domingo, junho 05, 2011

Bestices


Eu tenho orgulhos bestas. Orgulhos bestas são orgulhos sem razão, sem justificativa. Porque existem os orgulhos-não bestas. Sim, existem. Nem todo orgulho é besta. Orgulho de ter feito um trabalho de qualidade, de ter contribuído para determinada coisa. Eu tenho um orgulho besta de ser quem eu sou. Eu me acho especial. Muito especial. Mais especial do que a maioria das pessoas - e também tenho a sorte e a bênção de ser cercada de pessoas especiais. Eu me isolo num campo gravitacional de pessoas especiais. Por mais na merda que eu esteja, e que eu reclame horrores (e eu reclamo por qualquer coisinha), eu sei, lá no fundo, que tudo vai dar certo, afinal eu sou eu. Porra. Veja bem: não é que eu me ache melhor do que as outras pessoas. Mas eu tenho orgulho de mim, das coisas que eu fiz e faço, das coisas que já enfrentei, das pessoas que eu atraio pra perto de mim, em suma: do que eu me torno a cada dia, a cada instante e do que eu ainda vou fazer. Tenho saudades de pessoas e épocas do meu passado - meu pai, por exemplo - mas nunca de quem eu fui no passado. A cada segundo eu estou melhor e sinto mais orgulho de mim. 

É besta porque é uma coisa só pra mim, só eu entendo, só eu vejo e é também ilusório, afinal parte de mim também sabe que eu não sou tão especial assim - é contraditório mesmo. É uma espécie de vaidade secreta. Ou nem tão secreta. Como eu brinco aqui: ainda bem que eu sou eu. Eu corria um enorme risco de ser bilhões de outras pessoas no mundo, mas eu sou eu. Ufa. (também não é fácil ser eu, mas não é assunto pra agora. Também tenho minhas vergonhas, muitas vergonhas do que já fiz, muitos arrependimentos, mas de novo: esse post não é sobre isso).

Claro que ser assim tem consequências. Você passa a ter problemas de aceitação. Ok, todo mundo quer ser aceito, mas alguns querem com mais força. Alguns querem a eternidade. Eu não lido bem com rejeições, de qualquer tipo. Empregos, namorados, amigos, panelinhas da escola, panelinhas do trabalho...eu acho meio absurdo as pessoas me deixarem de fora porque, afinal...eu sou eu, né? Eu estou ali, dando a honra do privilégio da minha nobre companhia e ainda por cima me deixam de fora? É besta, eu avisei.

Por exemplo, uma das coisas tristes da morte é pensar que o mundo vai continuar vivo - e muito bem - sem mim. Gostaria de morrer velhinha e no meio de uma hecatombe mundial, já que me conforta a ideia de que, se eu vou morrer, que seja no fim do planeta. É que nem sair no auge da festa e descobrir que ela ficou ainda melhor depois que você saiu. Como? Como as pessoas puderam sobreviver sem mim?

Em relação às pessoas eu também me sinto assim. Por mais que eu não goste mais da pessoa em questão acho um absurdo a pessoa ter sobrevivido sem mim. Como assim, ele não morreu depois que nos separamos? Como assim, ele sobreviveu e muito bem? Como assim, ele fez coisas legais e incríveis? Sim, eu também fiz coisas legais e incríveis. Eu também sobrevivi e muito bem. Mas eu sempre faço coisas legais e incríveis. Afinal, eu sou eu. O resto do mundo, não. Eu sei que sempre tem alguém a dizer: "ah, então de alguma forma você gosta dele ainda". Não é isso. É...orgulho besta. Síndrome de pessoa mimada, talvez. De quem foi a última dos 5 irmãos e teve toda a atenção dos pais e da família e que quando cresceu levou um susto danado ao perceber que não era o centro das atenções. Tento sobreviver a isso todos os dias. Tento sobreviver ao peso de ser eu - claro, ter a consciência de ser tão especial te cobra um preço enorme.

É como olhar para o caminho não percorrido do poema do Robert Frost. Por que as coisas foram pra um lado e não pro outro? Porque foram. Porque tinham que tomar uma direção e quis o acaso - ou o Destino, que dá no mesmo no fim das contas, já que são entidades sob as quais não temos controle - que fosse esse. É o maior tapa que se pode levar: descobrir que todos nós somos substituíveis. Tento me lembrar disso todos os dias. Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do Universo.

