segunda-feira, abril 09, 2007

Viagens sobre amigos


Quantas viagens cabem em uma só viagem? Quando se viaja para um lugar visitado diversas vezes pode-se ter a ilusão de ser a mesma viagem de sempre. Nunca é. Nós nunca somos os mesmos, a cidade nunca é a mesma e as pessoas nunca são as mesmas. Uma parada meio heraclitiana, se é que vocês me entendem. E aí toda viagem é nova, desse ponto de vista.

Nessa viagem, uma das minhas viagens foi sobre a amizade. Diante de grandes amigos, amigos que eu não via há séculos, amigos que eu vejo quase todo final de semana, amigos-primos e amigos-de-ocasião eu me fiz a mesma pergunta: o que faz de uma pessoa sua (seu) amiga (o)? Por que é tão difícil manter uma amizade com certas pessoas e tão fácil com outras? O que define a amizade? Ou melhor: é possível isolar a amizade em uma definição?

Eu tenho a tendência – ou tinha, sei lá - de cobrar dos meus amigos uma atenção total e irrestrita, independente de tudo. Cobro tudo aquilo que eu não consigo ser. E não consigo ser não porque eu seja ruim, mas porque sou humana. E meus amigos também. Tenho minhas dificuldades, mesquinharias e vilanias. E eles também. Tenho meus problemas. E eles também.

Já achei que amigos de verdade são aqueles que não nos deixam na mão, seja qual for o problema. Mas eu também já deixei os outros na mão. Ah, mas eu tinha meus motivos! Esse é o problema. Todo mundo tem. Eu já deixei várias pessoas na mão. Eu já ME deixei na mão quando eu só podia contar comigo mesma.

Já achei que amigos de verdade eram aqueles com quem a gente pode conversar sobre absolutamente tudo em qualquer hora. Hoje acho que amigos de verdade são aqueles com quem a gente pode simplesmente ficar quieto. Eu sou muitas e meus amigos também. Eu tenho vários tempos e eles também. Eu preciso entender isso se quiser que eles me entendam.

Já achei que amigos de verdade são pessoas com as quais você tem afinidades. Isso faz sentido durante algum tempo na sua vida – como na adolescência, por exemplo – em que todo mundo quer ser igualmente diferente, mas é saudável e necessário que as pessoas mudem. E te mostrem um pouco do mundo delas, enquanto você mostra um pouco do seu e nas intercessões se dá o contato.

Já achei que amigos de verdade são aqueles que te aceitam apesar dos seus defeitos. Hoje vejo que os nossos defeitos são coisas que nos particularizam. Gostamos dos outros, muitas vezes, por causa desses defeitos. O que não impede que nossos amigos também tentem nos mudar um pouco, quando a gente está errando a dose e exagerando, sendo quase uma caricatura de si mesmo.

Nessa viagem eu vi a amizade de diversas formas. E todas elas eram amizade. Diferentes. Eu pude realmente enxergar as diferenças e o que as pessoas tem a me oferecer naquele momento. É mais fácil a gente ver o “diferente” no Outro. Difícil é aceitar que o diferente pode ser o nosso vizinho. A diferençazinha nossa de cada dia, aquela do varejo, que você vai percebendo pouco a pouco, nos pequenos gestos, essa sim é foda de agüentar. As pequenas divergências. Os mal entendidos.

Eu não tenho só seis amigos como eu falo aqui (aliás, como diz a citação ali em cima, quase tudo que eu digo aqui é mentira, ainda que não seja; aquele papo do poeta fingidor, bla bla bla). Porque cada amigo é de uma tonalidade, de uma sonoridade, de um cheiro e de gostos diferentes. Nenhum é pior ou melhor, mais ou menos. Uns são mais próximos, outros mais distantes, mas isso não interessa porque não existe uma escala Richter pra amizade - embora algumas amizades passem por verdadeiros terremotos; mas o que são os terremotos se não um acomodar de terras?

Todo relacionamento é um projetar-se no outro. Você vê um espelho. Resta saber se você quer fazer as pazes com o seu espelho ou brigar com ele. Querer corrigir os defeitos do espelho NO espelho não parece ser a melhor solução.

Eu não vou deixar de ter amigos só porque eu criei um ideal na minha cabeça. Eu não vou deixar de ter amor só porque eu criei um ideal na minha cabeça. Eu não tenho problemas nenhum em mudar de idéia quando concluo que aquela não serve mais. Algumas idéias minhas tão cheirando a mofo. Eu não vou acreditar na amizade e no amor porque não se trata de uma questão de crença. Acreditar a gente acredita em Deus, em Coelhinho na Páscoa e na Mulher de Branco. Relacionamentos se constroem com pessoas de verdade que mudam com o tempo. E é preciso aceitar que nossos amigos e amores vão pisar na bola de vez em quando. Assim como você também vai. E eu não quero saber quem tem razão. A amizade tem razão. Sempre.

Que meus amigos nunca me esqueçam, é tudo que eu posso exigir. Mas se esquecerem, que eu possa entender. Que eu possa perdoá-los muitas e muitas vezes, porque eu também vou precisar disso. É isso que me interessa.

7 comentários:

Lilica disse...

Lindo texto, querida. Me vi ali em muitas linhas...
Beijinhos e welcome back.

Anônimo disse...

Venho sempre aqui e acho que nunca comentei. Adoro seus posts, e nesse você estava particularmente inspirada! lindo e verdadeiro (o que muitas vezes parece impossível, ser lindo e verdadeiro ao mesmo tempo...).
bjs!

Carrie, a Estranha disse...

Oi, Alline! Obrigada!

Oi, Greice!

É sempre bom ver novas pessoas comentando! Q bom q gostou!

Bjs

Anônimo disse...

E viva a amizade!!! Um brinde a nossa amizade> Só verdadeiros amigos podem ter fotos como aquelas que vc mandou....hahaha.
adorei o post. Bjs.

Carrie, a Estranha disse...

Q bom! Veja como sou boazinha: nem postei aquela foto aqui! Hahahaha...

Anônimo disse...

Ah!!!! Estava tão feliz de pzr parte do G6...rsrsrsrsrs...mas agora ele nao existe mais. Brincadeirinha...agora será o Gn. E viva nóis!!!!!!!

Unknown disse...

Oi faz tempo que não passo por aqui, daí recebi teu e-mail e acabei dando umas clicadas por aqui e tb dei de cara com este texto. Lindo.