quinta-feira, fevereiro 08, 2007

A semente da mostarda


É impressionante como o ser humano precisa de pouco para ser feliz. E de quase perder esse pouco pra saber disso.

Hoje foi um dia incrível. E dias incríveis o são porque o são. Não anunciam com antecedência e muitas vezes não têm um motivo concreto. São os meus preferidos, aliás. Esses que não têm um motivo concreto. Porque é fácil ficar feliz por causa de alguma coisa. Difícil é ficar feliz por causa de nada. Ou quase nada.

É que eu tava com uns pobrema aí. Coisa minha. E de repente os pobrema sumiram.
O Rodrigo Amarante do Los Hermanos me deu mole! Olhou, fixou o olhar, mesmo conversando com o outro cara, depois olhou de novo. Aí o celular dele tocou. Ficou falando que nem uma matraca e eu fui cuidar da vida. Fui procurar uns livros de um monge zen budista que eu estou estudando. E o vendedor era budista. E me deu altas dicas. E foi super gente boa. E me deu o endereço de um templo zen-budista. Quase dei uma de Paulo Coelho e acreditei que o Universo conspirou a favor.

Depois vi um dos caras do Caceta – que não me deu mole, graças a Deus, aliás.

E eu saí caminhando pela praia de Ipanema, pois era hora do rush e eu ficaria engarrafada se pegasse um ônibus. Andei do posto 10 ao Arpoador. Vendo turistas de toda parte do país e do mundo, deslumbrados com a cidade em que eu vivo. Sentia um sorriso cúmplice de alguns nativos que parecia dizer: pois é, e a gente mora nela, foi mal aí. E eu pensei: rapaz, acho que o ridijanero né tão feio, não, sô! E eu sentei no Arpoador e tomei uma água de côco enquanto o sol se punha nos Dois Irmãos, dando aquele reflexo na água. Coisa de cinema ou de novela do Manoel Carlos. E tinha uns turistas malas dentro da água, rodando a sunga, enquanto outro sem loção filmava e eu pensei que isso era culpa da propaganda da Skol.

E resolvi pegar um ônibus e peguei aqueles com ar condicionado. Geladinho, geladinho. Vim rápido. Cheguei em casa e tomei meu banho gelado com meu Pantenezinho que eu amo. Graças a Deus eu tenho um cabelo que aceita shampoos baratos sem reclamar.

E fiquei pensando: cara, como eu sou feliz! Moro numa cidade em que eu saio na rua e encontro o vocalista da minha banda predileta e ele me dá mole! Numa cidade em que apesar da violência – aliás, acho que por causa dela – tem templos budistas!

Tenho saúde, muita saúde. Tenho pouca celulite. Posso viajar amanhã pra qualquer lugar do mundo. Posso mesmo. Não tenho satisfações a dar a ninguém. Não tenho marido, filhos e nem família pra sustentar. Tenho meu dinheirinho, que não é muito, mas tem dado. Aliás, eu não preciso de muito dinheiro, graças a Deus! Sou livre. Tenho um trabalho do qual eu me orgulho cada dia mais. Um trabalho em que eu acredito e não simplesmente empurro com a barriga, como já tive que fazer.


Eu tenho uma família incrível. Com problemas, claro – do contrário não seria família – mas incrível. Onde as pessoas as pessoas ficam juntas porque se gostam e não porque são família. Eu tenho muitos primos maravilhosos, mas particularmente três primos fofos, que são que nem meus irmãozinhos – além dos meus quatro irmãozinhos lindos. E que já têm outros filhos, mais fofos ainda e uma sobrinha linda que provam que tudo se renova e uma geração já desponta pra dizer ei, sua rabugenta mal humorada, senta no chão de novo com a gente! Vem brincar!

Eu tenho um Baru! Gente, vocês não têm idéia do que é ter um Baru!! Só duas pessoas no mundo todo têm um Baru e eu sou uma delas.

Eu tenho uma Gotham City com uma linda Bat Caverna pra onde eu fujo toda vez que o combate ao crime está duro demais. Com uma mamãe fooooofa. A mais fofa do mundo. Que aprendeu a mexer no computador há pouco tempo, que disse que vai ter um blog, que pinta jarros em porcelana e que aprende novas coisas o tempo todo, mesmo com as perdas da vida. Aprende, aliás, por causa delas. Que tem 70 anos e é muuuito mais jovem que eu. Quem sabe um dia eu aprenda a ser tão jovem quanto ela. Uma mãe que tem um senso de humor sarcástico e ácido que eu demorei anos pra descobrir e que morro de rir hoje. Uma mãe que sempre me disse que é preciso “ir em frente” e que “assim é a vida”.