Eu olho para as folhas que eu sei que eu nunca vou pisar e para os caminhos que não vai dar pra ir. Eu sinto ciúmes dos meus futuros não vividos e de passados abortados. Eu me ressinto da impotência de não poder ser tudo.

Eu disse que era besta.

15 comentários:

Ila Fox disse...

Se formos pensar que somos um em 6,5 bilhões de pessoas podemos nos sentir especiais ou insignificantes. Tudo depende da auto estima do momento. Já me peguei pensando ambas as coisas, e acho que no fundo somos insignificantemente especiais. ;-)

Nayara disse...

Besta nada...foi uma excelente forma de voltar!

Eu não acho que todos somos substituíveis...acho o exato oposto..todos somos insubstituíveis, mas fingimos que não pois só assim aguentamos ir em frente. Guardo os detalhes de cada pessoa que passou pela minha vida...exatamente por ser único...

Bj!

carolina disse...

compreendo PERFEITAMENTE.

Ana Cláudia disse...

Acho que eu me senti extamente assim há dois meses atrás... Acrdite se quiser, mas eu pensava "putz Andrelândia E AQUELAS PESSOAS MARAVILHOSAS que conheci lá vão continuar sem mim.E eu era tão absurdamente bacana, como pode?"

Também acho que todos podemos ser substituídos e substituir, o caso é que nem sempre os "substitutos" nem sempre estão à altura dos substituídos.

"ah, então de alguma forma você gosta dele ainda". Não é isso." Foda é que, às vezes, é isso sim.

Gazzy1978 disse...

Pensei q só eu sentia essas coisas... Me surpreendi que uma pessoa em Gotham City também sente isso!!!

E, realmente, tenho problemas com rejeições. Fico triste, depois revoltada, me conformo, fico puta da cara de novo, aí triste de novo, fico blasè... Até me conformar de novo, leva tempo.

Não era besta, não.

trinity disse...

Fico feliz com seu retorno, e mais port triunfal como sempre!

Anafla disse...

Estou muito, muito impressionada como esse post me descreve.

Me sinto assim 99,9% do tempo.

(primeiro comentário, adoro seu blog!)

:)

Carrie, a Estranha disse...

Oi Ila,

Pois é. Tem as duas coisas, os dois lados.

Oi Paola,

Obrigada!

Carolina,

:)

Ana Cláudia,

Puxa. Sentimos muito a sua falta, tb. Pelo pouco q te conheci pude perceber q vc é uma menina realmente especial. E por mais q eu goste e conheça o Betão - aliás, exatamente por conhecê-lo desde criança - eu digo q quem perdeu foi ele e q vc, definitivamente, saiu no lucro. Pode ser difícil ver agora, mas o tempo dirá.

Mas Andrelândia continua lá. A sua espera. ;) E nossa amizade continua aqui e em outros lugares.


Grazzy,

Hehehehe...com certeza. De Gotham City para o mundo!

Trinity,

Obrigada!

Anafla,

Ooooi! Sempre bom "conhecer" novas pessoas através de novos comentários!

Bj enorme.

Carmen disse...

Nossa Carrie, esse texto ar-re-ben-tou!!! Há muito não lia vc escrevendo com tanta tenacidade, e sem falsa modéstia, tão bem!
Parabéns por ser você; não aceitaríamos menos ;)

Gazzy1978 disse...

Seus posts nos comentários são um deleite à parte, hehehehehe.

Bibi disse...

Lindo, minha querida irmã mais incrível do mundo.
Te amo!!!
Bibi

roberta carvalho disse...

Perfeito.

Andréa disse...

Adorei!

Marcelo Carahyba disse...

clap-clap-clap-clap-clap

Incrível. Genial!

Vou roubar para o meu blog, ok? :)

Stephanie Zuma Ribeiro disse...

Quem é vocÊ?! Pq parece que eu escrevi este texto. Assustadoramente parecido com quem eu sou. Tirando a parte dos irmãos e pondo a parte da primogenitura da família. UAU!!
Isso me deu até saudade de não escrever sobre religião e escrever sobre a vida.
Obrigada!!
Parabéns!!!!!