sábado, fevereiro 17, 2007

No início e no fim


Quando você se apaixona por uma pessoa pensa que isso se deu “apesar de” todos os defeitos que ela tem. Na verdade você se apaixonou justamente – ainda que não apenas – por causa desses defeitos. As pequenas particularidades, singularidades, idiossincrasias que fazem do seu amor só seu. Que lhes fazem um “nós”. Aquilo que só vocês sabem, só vocês percebem um no outro. O dentinho levemente torto. A pinta em cima da boca. A cicatriz no joelho de quando ele caiu de skate. Os fios grisalhos. A barriguinha. O jeito de dormir de boca aberta na frente da televisão. As rugas. A palavra que ela insiste em falar errado. A mania de comer Cheetos com fanta uva. O péssimo gosto musical. A risada alta. Coisas que um olhar apaixonado foi treinado para perceber. De tanto olhar para o outro. De tanto se perder em cada curva ou buraco da pele. De tanto acordar um pouco antes só para poder olhar sem ser olhado.

Quando você se desapaixona por uma pessoa pensa que isso se deu independente dos defeitos. Na verdade você se desapaixonou justamente – ainda que não apenas – por causa dos defeitos. As pequenas particularidades, singularidades e idiossincrasias que fazem do seu amor um estranho. Que lhes fazem um “eu” e “tu”- e de preferência bem longe. Aquilo que todo mundo parece perceber. Por que ele não bota um aparelho nos dentes? Por que ela não tira essa pinta? Isso pode ser câncer de pele! Por que não tira essa cicatriz? Por que não pinta esse cabelo? Faz uma dieta! Tão desleixada! Fecha a boca! Que patético! Faz um botox! Já te corrigi mil vezes essa palavra e você insiste em falar errado! Você não é mais criança pra ficar comendo Cheetos com fanta uva! Você deveria ouvir mais jazz! Ria baixo! Coisas que um olhar desapaixonado foi treinado para perceber. De tanto não olhar mais para o outro. De tanto fugir de cada curva ou buraco da pele. De tanto dormir um pouco antes só para não precisar olhar.

No início as juras de amor prometem que nem 40 quilos a mais os separariam. No final 4 quilos podem separar. Não apenas isso, mas um pouquinho disso, mais um tanto daquilo e uma pitada de aquilo outro. E a gota d’água pode vir no dia em que ele fala “para mim fazer” na frente do seu amigo escritor.

Porque no fundo nós somos muitos superficiais. E o que conta são esses pequenos detalhes. Nos apaixonamos por uma série de signos que, num dado momento, sem maiores explicações, param de significar amor para uma das partes (ou ambas).

E aí você se pega pensando que aquela bermuda havaiana e aquele CD do Ivan Lins realmente não podiam ser bons sinais. Pior: a música preferida dele era “Madalena”. Não podia dar em boa coisa. Os cd’s do Chiclete com Banana dela jogados num canto do armário denunciavam que um dia aquilo ia acabar. Banda Eva passava. Mas Chiclete? Há limites.

E depois de muito, muito tempo você lembra de tudo isso com uma certa ternura. Achando tudo, no máximo, engraçadinho. Ou às vezes a boca ainda amarga um pouco no canto. Um gosto de vazio. Do nada. Da ressaca que custa a passar. E também um gosto de déjà vu. De saber que tudo acaba. Até a solidão. E novamente o ciclo vai se reiniciar e você vai se apaixonar por uma pessoa não “apesar de” todos os defeitos que ela tem, mas por causa desses defeitos. Que serão os mesmos da pessoa anterior, mas você jurará que são completamente diferentes.

Eu quero os meios.

4 comentários:

Anônimo disse...

nossa carrie, adorei o texto! eu sempre leio seu blog, mas quase nunca comento (acho q só fiz isso uma ou duas vezes, no máximo). só q esse texto tem mto a ver justamente com o q tava conversando hj com uma amiga! acho q é meio por aí mesmo q as coisas rolam, não é?
bjs

Carrie, a Estranha disse...

Olá!

Acho q já vi um comentário seu por aqui.

Pois é. Acho q é isso.
Q bom q gostou.

Bjs

anouska disse...

oi, querida. que que a linda já saiu desse corpo, kkkkkkkkkkk! eu tô doente, mas só viajo depois do carnaval, dia 27 de fevereiro. enquanto isso tô em casa, tentando arranjar força pra continuar escrevendo o tal capítulo pra qualificação. antes da viagem eu queria estar com umas 30 páginas prontas, pleo menos. acho uqe vai dar; até agora são 25. se estiver de bobeira e quiser dar um rolé em niterói estamos aqui. tô doente, mas num tô morta. e com o antibiótico e o resto a tendência é eu melhorar em uns dois dias. bjks

p.s.: depois eu volto e comento o texto, oquei?

anouska disse...

ops: ali em cima era "que BOM que a oinda saiu desse corpo." só pra constar.