segunda-feira, outubro 25, 2010

Papai concurseiro

Contando o concurso pra Formiga Mãe ela me contou uma do meu pai que eu não sabia ou não lembrava. Diz ela que meu pai, certa vez, antes de ser médico, dentre as múltiplas profissões que ele exerceu (entregador de compra de quitanda, auxiliar de fotografia do meu avô, fotógrafo da revista Vida Doméstica), resolveu tentar concurso pra datilógrafo - lá pelos idos dos anos 40 (meu pai era de 1925. Quando eu nasci ele tinha 50 anos. Faria aniversário esta semana. 85 anos). Só que, pobre como ele era, evidentemente não tinha máquina de datilografia pra treinar - naquele tempo muito mais cara e artigo de luxo pra alguém filho de lavadeira, com 13 irmãos e morador de morro. Daí ele treinou com tampinhas de refigerante.

(Não sei se rio ou choro. Meu pai tem vários desses casos, como de quando ele levou merenda errada pra escola - uma barra de sabão no lugar de pão com goiabada - em um raro momento onde tinha o que levar, ou de quando meu avô fez um ioiô de lata de margarina e os amiguinhos riram dele. Sempre conto isso aqui no blog. Tudo isso alimentou minha infância, sempre contado para que eu desse valor a tudo do bom e do melhor que sempre tive).

Bom, chegando à sala do concurso, cada um em sua máquina, os fiscais dão o sinal pra começar a prova. Nisso todo mundo dispara com uma rapidez impressionante. Papai, treinado em tampinhas de refrigerantes, sequer conseguiu dar alguns toques. O que ele fez? Simulou uma ânsia de vômito e saiu correndo da prova.

Mais ou menos o que eu quase fiz ao ler a primeira questão. Tipo: moço, quelo bincá maisi não vou ali pegá meu velotol.

Meu pai pode até ter ficado triste, na hora, mas depois se tornou médico, profissão, esta, que ele exerceu até dois meses antes de morrer, com todo amor e paixão.

Todas essas histórias moldaram minha visão de mundo de modo que eu sempre acho que tudo dá certo no final. De um jeito ou de outro. Que existe uma coisa muito boa guardada pra mim e nada vai me tirar isso. Então se não for nesse, é porque tem coisa muito melhor. Ainda que demore mais tempo ou seja mais difícil. Pode chamar de pensamento mágico, de filosofia-auto-ajuda-paulo-coelhiana, mas a minha vida toda foi assim.

Ah é. Meu pai aprendeu não só a datilgrafar como a mexer no computador.

Um comentário:

marcele disse...

Cara, deu nó na garganta essa! Que foda! Clap Cla Clap! Palmas pro seu pai! Me lembro dele...
bjinho