quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Em defesa de Grazi Massafera

Em entrevista ao Segundo Caderno, semana passada, José Wilker disse que “despreza ex BBBs” e que se tivesse que trabalhar com algum deles o faria com muito sacrifício.

E...tipo assim...ex-socialite que vira atriz, qui nem a Guilermina Guinle, mulher dele? Aí pode? Ah tá. Só queria entender qual o critério. Acho que é o critério de “mas a minha história é diferente”. Será?

Vi várias polêmicas, aliás, envolvendo a Grazieli Massafera, ex-BBB que participa de Páginas da Vida, e outros atores da novela. Estes estariam enciumados com a participação excessiva da moça e teriam ido reclamar com Manoel Carlos, o autor.

Peraí. Reuaindi, reuaindi que eu não tô entendendo! Quem não tá gostando? Ana Paula Arósio, ex-modelo? Deborah “Carpenter” Evelyn, mulher de diretor? Ana Furtado, mulher de Boninho? Ana Botafogo, ex-bailarina? Helena Ranaldi, ex-mulher de diretor? Daniele Winitis...? Cuma assim? Passemos a outras produções da Globo: Fernanda Lima, namorada de diretor e ex-modelo. Vera Fischer: ex-atriz de pornô-chanchada dos anos 70. Cristiane Torloni: idem, ibidem. Letícia Sobrenome-Impronunciável: ex-modelo e vesga. Luana Piovanni, Camila Pitanga, Carols Ferraz e Dieckman: modelos. E mais um monte de outras atrizes ex-outras-coisas que a gente sabe mas não vai nomear porque não taí pra tomar processo.

E Marília Gabriela, gente? O QUE É MARÍLIA GABRIELA sendo atriz??? Aí pode? Ah tá. Só queria entender.

É muito difícil ser ator no Brasil. Muitas vezes, quando as pessoas não têm sobrenome famoso e não querem dar pra diretor, escolhem fazer comercial ou até participar do BBB pra modi não morrer de fome. Por que isso é menos digno do que ser prima/cunhada de diretor? Até cunhado de diretor virou profissão, meu povo!

Uma pena as pessoas esquecerem dos próprios passados, vocês não acham?

Eu acho que o problema não são ex-modelos, ex-prostitutas, ex-dentistas, ex-médicas...que viram atrizes. O problema é serem péssimas atrizes. E disso ninguém tá livre. Porque ator – e ator de TV, principalmente – acha que nasceu pronto. Que não precisa estudar. Que não tem como melhorar. Idéias românticas a respeito da arte – mas não tente falar de romantismo alemão com um ator, porque ele nunca ouviu falar disso, mas vai achar que sabe e ficar bege quando descobrir que Schiller já morreu. Há uns 200 anos, aliás.

E, na boa, no mar de aberrações que é essa novela do Manoel Carlos a Grazi tá batendo um bolão. “Ah, mas ela tá fazendo papel dela mesma”. E a Ana Botafogo, que também tá fazendo o papel dela mesma e é um horror? E olha que a mulher já tinha experiência de palco! São meios diferentes, oquei, mas sempre dá pra se aproveitar uma coisinha ou outra. Ela sabe o que é interpretar um personagem. Precisava estar com essa cara de não-vou-olhar-pra-câmera-não-vou-olhar-pra-câmera-sou-natural?

O teatro, cinema e TV estão repletos de ex-modelos e ex-prostitutas que começaram pelo seu rostinho bonito. Reza a lenda que Marylin Monroe posou nua por um prato de comida e que era garota de programa. Imagina se alguém tivesse tido preconceito? Teríamos sido privados de um dos rostos e corpos de maior sex appeal, beleza e talento que o cinema já nos deu.

