quarta-feira, novembro 01, 2006

Schnerdles


Já falei aqui que eu adoro ouvir conversa de estranhos, né? Pois é. Adoro. Adoro observar pessoas que eu não conheço e pensar como são suas vidas. Olhar o caderno na mão da garota e imaginar se ele é de física ou filosofia. O olhar perdido de uma outra e pensar aonde ele está. O moço com flores na mão e imaginar quem será a felizarda que as receberá. Gosto de olhar as compras das pessoas no supermercado. Observar seus hábitos. Seus gostos – às vezes tão diferentes, em outras tão iguais aos meus. Imaginar que aquela pessoa vai chegar em casa e abrir aquele pão de cachorro quente, botar aquela salsicha dentro, abrir uma cerveja e comer. Ou que vai fazer cachorro quente pros filhos e a cerveja é pro final de semana. Gosto de pensar que cada pessoa sentada num ônibus, atravessando uma rua, fumando um cigarro é um universo próprio pulsando vida interna e ininterruptamente, tão próximo e ao mesmo tempo tão distante de nós.

Hoje eu ia pra Niterói, de 996 frescão. Sim, amigos, 996s são propícios para ouvir ótimas histórias, pois o trajeto é longo. A garota/mulher sentou-se atrás de mim. Liga pra uma professora e elas conversam sobre aulas, mestrado, etc. A professora parecia ser a orientadora da garota e esta tinha passado recentemente pro mestrado. Acho que em Letras. A menina queria saber os horários da tal professora pro semestre que vê, pois ela sabia que não podia ter vínculo empregatício, mas ia pegar umas aulas particulares e queria se organizar pra não perder as aulas da mulher e tal. Conversaram durante um tempo e depois parece que a professora perguntou como ela estava. A resposta dela foi algo no seguinte sentido:

- Ah, tô indo...de noite é sempre pior, porque aí lembra, chora...mas tô tentando investir nos projetos, nas leituras, no mestrado...fico o dia inteiro lá em Tal Lugar. Não ganho nada, mas pelo menos eu ocupo a minha cabeça com alguma coisa que eu gosto. Fazer o quê? A gente chora, fica triste... Ainda tá muito ruim porque tá muito no início, mas um dia passa. Fazer o que se a pessoa não quer crescer com a gente?

Humm...então havia um “alguém que não queria crescer junto”. Sei.

Fiquei pensando o quanto eu tenho ouvido isso ultimamente de pessoas que se separaram. “Agora eu vou pensar em mim, cuidar de mim, investir em mim”. Como se não desse pra fazer isso enquanto a gente tá com alguém. Mas quer saber? Pra maioria das pessoas realmente não dá. Pra maioria das pessoas – e eu me incluo nesta maioria – o amor é aquilo que está faltando. O complemento. A verdadeira razão de ser e existir. O objetivo de vida. A tampa da panela, a metade da laranja e outras metáforas domésticas que sugerem divisão e junção de almas. É muita pressão pro pobre do amor, gente! O amor salva. O amor redime...

Queria escrever alguma coisa mais concreta sobre o que eu penso sobre o amor - já escrevi e apaguei esse parágrafo várias vezes – mas decidi que não vou escrever sobre algo que eu não sei. Só queria registrar aqui o meu espanto. Amor que funde um ser ao outro, uma alma na outra...quero, não, brigada! Quero continuar a ser eu mesma e ter o meu mundo próprio, só meu. E se alguém quiser fazer algumas visitas ocasionais nele, tudo bem. Mas ele é meu. Não se espalhe muito nele. Minha alma é minha. Somos todos incompletos. O máximo que conseguimos é caminhar com a nossa incompletude ao lado da incompletude alheia. E isso já é muito.

Proponho inventarmos um novo nome pra esse novo sentimento. Schrnedles (sim, no plural). Que tal? Eu te schrnedles. Estou schrndledada por você. Vem cá que eu quero schrnedleiá! Chega desse papo de ferida que dói e não se sente, contentamento descontente.

2 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com vc.
Só acho o nome escolhido para o novo sentimento uma coisa meio complicada. Por questão de marketing, acho que não vai pegar não... Mas a idéia é perfeita.
Bjs.

Fernanda disse...

Tb adoro observar as pessoas e imaginar o que elas estão sentindo, de onde vêm, para onde vão.