quinta-feira, novembro 30, 2006

Pequenos nós


Fui ver Pequena Miss Sunshine. Confesso que não tinha dado muita pelota pro filme até ver uma observação de Mestre Delih, no blog das damas. Histórias de perdedores? Ôpa. Comigo mesmo.

Fui. O filme é muito, muito, muito melhor do que eu esperava. É lindo. É comovente. Sensível. Engraçado, muito engraçado. E verdadeiro. Porque, convenhamos, é a história da maioria de nós.

O filme conta a história de uma família indo para um concurso de beleza de criança. Além da menininha temos um pai que tenta vender um livro de auto-ajuda sobre as nove ferramentas do sucesso; um filho leitor de Nietzche que fez voto de silêncio até conseguir ser piloto de avião; um avô cheirador de cocaína expulso do asilo; um tio gay, o maior especialista em Proust dos EUA, que tenta se matar após ver o seu namorado se apaixonar pelo segundo maior especialista em Proust do país e a mãe da menina, relativamente normal. Quer dizer, uma família como outra qualquer.

A jornada/narrativa é basicamente o suceder de frustrações que cada um vai se deparando e o que cada um deles faz com isso. O auge é o concurso de beleza que é um verdadeiro show de horrores – criancinhas barbies, com cabelos armados, meda! O filme é tão bem construído, com um roteiro tão amarrado, tão enxuto que o final é absolutamente perfeito.

O filme todo é marcado pela filosofia nietzchiana de que só a partir do caos é possível emergir a vida e de que apesar de toda a dor e tragédia inerente a qualquer existência é essa dor que nos fortalece e move. Impressionante como o sujeito tem mais de 100 anos e ainda é tão difícil assimilar seus ensinamentos.

Numa das cenas o personagem do tio que é especialista em Proust fala pro sobrinho: “Proust foi o cara mais fudido do mundo. Gay, ficou escrevendo um livro durante 20 anos que ninguém lê, mas no final da vida ele percebeu que os anos de tristeza foram os melhores anos da sua vida. Porque foram os anos que o tornaram o que ele era. Os anos de felicidade de nada adiantaram”. E o garoto, que tava na pior, resolve dar um grande foda-se pra tudo. E viver, mesmo tendo seu sonho abortado.

Porque não é possível haver vida sem dor. Só na Caras. Foda-se se a Veja diz que suas chances de se casar são mínimas antes dos 40. Foda-se se você não pesa 10 quilos a menos que sua altura. Foda-se. Simplesmente não importa. Foda-se que você não ganha muito, se não encontrou o amor da sua vida, se não está na moda, na onda, u-hu. Foda-se. A maioria de nós não vai conseguir ser um monte de coisa. Mas a vida é muito mais do que isso. E é preciso dar espaço pro “isso” de cada vida. E viver com “isso”.

É como diz aquela frase: “se a gente não tentasse ser feliz o tempo todo até que daria pra se divertir bastante”.

8 comentários:

Carrie, a Estranha disse...

Hahahaha...Sim, somos o máximo, não?

Bjs

anouska disse...

eu ainda não vi, sou uma besta. mas pretendo corrigir isso nesse final de semana, acho que ainda dá pra ver no estação botafogo. aqui em niterói, uma província, filmes bons como esse mal duram uma semana. parabéns pelo texto que está muito bem escrito e particularmente inspirado, em especial a parte do "foda-se". a melhor coisa que eu fiz na vida foi conseguir dar um "foda-se" prum monte de coisa. pena que tive que pagar análise três anos pra chegar a essa conclusão... ah, tem também os filósofos. isso é igual a santo de devoção. o meu é wittgenstein. acendo vela pra ele e tudo; ele é meu pastor e nada me faltará, kkkkkkkk. bjs

Anônimo disse...

Amei a frase: “se a gente não tentasse ser feliz o tempo todo até que daria pra se divertir bastante”.

Isso serve para aquela nossa eterna mania de complicar as coisas simples da vida.

As vezes tenho a impressão que a gente age como se fossemos viver eternamente, mas caramba, a vida é curta para perdermos nosso tempo com complicações, temos que ser menos encanados com as coisas! (o difícil é fazer isso né?)

Anônimo disse...

esse filme é uma lindeza mesmo.
faz qualquer um feliz ao mostrar as possibilidades de felicidade em meio a caos completo.
a gente se sente mto menos deslocado no mundo.

anouska disse...

é mais que poderoso, sergy: a loucura dele é simplesmente apaixonante! (e arrebatadora também...)

Carrie, a Estranha disse...

Sergy,

Esse escritor não estã traduzido aqui, na Colônia. Vou dar uma sondada na net. Valeu!

bj

Carrie, a Estranha disse...

Hum...tá sim! Eu é q não conhecia!

Lara disse...

Esse filme é DEMAAAISSS!!! Eu amei, passa uma mensagem muito legal.

beijos