sexta-feira, março 30, 2007

Eu uso peruca



- Podia me dizer por favor, qual é o caminho para sair daqui? - perguntou Alice.
- Isso depende muito do lugar para onde você quer ir. - disse o Gato.
- Não me importa muito onde... - disse Alice.
- Nesse caso não importa por onde você vá. - Disse o Gato.
- ...contanto que eu chegue a algum lugar. - acrescentou Alice como explicação.
- É claro que isso acontecerá. - Disse o Gato - desde que você ande durante algum tempo.


(Alice no país das maravilhas - Lewis Carrol)





Pessoa entra em crise (não ESSA pessoa; Uma pessoa; Artigo Indefinido). A vida tá sem graça, sem ânimo, sem objetivos...Mas claro que ela não vê isso dessa forma. Ela nem sabe que tá em crise. (Se ela soubesse já seria metade do problema resolvido). Ela apenas acha que precisa de alguma coisa nova, alguma coisa... really exciting. E que essa coisa existe e está em algum lugar, em alguma coisa específica ou em alguma pessoa. Aí ela resolve tentar o Caminho das Novas Experiências. O problema é que, como ela não sabe exatamente do que precisa, sai tentando de um tudo. Não seleciona o tipo de experiência. Escolhe a experiência pela experiência. A primeira que passa pela frente. Afinal, toda experiência é válida. Essa é a máxima do nosso tempo. Acumule experiências. Afinal, o que você vai ter pra contar pros seus netos?

Eu tenho curiosidade de saber se há vida em Marte. Entretanto, não sei se pegaria um foguete pra ir até lá. Eu não preciso dar um tiro na minha cabeça, bater o carro contra o muro ou pular de um precipício sem pára-quedas só pra ver como é. Só porque eu tenho uma leve curiosidade então uou! preciso ver qual é. Só pra ter Novas Experiências. Vou rodar bolsinha na Avenida Atlântica pra ver como é. Vou dar o cu na feira pra ver como é. Eu acredito quando as pessoas dizem que o fogo queima, que armas matam e certas coisas doem.

Em um momento em que você já não tá muito bem o Caminho das Novas Experiências pode trazer mais dor. E pior: Novas Dores. Mas a pessoa continua, né? Não admitindo que tá doendo, dando murro em ponta de faca, dizendo “tá tudo bem” e que ela só está experimentando. Mesmo que parte dela fique pelo meio do caminho. Mesmo que isso só piore tudo. Mesmo que ela tenha na cara o semblante de um bobo alegre. Um riso plastificado como uma máscara de clown que encobre uma dor que nem ela tá vendo.

Será que não é mais fácil sentar e chorar? Dizer simplesmente que não faz a menor idéia de nada? Alou? Alguém? Estou completamente perdido! Não faço idéia de pra onde vou, mas nem por isso vou ficar vagando por aí!

Mas pode ser apenas a minha moral vitoriana e meu ultra reacionarismo de extrema direita que quer se apegar às antigas convicções que não me deixam ter Novas Experiências a qualquer preço, não é verdade?

Hoje vi uma cena fofa: um cachorro que andava – um basset –sozinho, com a sua coleirinha na boca. De vez em quando ele olhava pra trás, mas não deu pra saber se tinha alguém com ele. Todas as pessoas na rua também olhavam pra ele. Me lembrou a história do Barão de Munchausen que pra tentar sair do atoleiro resolveu se puxar pelos próprios cabelos.

Têm pessoas que preferem se puxar pelos cabelos pra sair do atoleiro.

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei Carrie, e muito, deste teu post "there is no way to happiness, happiness IS the way"!Baci

Carrie, a Estranha disse...

Oi, Aliki!

Como vão as coisas aí na Suiça? Neutras como sempre? (dããã...)

bjs