sexta-feira, julho 06, 2007

De onde nascem os campeões?


PS: Para a leitora Flávia, que eu nem sei quem é, que comentou no post anterior. Eu juro que não tinha lido seu comentário quando escrevi isso! Quisera eu ter um milésimo da sua generosidade. São comentários como o seu que fazem o dia valer a pena. O desafio é fazê-lo valer a pena mesmo quando os comentários não chegam - ou chegam tortos.


A capa do Globo de hoje estampa uma foto enorme de Thiago Pereira, o nadador. Depois grande reportagem sobre ele no caderno sobre o Pan. E daí? De onde é Thiago Pereira? DE ONDE? DE ONDE? Da pior e da melhor cidade do mundo: a minha, a sua a nossa Ghoooooootam Cityyyyy! (Volta Redonda). Ainda vão descobrir que a água e o ar de Voltaço formam um novo tipo de ser humano, espécies de seres geneticamente modificados, mutantes, quase X-Mens, super e sub-humanos. Somos os Judeus do Vale do Paraíba, que saímos errando pelo mundo (literalmente) após a Grande Diáspora – que se dá na época do vestibular. Onde três pessoas se reunirem em qualquer parte do mundo, uma será de Volta Redonda. Somos quase gafanhotos. Gremelins. De vez em quando precisamos voltar e respirar o doce aroma da CSN, que nos faz recobrar os poderes de super heróis.

Formiga Irmã deu aula pro Thiago, de Português, nas quinta e sexta séries. Trabalhou com a mãe dele – que é professora de educação física e secretária de esportes de VR. Um dos meus irmãos namorou a tia dele. Thiago treinava no mesmo clube que eu freqüentava. Apesar disso, eu não o conheço pessoalmente. Dez anos nos separam. Mas sempre ouvi as histórias dele e a subida rumo ao pódio. E me sinto um pouquinho lá, toda vez que o vejo ganhando uma medalha, toda vez que a Rose, mãe dele, grita “Vai, Thiago!” desesperadamente. A gente que é do interior tem isso. Uma necessidade constante de mostrar pro mundo que nós somos bons, nós existimos.

Desde pequeno Thiago ia nas festinhas de criança e não tomava refrigerante. Não era bom para atletas. Sem que ninguém mandasse. Como se ele sempre soubesse que ia ser um campeão quando crescesse. Imagino que também não deva ter sido muito fácil não beber numa cidade pequena durante a adolescência. Toda energia dele sempre foi para os esportes. Eu sempre fui uma péssima atleta. Certa vez fiz cesta pro time adversário, tamanha a minha concentração na hora dos jogos. Talvez se me esforçasse mais, seria melhor. Mas nunca quis me esforçar muito nos esportes.

Aí fiquei pensando numa coisa que volta e meia escuto as pessoas falarem: no tal talento ou dom. Eu não acredito em talento ou dom. Não num talento bruto que nasce com cada um de nós. Não da forma que as pessoas falam, como se o talento fosse fundamental para tudo. Se é que existe algo parecido com isso é uma parte muito pequena. Acredito em algumas aptidões que podem ou não serem desenvolvidas de acordo com a vocação de cada um. A vocação é muito mais importante do que o talento. Tipo: eu tenho facilidade ou aptidão para a música (aposto que Formiga Irmã vai me sacanear por este comentário, mas tudo bem), mas não tenho vocação. Não quero, não sou muito ligada. Gosto, mas me contento em ser ouvinte. Já para o teatro, eu tinha vocação, mas muita dificuldade. Comecei a fazer muito tarde e sempre fui muito tímida. Insisti e me desenvolvi, mas percebi que a vocação não era tão grande quanto eu imaginava – às vezes acontece isso, você pode ter uma vocação latente mas ela não passa disso. A vocação te faz tomar porrada e voltar pro ringue, quantas vezes forem. Quanto mais te batem, mais você cresce. Cansei de tomar porrada no teatro. Não via mais sentido. Já pra outras coisas eu apanho sorrindo. Porque ainda é muito pouco, perto do bem que me traz. Pra desenho: tenho zero de aptidão e zero de vocação. Enfim. Tô dando todos esses exemplos porque detesto isso de “nossa, Fulano tem um talento natural para...”. O talento ou dom é 5% da coisa toda. Como diria Drummond, poesia é 90% transpiração e 5% de inspiração. Às vezes as pessoas falam coisas como “você escreve com tanta facilidade!”. Ppppffff! Em primeiro lugar, escrever pra mim é igual respirar: faço desde criancinha, preciso, quem vê de fora acha que é fácil, mas só eu sei o quanto dói. Tem horas em que o ar falta. Mas o que eu posso fazer, deixar de respirar? Em segundo lugar, alguma técnica é natural depois de anos de prática. É igual qualquer outra coisa na vida. Eu escrevo cotidianamente desde uns 9 anos de idade. Logo, pode parecer que é fácil. Só aparência.

E pro esporte mais ainda. Quem diria que um garoto de 11 anos ia ficar sem beber refrigerante porque isso seria importante pra carreira dele? Nem a mãe dele mandava ele fazer isso. É algo dele. Talvez já uma vocação muito forte. Ao lado dele tinham muitos outros garotos tão bons quanto ele, que treinavam no mesmo lugar. O que fez dele um campeão olímpico? Um conjunto de fatores. O que faz de certos artistas geniais? Um conjunto de coisas. Mas antes de tudo tem que haver o desejo, a vocação – que vem do latim: chamado. Mas se você ainda não ouviu o seu chamado, não se desespere. Apure seus ouvidos. Aprenda a ouvir. E siga adiante. É a única forma de ser feliz. Não se engane com dinheiro, carros, mulheres, drogas. Não existe felicidade maior do que atender a sua vocação. Não perca tempo fazendo outras coisas. É sério.

Ah, ficou piegas pra caralho esse final, aliás o post todo; Jorjão tá aqui se esbaldando de rir, mas é no que eu acredito. Mesmo. Por isso eu sou feliz. Sim, eu sou feliz!!! Embora às vezes não pareça, pois eu sou reclamonazinha. Ainda que o mundo caia eu consigo escutar minha vocação. Isso é felicidade. Não ter problemas não é felicidade. Felicidade é ter algo só seu. Que ninguém te tira. Que te preenche mesmo na mais total e absoluta solidão. Mesmo com todos os problemas do mundo. De onde nascem os campeões? De nós mesmos. Quando despertamos. Sempre há tempo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bonito!! Acho que vc anda lendo meus pensamentos,estava mesmo precisando dessas palavras!!
Márcia Motta

Anônimo disse...

Querida Carrie: meu blog ou minha internet ou meu computador devem estar com alguma sindrome... nao consigo escrever absolutamente nada no seu blog ha um tempao...tento, tento, mando publicar e nada...to com saudades de tu...quero dizer de mandar um recadinho... 'to ate chorosa... e nao diga que ninguem te responde! ninguem me visita no meu bloglele e eu to tristissima... se esta minha mensagem chegar... recebe minha lagriminha de saudade...(uau! que chantagista que eu sou...hahahah)beijos para a formiga irma que mereceu uma cronica tao linda (este ano e no ano passado tb)...muito antes do aniversario dela, ja nao consigo enviar msg para vc...vamos ver se esta vai, com chantagem e tudo...beijos mil... (estamos chegando no Brasil dia 11, de ferias, iup......)

Anônimo disse...

hahahahah...minha msg desta vez foi e anonima mesmo.....hahaha, sou eu, a Hetie...beijocas...