E quando a realidade fica pior ainda eu tenho uma Pasárgada! Porque lá, vocês sabem sou amigo do Rei. Lá tenho três fadas madrinhas que me protegem mesmo à distância, saídas diretas de um conto de fadas chamadas Dedinha, Tatá e Deceles. Com direito a anão e tudo. E um jardim secreto.

Tenho amigos! Amigos bons, leais. Que mesmo que eu passe meses sem falar com eles, que mesmo que eles morem do outro lado do Atlântico, me amam. E eu os amo.

Tenho um blog que ontem teve 302 acessos! E leitores inteligentes que gostam dos meus textos!

Eu sei onde fica a Idade Média! Isso é muito, muito bom e faz toda a diferença!

A vida é boa. Apesar de. Ainda que. Mesmo assim. Aliás, ela é boa justamente por causa desses “apesar de”, “ainda que” e “mesmo assim”.

E o que mais me tira o fôlego de felicidade é pensar que isso pode acabar de uma hora pra outra, por mais mórbido que isso possa parecer. Li que um filósofo medieval – ah, não me lembro o nome – morava de frente pro cemitério pra se lembrar constantemente de sua finitude. Os gregos tinham uma expressão pra sintetizar isso que era Memento Morti, algo como “se lembre que você vai morrer”. Um Carpe Diem mais sombrio. (Acho um bom tema pra uma tatuagem, vocês não acham?). Mas ainda não acabou. Ainda não. Ainda. E é isso que importa. Esse instante. As centelhas, os gestos.

O mundo é bão. É mau também, mas é redondo o suficiente pras coisas irem e virem e não ser nem todo o tempo bão, nem todo tempo mau. E grande, pra caber um pouquinho de tudo.

9 comentários:

Anônimo disse...

Bom dia!
Que texto maravilhoso, e por coincidência ou não hoje acordei com um sentimento assim também. Sentido que a vida é boa, mesmo com os problemas. E que a gente complica demais.
Beijos

Anônimo disse...

Querida, que os Deuses mantenham por mais tempo o que por natureza é tão breve. É tão bom quando temos noção do momento exato das coisas, parece que o tempo literalmente pára, não é?
Desejo de coração, essa certeza de felicidade por "pequenas grandes coisas.
Beijos.
Ella

Carrie, a Estranha disse...

Oi, Tatiane!

Ah, q bom q vc tb está assim. E como eu disse a vida não é boa mesmo com os problemas, mas justamente por causa deles. Só com eles é possível experimentar a felicidade.

Oi, Ella!

Tava com saudades de vc!
Bjs

Anônimo disse...

Lindo texto!!!
Que vc tenha sempre momentos muito felizes!!!
Beijos,
Baru

Anônimo disse...

Sou nova aqui e amo seus textos.
Já adicionei aos favoritos.

Beijo grande

Carrie, a Estranha disse...

Oi, Balu! Bigada!

Oi, Andréa! Obrigada. Seja bem vinda! Sempre fico feliz qdo novas pessoas "dão as caras".
Bjs

Anônimo disse...

Adorei o texto....seus textos me divertem a maioria das vezes e muitas vezes me emocionam, como hoje...beijos.

Anônimo disse...

Estou lendo retrospectivamente o seu blog e cheguei nesse post agora, é lindo o momento que a gente se lembra que pra ser feliz é só "ver" com outro olhos as coisas de sempre...
mas não me aguentei e morri de rir na parte do Rodrigo Amarante, ele já me deu mole tb!!! Hahahahaha e o pior de tudo, ele é casado!!!
hahahahaha mas falando sério agora, vc não me conhece mas desejo que esses momentos se repitam na sua vida e na vida de todos nós.
Menos a parte do Rodrigo Amarante...

Beijos

Carrie, a Estranha disse...

Hahaha...Anônimo, vc é uma figura! Quem é vc? Assina aí?

Pô, esse Amarante é facinho assim? Foda, hein?

Bjs