Eu nunca sei o momento certo de ir. Eu não controlo a embreagem da vida. Eu perco o tempo de ir e as pessoas ficam buzinando atrás de mim. Ou então vou e descubro que não dava tempo. Foi assim que eu bati de carro e parei de dirigir. Mas ainda sonho constantemente que estou dirigindo.

Outras atividades nas quais nunca fui boa: jogos. Sejam eles esportes ou jogos de tabuleiro. Eu não sei driblar. Ou baralho. Eu não sei blefar. Eu mostro todas as cartas de uma vez. Eu não escondo o jogo. Na vida.

E, o jogo onde eu sou mais inepta: o amor (ui, que brega). Aliás, nem iria tão longe: namoros, por exemplo – que nada tem a ver com o amor, necessariamente. Eu simplesmente perdi o manual de instruções, se é que algum dia o tive. Deve estar no mesmo lugar do Manual para a Vida Prática e as sombrinhas e canetas Bic que nunca estão onde a gente deixou.

11 comentários:

Anônimo disse...

Sou melhor nas curvas que nas retas.

Anônimo disse...

Já que você foi brega, vou fazer um comentário brega... Para o amor, acho que não existe manual de instruções, ou então eu devo estar persistindo no mesmo erro sempre e ainda não descobri qual é para poder consertar... O dito "é dando que se recebe" está muito incompleto (ou estou "dando" a coisa errada!). Quando você achar o manual, me empresta!

Anônimo disse...

Rachei de rir na parte do Kim Jong

Amanda Luisa disse...

um dia o manual chega até você, mesmo sem você pedir!

e eu também sou muito direta, até indiscreta eu diria e até acho uma boa 'qualidade', mas não serviria nunca pra ser diplomata!

Anônimo disse...

menina, tb pensei em fazer esse lance do rio branco... mas dps cabei mudando de idéia... um dia morar em NY e dps no Zâmbia não rola pra mim, sei lá... vida meio bizarra...

Carrie, a Estranha disse...

tb acho, bela. tb acho. sem contar q no inicio deve rolar mais Zambia do q n.y. (sem paciência para acentos ou letras maiúsculas).

anna v. disse...

Carrie, eu tenho amigos que são filhos de diplomatas. Eu tenho amigos que são diplomatas. Eu não desejo nenhuma das opções acima para as pessoas de quem gosto. Dos amigos diplomatas, um era todo super cdf, está em Paris já há alguns anos, e liberou geral, agora faz teatro e só usa tênis all-star (mas continua na Embaixada, o que é o mais incrível). O outro mora em Bogotá, e gosta muito. Mas trabalha pouco. Lançou um livro de poemas e faz um mestrado lá em literatura latino-americana. Ano que vem acaba o tempo dele em Bogotá e ele está pleiteando... o Vaticano! E quando a gente faz uma cara óbvia de espanto ("Porra, Vaticano?!"), ele diz que lá se trabalha menos ainda, a única obigação é ir à missa aos domingos, e de terno. Mas por outro lado, se ele for mesmo para lá fica claro e estabelecido que ele não quer seguir a carreira seriamente, vai ficar eternamente em postos meia-bomba. Enfim, um porre esse emprego, vou te dizer.

Bárbara Anaissi disse...

ai, carrie, eu tb me arrebento nas curvas, perco o tempo de ir e fica todo mundo buzinando. driblar? blefar? o q é isso?! manual de instruções para o amor? tô na fila do empréstimo... o comentário não tá muito inspirado não, mas, tirando a parte de querer ser diplomata, me identifiquei com o texto. bjs

Carrie, a Estranha disse...

Anna,

Vc é muito chique. Só contato com a alta roda!

Uma das razões q me fez pensar nisso foi q eu comecei a ver q vários escritores foram diplomatas. Logo, deve ser um emprego q não se trabalha tanto.

E eu já fiz teatro e usei all-star! Rsrsrsrs...enfim, mas tenho idéia do grau de caretice q seria.

Bárbara,

Comentários são sempre inspirados! São sempre bem-vindos! Que bom q se identificou.

bjs

Anônimo disse...

É embaixadora!!! Embaixatriz é mulher de embaixador... E, além disso, vc pode nunca chegar a esse topo...

Lenissa disse...

Sou totalmente solidária...só ainda não concluí em que categoria me enquadro: ingênua, ou burra ou jovem demais. Continuo pensando, mas será difícil saber tudo a respeito disso também.