quarta-feira, abril 11, 2007

Borderline




Eu sou aquela que se situa entre. Não por ficar em cima do muro, mas justamente por escolher um tanto pouco de vários. É a fronteira que me define. A interseção. O retalho. A mistura de várias coisas que dão em outra diferente das suas origens, mas nem por isso oposta. Eu não me encaixo. Eu me espremo. Eu sobro. Às vezes falto. Meu lugar é um não-lugar. No meio do caminho tem sempre uma pedra. Eu páro e fico olhando a pedra. Eu me distraio com a pedra. Meu tempo é outro. Eu entendo tudo de outro jeito. Eu só sei fazer as coisas do meu jeito. Se não prefiro nem fazer.

Exemplos práticos: quando eu tava na Comunicação – e mais especificamente no jornalismo - as coisas que eu fazia estavam mais perto da arte e sempre me cobravam a tal da objetividade. Quando eu estava no Teatro, as pessoas achavam que eu era muito cerebral e me cobravam um pouco mais de leveza e desprendimento para conseguir to play. Quando eu fui fazer doutorado em História, me perguntaram porque eu não fui pra Letras. Em Letras, me dizem que meu trabalho é da História. Quando eu estou no Rio, me perguntam se eu sou mineira. Quando estou em Minas, se sou carioca. Nunca me senti tão brasileira quanto na Europa. Entre as magras eu sou gorda. Entre as gordas, magra. Entre as lindas eu sou feia. Entre as feias, linda. Chega de exemplos práticos.

Quando eu começo a me sentir confortável em qualquer posição algo, alguém ou até eu mesma muda tudo. E o que eu sou? Tudo isso. Costurado. Amarrado. Pra desfazer um ponto mal feito tem que desmanchar toda a colcha. Não há outra saída. Não pra mim. Talvez seja essa a graça. Eu me faço de Penélope porque no dia em que eu acabar a colcha não vou ter mais esperança. Vou ter chegado no fim. Vou ter as respostas.

Quando eu descobri isso eu parei de sofrer – tanto. É assim que funciona. Porque toda vez que me tiram o chão eu saio voando. Meu chão sou eu. Toda vez que falta o sentido eu tento achar outro. Mesmo que seja o não sentido. Mesmo que eu tenha que começar a colcha da estaca zero. Ainda que faltem linha e agulha.

6 comentários:

Unknown disse...

Lindo, muito lindo este texto!!!
Acho que somos irmãs gêmeas de fato...Ou, quem sabe, a mesma pessoa?
Eu espero que vc, minha doce Penelope, seja muito feliz.
Hoje quando vc me deixou naquela rua próxima à Praxis, o pensamento que tive foi que todo o bem estar que eu comecei a sentir, naquele momento, voltasse ou fosse dividido, ou quem sabe multiplicado pra vc.
Te amo!
Beijos, Bibi

Carrie, a Estranha disse...

Minha Fumiga Imã! Num é Viviane, não! É meu balubalubalubalu...
beso

Carrie, a Estranha disse...

Ah...q lindo ter uma irmã q me deseja coisas tão boas...então vai ficar indo e voltando indo e voltando pq eu desejo o mesmo!

anouska disse...

lindo texto, carrie. lindo mesmo. bjs

Anônimo disse...

Adorei... (para variar!)...
Posso copiar, e por no meu blog? ja fiz um comentario sobre ocezinha no meu bloglele/leleblog e fiz o link para o seu. Vou fazer de novo. Voce eh super-iper-barbara.
Ah, se vc tiver um tempinho, veja este video que meu cacula, que mora no Rio, me mandou (quase morri de tanto chorar, mas eh uma coisa... acho que vc vai gostar tb)= http://www.youtube.com/watch?v=tAv1FDpdnmE . Depois me conta. Nao esquece de me dizer se posso por sua cronica, e eh claro, com seu credito. Beijos.

Carrie, a Estranha disse...

Oi, Hetie!

Claro q sim! Fique à vontade! Obrigada pelo comentário!

Depois vejo o vídeo.

Bjs