segunda-feira, outubro 25, 2010


Então. E por falar no meu pai e já que essa semana seria aniversário dele e eu sempre começo a me lembrar dele bastante nesta época, mesmo porque logo depois vem o aniversário de morte dele (5 de dezembro), tava pensando em uma coisa.

O modo com que amamos tem muito a ver não só com a relação que temos com os nossos pais, mas com o modo com que os nossos pais se amaram. Não dessa forma simplista de se seus pais foram infelizes você será infeliz. Mas se uma forma mais sutil. Sei lá, cada um tem a sua. Só posso falar de mim.

Meus pais foram extraordinariamente felizes no casamento. Tudo bem, eles são de outra época, de uma época em que não se separava e se vivia infeliz para sempre, custe o que custar, mas...bom, a gente percebe quando um casal é feliz, né? Tem diversos casais da geração dos meus pais que foram infelizes ou tiveram amantes, famílias inteiras fora do casamento, etc. Meus pais foram muito felizes. Era o casamento perfeito. Por uma série de razões que não vêm ao caso, eles eram o casamento perfeito em vários sentidos. Eles se completavam. Tudo que um tinha o outro não tinha. Ao mesmo tempo tinham as coisas certas em comum. Viveram muito felizes por 41 anos.

E por que eu estou falando tudo isso? Porque eu fiquei traumatizada por este bom casamento. Há filhos que ficam traumatizados por mau casamentos dos pais. Eu fiquei traumatizada por ter visto o casamento mais perfeito, saber que ele existe, e saber que eu nunca vou ter um igual. Não existe homem que nem o meu pai. Simplesmente não existe. Quem, hoje em dia, em sã consciência, tem saúde e disposição de ficar 41 anos FIEL a mesma mulher? Não dá. É humanamente impossível. Só pessoas realmente muito estranhas. Minha mãe é a mãe perfeita. Ela deveria ter na carteira de identidade profissão: mãe. Eu nunca vou chegar aos pés dela como mãe. Tanto é que teve 5 filhos. Se eu fosse falar um defeito nos meus pais eu diria esse: excesso de perfeição. Não dá. Sabe aquela música do Ultraje a Rigor? Meus dois pais me tratam muito bem. Nunca tive contra o quê me rebelar. Mas esse é o menor dos meus problemas. O meu grande problema é que eu tenho como ideal de relacionamento o relacionamento dos meus pais. Que foram o típico casal dos anos 50 - o casal que deu certo dos anos 50, não os loucos. Pensem em um casal de margarina? Pensem naquele típico casal de seriado amerciano do pós guerra? Eram meus pais. Com um diferencial: sem a caretice e a chatice. Minha mãe tem um livro de receitas de quando ela tinha Economia Doméstica, no colégio das freiras. O livro começa com uma redação sobre uma menina muito educada, inteligente, virtuosa, que era apelidade por todos de Raio de Sol (relevem, people. Eram os anos 50). Raio de sol era o raio de sol da sua casa - hãn hã? Pegaram? - e Raio de Sol , lá pelas tantas, conhece um médico vindo do Rio de Janeiro - pra quem é do interior de Minas é status ser da Capitarrr - e se casava com ele, tornando-se o Raio de Sol da vida do marido e dos filhos.

É exatamente o que aconteceu com a minha mãe! Imagine você, caro(a) leitor(a), sonhar a sua vida toda e tudo sair rigorosamente como você planejou? Foi exatamente o que aconteceu com a minha mãe!!! Detalhes!!! Médico e do Rio. Pra vocês terem uma ideia minha mãe costuma dizer que o único fracasso que ela teve na vida foi a morte do meu pai. Olha isso. Como é que isso pode ser fracasso dela, se é uma coisa natural e sobre a qual não temos controle? Minha mãe é a pessoa mais forte que eu conheço. Minha mãe simplesmente não sente dor. Sério. O limite dela pra dor é super alto. Ela teve 4 filhos de parto normal sem sentir nada.

Daí que eu resolvi colocar alguma culpa na minha mãe. Então, a culpa dos meus relacionamentos amorosos serem todos natimortos é dos meus pais. Eles eram excessivamente perfeitos. E me diziam que existim pessoas perfeitas. Eles diziam que eu ia encontrar um moço bom, que me amasse, que fose trabalhador e essas coisas que pais dizem. Afinal, foi assim com eles. Daí fica difícil não comparar. Pra que me casar se não vai durar 41 anos? Sério, gente. Sério. Ah, ninguém casa pensando em separar. Jura? Eu conheço várias pessoas que casam pensando: se não der certo eu separo. Ou pessoas que casam porque chegou a hora de casar e é isso que a sociedade espera de nós. Ou ainda: pessoas que casam com toda a pompa e cricunstância porque é isso que se espera que elas façam. Meus pais eram o oposto disso tudo.

Sabe aquela minha filosofia ali debaixo que tudo dá certo no final? Pois é. Eu realmente acredito nisso pra todos os outros setores da minha vida, MENOS o amoroso. Mas ao mesmo tempo eu fico pensando: mas se existe eu, deve existir outras pessoas que pensem assim parecido comigo.

Ah, esse post não faz o menor sentido e provavelmente será mais um daqueles posts que eu me arrependo e eu detesto reclamar esse tipo de coisa em público, porque...né? É feio e é pessoal e sei lá, tem gente sempre muito pior do que a gente, mas tem horas em que a gente cansa.

