segunda-feira, dezembro 18, 2006


Hoje fui tomar café da manhã da padaria. Gentil senhor encostado no balcão, também esperava para ser atendido. Quando chega o atendente, eu, que sou uma lady quase saída dos romances de Flaubert, cedo a minha vez para o gentil homem que novamente cede para mim. Antes que o atendente perdesse a paciência, afinal não estamos no século XIX, achei melhor pedir logo.


Eu: Um suco de laranja, um pão na chapa e uma média.

Gentil Senhor: Um café – virando-se para mim – ah, ainda não tomou café, não?


Ôou. Problemas à vista.


Eu: não.


(Já não tão)Gentil Senhor: Eu já. Esse é só o cafezinho. Mora pra lá ou pra cá?


Eu (já desconfiando): pra lá.


Quase Mala Senhor: Ah é? Eu moro pra cá.


Silêncio. Morreu o assunto. Ufa.


Desagradável Senhor: Você trabalha fora?


Dizer pra ele que eu faço doutorado estava fora de questão, pois eu estaria lá até agora, conversando com ele, explicando a minha hipótese...Mas, me sentindo culpada em dizer que não trabalhava e ele pensar que eu era à toa, acabo respondendo que “sim”.


Muito Desagradável Senhor: A que horas?


Eu: Ãhn...às 11!


Eram nove e meia da manhã, mas quis dar um prazo bom pra parecer que eu era uma dessas funcionárias ótimas que chegam bem antes, estilo "funcionária do mês".


Insuportável Senhor: Onde?


Ai, meu Deus. Esse cara é um psicopata que vai me seguir e me matar e me esquartejar...


Eu: no Centro.


E se ele perguntar onde? Digo “numa firma”. E se ele perguntar “que firma”? Aí eu simulo um ataque cardíaco e desmaio. Antes que eu precisasse fazer tudo isso, enquanto o cara fazia o suco, tive a brilhante idéia de me sentar à mesa, para que o Intragável Senhor não me fizesse mais nenhuma pergunta desse calibre e eu me visse, de repente, numa trama cheia de filhos, hipotecas e uma carreira de gerente de banco. Pedi licença, como convém a uma lady como eu, e fui me sentar.

Ainda bem que eu estou num momento de profunda evolução espiritual. Em outros tempos...

Depois eu fiquei pensando: que emprego a pessoa estaria ali, às 9:30, tomando um café, tranqüilamente? Aí encontrei um conhecido de Volta Redonda (yesss! Judeus do Vale do Paraíba Unidos Jamais Serão Vencidos!), que é economista do BNDS e também estava ali tomando café tranquilamente! No final ele disse pra mim: “deixa eu ir que eu tenho hora”. Pensei: pronto! Da próxima vez que um velhinho maluco perguntar o que faço, vou dizer que eu trabalho no BNDS! E se ele começar a perguntar sobre a taxa de juros selic, aí eu simulo um ataque cardíaco.


(Esse post foi um oferecimento de Impulse! Se algum dia um desconhecido lhe perguntar o que você faz...corra!)

9 comentários:

anouska disse...

ahuahauuahauhahauha, best post ever!!! me identifiquei muito. semana passada caí na besteira de aceitar carona de um velhinho que parecia inofensivo e muito gentil. eu tava atrasadééééérrima e o véio parecia não oferecer perigo algum. eu pensei: pô, já fui de carona de vitória pra piúma, isso é fichinha. cara, que velho sem-noção!!!!! muito pior do que esse aí. as pessoas sem-noção não deveriam envelhecer. porque tem coisas que até ficam bonitinhas num adolescente de 15 anos sem-noção, agora num velho são de dar pena. bjs

Anônimo disse...

Ahahaha, que horror. Por que vc não o chamou de tio?acho que a empolgação passava na hora... esses coroas que se acham eternos garotões, tsc,tsc; vou te contar, como diz a música da novela, rsrs.

MM disse...

Bom... eu tenho pelo menos duas histórias.
Uma aconteceu ontem, estava andando com a Bela, o senhorzinho chega, brinca com ela, pergunta o nome, e fala: puxa, mas ela é bela, e só poderia ser bela, pois você é bela (adorei!).
Outro senhorzinho, estava eu em Fernando de Noronha, o senhorzinho cheio de graça para com a minha pessoa... até que surge o terreno tenso das profissões e atividades, e eu descubro que ele já havia trabalhado com o meu pai!!!
Realmente, não há o que falar numa hora dessas...

Anônimo disse...

Hehehehe... Ri um bocado lendo seu post...

Anônimo disse...

Gargalhada geral Figura.

Anônimo disse...

Ahh Carrie, nós, mulheres tão ladys iremos ainda nos dar mal tamanha nossa delicadeza no trato deste homens suspeitos...

Me lembrei de uma história que aconteceu comigo a uns 4 anos atrás, num momento "lonely" da minha vida em que eu me inscrevi num site de relacionamentos.

Era um tal de e-mail chegando com "oi, meu nome é fulano, me fale mais sobre você", tipo, no site já tinha tudo sobre mim né? quem é que tinha que falar mais sobre si próprio eram os caras, mas enfim...

Tinha um cara mui simpático que me mandou um e-mail, bom de papo e tal, disse que ia me mandar uma foto. Me animei.

A foto foi abrindo, abrindo e eis que vejo um cara lindinho (eu não tinha perebido que era o Kaká do futebol sabe? mas tudo bem) ao lado de um véio xexelento.

Quem é você? perguntei animada. "Eu sou o de camisa vermelha". Ah, que ótimo, era o véio.

Fiquei meio assim de dispensá-lo, tipo, ia ficar muito na cara que eu não tinha me interessado pela feiúra, e eu como sou uma lady continuei o joguinho.

Bom, no final da história o cara vem para Londrina só para me ver, dei milhões de desculpas para não dar de cara com aquele misto de "Diego Rivera" e "Beiçola da grande família".

Ele mandou flores bem num dia que sai com o pessoal da faculdade.
Foi lindo, tudo bem, e como sou uma lady, achei de bom tom, ligar para agradecer.

Ele disse que estava no hotel Cristal e que qualquer coisa ele estaria lá me esperando.

Lóóógico que sumi do mapa né? mas oq ele nunca soube é que o Hotel Cristal ficava EXATAMENTE ao lado do prédio que eu morava.

Ufa! escapei por pouco!

Carrie, a Estranha disse...

Hahahaha...
Hilária sua história, Ila!
Pois é. Há uma diferença entre educação e dar mole. Mas nem acho q o velhinho tava me cantando, não. Era apenas uma coisa de gente solitária. Tão solitária q perde a noção do trato social.

Bjs a todos

Anônimo disse...

Vc precisa inventar uma nova persona para a funcionário do Banco. Primeira coisa, quem trabalha no BNDES só se refere ao lugar como "o Banco" (meio Matrix, mas enfim). Segunda coisa, tem um "E" na sigla (comentário pééééssimo e desnecessário porém irresitível). Terceira coisa, todos que trabalham lá odeiam mas não saem porque tem tanto benefício que ninguém consegue largar o osso.
E por último, ladies também sabem dar foras e ser antipáticas sem perder a pose. É só treinar. Bjs

Carrie, a Estranha disse...

Anna V,

Pois é, mas o problema é q eu teria q estar de terninho pro personagem colar. Acho q prefiro a opção do ataque cardíaco, mesmo.