Só queria salientar que eu não estou fazendo um culto às celebridades instantâneas. Só estou querendo dizer que a profissão de atriz sempre foi difícil e cercada de preconceitos. Ao longo da história do teatro brasileiro, as atrizes se utilizaram de diversas artimanhas para atuarem. Até os anos 40 “moças de família” não faziam teatro. Até o governo Dutra, atrizes faziam os mesmos exames ginecológicos que prostitutas. A profissão não era regulamentada. Vejam bem: não estou dizendo “sempre foram putas e agora estão reclamando?”. Não é isso. Estou apenas contextualizando as coisas no tempo e no espaço. Ou, em outras palavras, dizendo: “relou!”. Esse papo de ter sempre um grupinho que reivindica pra si o território de “verdadeiras atrizes” não é de hoje!! Isso é complicado. O buraco é mais embaixo.

Só pra vocês terem uma idéia, vou contar uma historinha (outra? Ah, não...pula, leitor, pula).

Quando Vestido de Noiva, peça de Nelson Rodrigues considerada o marco inicial do teatro brasileiro moderno, estreou nos palcos cariocas, em 1943, o elenco era todo formado por amadores. Chamavam-se “Os Comediantes”. Nunca haviam feito teatro. As moças eram “de família” – uma delas, inclusive da família Guinle. Moças de sociedade. As atrizes profissionais da época faziam o famoso Teatro de Revista e se apresentavam na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro. Turminha de Dercy Gonçalves e cia. Muitas eram prostitutas de fato. Dizem até que Getúlio Vargas, presidente, teria sido amante de algumas. O espetáculo encenado pelos Comediantes estreou no Municipal, catapultando Nelson e o grupo para o estrelato. Adivinhem quem ficou com ciúmes? As atrizes profissionais!! Qual o discurso? “Elas, que nem atrizes são, estão roubando nosso trabalho”. Foram, inclusive, se reunir com Getúlio pra reclamarem questões de patrocínio (longa história que eu não vou entrar em detalhes). Alguma semelhança com o papo da Grazi? Pois é, leitores. Nem criatividade os atores de hoje em dia têm.

Em profissões onde se trabalha - não necessariamente, mas também - com imagem é complicado alguém não se aproveitar do fato de ser bonito e ter ficado exposto na mídia pra realizar um sonho de ser atriz. Claro que não é só isso que conta. Se ela for boa, vai ficar.

E se não for, pode tentar casar com algum diretor e falar mal de outras celebridades instantâneas no futuro, né? Afinal, num país pobre e medíocre como o nosso, quem é que vai se lembrar de alguma coisa?

5 comentários:

Sérgio Mayor de Andrade disse...

Eu vou-te ser sincero, nao gosto nada de celebridades instantâneas. Porém, aceito e respeito que cada um aproveite os seus wharolianos 15 minutos de fama.

Respeito mais isso que a opinião mainstream, preconceituosa e pretenciosa do sr. José Wilker.
bj
(btw, tenho um novo blog)

anouska disse...

a primeira coisa que pensei quando li sobre isso foi: mas quem é a ana paula arósio pra falar tal coisa? eu acho que a grazi devia tomar um banho de sal grosso e seguir linda e loura, se lixando pra essas peruas. bjs

Anônimo disse...

Acho a Grazi muito simpática. É uma daquelas raras mulheres lindas que, apesar de celebridades instantâneas, ficam ainda mais lindas porque além de não ser babacas ainda são simpáticas. E, sinceramente, acho que a menina leva jeito como atriz. Tem muito a aprender, mas já tem carisma pra dar e vender. Apesar de ser ex-BBB. E, como você frisou, a mediocridade hoje é tão grande entre os milhões de celebridades que pululam por aí, que ser BBB nem é tão pejorativo...

Patricia Fernando disse...

Não poderia ter resumido melhor o preconceito desses atores que apesar do telhado de vidro ficam atirando pedras no vizinho.

Concordo plenamente, que a Grazi está surpreendendo como atriz. Não é nenhuma Fernanda Montenegro, mas nem a Fernanda chegou abafando.

Deveriam falar muito mais na história podre que o Manuel está apresentando. Isso sim é de estragar o humor de qualquer espectador. Faltou criatividade? Vai pescar, ao invés de escrever uma coisa tão "non sense"

Carrie, a Estranha disse...

É isso aí, moçada...

bjs