domingo, julho 23, 2006

Os outros



É estranho quando a gente encontra ou tem notícias de alguém que já amou. Das duas uma: ou a pessoa mudou muito ou não mudou nada (também pode ter mudado um pouco, mas não é sobre isso que eu quero falar). Se ela não mudou nada, dois caminhos de abrem: ou você tem saudades dela assim ou pensa por que ela continua desse jeito – o que demonstra o quanto você ainda gosta dela ou não. Se ela mudou totalmente, múltiplos caminhos se abrem (mesmo porque ela pode ter mudado pra melhor ou pra pior, basicamente): A) você fica triste em ver que ela mudou pra pior, pois você ainda sente um carinho por ela; B) Você fica feliz em ver que ela mudou pra pior, pois você ainda gosta muito dela, quer mais é que ela vá se fuder, acredita que vingança é um prato que se come frio e que o que é dela tá guardado – e que evolução espiritual de cu é rola!; C) Você fica alegre de ver que ela mudou pra melhor, pois você é nobre, bom e civilizado como a Regina Duarte e ainda sente um carinho por ela; D) Você fica triste em ver que ela mudou pra melhor, pois afinal, por que caralhos d’água ela não era assim com você?; E) Você fica puto porque agora ela faz exatamente as coisas que sempre condenou em você – e de certa forma, você se transformou um pouco nela e ela em você, e no final já não sabe quem é; F) Você descobre que ninguém muda só pra pior ou só pra melhor e que as aparências também enganam; G) Você simplesmente fica indiferente; H) Todas as respostas anteriores poderiam ser resumidas em duas opções: se você ainda gosta ou não dela.

Durante algum tempo eu achei que eu estava vendo fantasmas. Que eles retornavam apenas para me assombrar, pra roubar minha alma e minha vontade de viver. Para impedir com que eu me preocupasse com os vivos. E por isso eu me escondi em casa, atrás de pesadas cortinas e com medo até da luz do sol. Achava que se eu saísse, eles invadiriam a minha casa. Ao mesmo tempo me sentia atraída por eles e queria ver até onde ia minha audácia. E me expus a riscos, sem saber que era esse o tipo de risco que me faria crescer.

Hoje eu percebo que o fantasma sou eu. Eu estou numa casa que não é mais minha – terá sido algum dia? – e que já tem novos habitantes. Eu vivo num mundo que não existe mais. Sou eu quem precisa ir embora. Deixar a casa em paz e reconhecer que eu não posso mais habitá-la, em busca de fragmentos de uma vida que acabou há muito tempo. Tenho que me despedir. Já fiquei tempo demais numa casa que não me quer. Sou uma eterna estranha. Acredito em fantasmas.

2 comentários:

VanOr disse...

Exorcismo é viver o presente sem se assombrar com o passado.

Lara disse...

Tenho fé que um ainda vou conseguir expulsar os fantasmas da minha vida. Ainda me pego imaginando coisas, pensando em uma época que não existe mais, com pessoas que já seguiram com suas vidas enquanto eu continuo aqui, estagnada...

beijos