E é o que eu sempre digo: cada vez mais eu baixo meu nível de exigência e cada vez mais as coisas pioram. Você aceita certas coisas que antes seriam inconcebíveis, você se conforma, que nem em política, que você precisa escolher o menos pior, o que rouba-mas-faz e tudo só piora. E não existe regra. E não existe solução.

Que merda.

16 comentários:

Luciana Nepomuceno disse...

Ai, como eu entendo. Meus pais são impressionantemente felizes a 36 anos. E, pra agravar, meus avós maternos - com quem convivi e sou testemunha - foram felizes por 60 anos. Eu posso com essa herança?

Alba disse...

Nem para falar muito mais....
concordo... :S

Docinho de abacaxi disse...

Q merda. (2)
:(

Cinthya Rachel disse...

entendo você. não tive esse exemplo tão lindo como o seu, mas realmente entendo isso tudo que vc falou...

Miss Jones disse...

O exemplo dos meus avós foi lindo. O dos meus pais, o pior possível. Mas eu preferi me espelhar no melhor, e infelizmente ainda acredito que possa ter essa sorte, mesmo já tendo passado dos 30 anos. Minha tristeza é não poder ficar 50 anos casada (não dá mais tempo, né...), e, pelo jeito, não ter filhos (vamos combinar que até eu conhecer alguém, namorar, noivar, casar, dar um tempinho e ter filho... já tou com 50 anos). Por isso eu ainda não sei o que espero. É que nem aquela música: "eu não devia esperar e ainda espero..."

..bee.. disse...

hm.. acho linda essas histórias de casais, não pelo tempo em que duram, mas pela vida mesmo que eles tiveram. Pela cumplicidade, pelo amor. Meus pais se divorciaram quando eu tinha 11 anos, mas eu ainda lembro dos bons tempos em que nós éramos família de comercial de margarina... e eu acho que o tempo não importa tanto nesses casos quanto a qualidade.

Para mim, as pessoas são menos tolerantes hoje em dia e qualquer coisinha mínima que não seja como você sonhou já é motivo para divórcio. Não diria que eu sonho em passar a vida em inteira com alguém (tá, talvez até sonhe!), mas mais do que isso, eu sonho eu ter uma vida compartilhada, a cumplicidade, pelo tempo que for..

Amana disse...

hahahaha
entendo completamente. O relacionamento dos meus pais é longo, divertido e amoroso, mas eles tiveram suas diferenças e sempre expuseram (às vezes até demais do ponto de vista de filha criança, por exemplo) a "cozinha" do que é estar casado. Minha mãe tinha pavor que a gente crescece, como ela cresceu, achando que pai e mãe não brigam - meus avós se trancavam no quarto e brigavam em voz baixa pra não dar mau exemplo, diz a lenda.
Mas o pior nem é isso. Casar, já casei, separar, já separei, e continuo acreditando nos relacionamentos estáveis e fiéis. A gente escorrega às vezes na vida, mas é como Reveillon: ano que vem, vai ser diferente.
ENTRETANTO, no quesito "filhos"... aí eu me lasco. O trauma é muito forte. Minha mãe é insuperável, de meu ponto de vista totalmente biased. Fazer o quê?
Tenho pensado muito sobre isso...
beijos, adorei o post!

maria rezende disse...

passei metade da vida sentindo exatamente isso, trocando os anos 50 pelos 70 e o médico por artista, etc e tal.
e agora bimpa, oito anos de amor, e nada parecido com "raio de sol" e sua aula de educação doméstica, mas felicidade, bastante, da boa.
a vida é doida, menina, a gente se distrai do medo e de repente tropeça na coragem...
sempre bom te ler.
alguma hora podiamos inventar um ao vivo.
beijo, maria

Carrie, a Estranha disse...

Interessante observar q só tem mulheres comentando aqui. Quer dizer, isso é uma preocupação tipicamente feminina.

Maria,

Obrigada, querida. Vi sua irmã na revista! Nem lembrava q tinha uma menor! Legal.

Sim, podíamos. Mas tô trabalhando demais, menina.

No meu caso, não é essa a questão de medo e coragem. Mas gostei da frase.

Amana,

No meu caso, meus pais realmente não brigavam. Não é q escondiam. Mas não brigavam. Até discutiam, por coisas bobas. Isso a gente podia ver. Mas era coisa boba. Não era do feitio deles gritar. Quer dizer, do meu pai até era, da minha mãe nunca.

bee,

é, sei lá. eu tb acho q não sonho em passar a vida inteira compartilhada com alguém. mas sei lá. alguma vida. enfim.

Miss Jones,

Ah, "noivar" não! Rsrsrs...mta perda de tempo.

Cinthya,

Que puxa.

Docinho,

:(

Alba,

:s

Borboletas,

Sem palavras

Teca disse...

Ai...esse post doeu lindamente no fundo do meu estôamgo! Não sei se no meu caso é pior não ter tido esse exemplo - nem nada perto disso - pq isso me torna um pouco incrédula, ou se seria pior ter tido esse exemplo e a certeza de que não vou viver exatamente igual. Primeiro: não dá mais tempo. Segundo: o trabalho de não repetir a história dos seus pais é imensamente trabalhoso. Mas me conforto com a idea de ter "alguma vida" assim, e do "infinito eqto dure". Super parabéns pelo seu blog, leio sempre, mas só hoje vim comentar... #shameonme

Carrie, a Estranha disse...

OI Teca,

Obrigada! Q bom q vc "apareceu". Shame ou you mesmo! Rsrsrs

Bjs

juliana disse...

concordo com todas as palavras... excelente texto!

anna v. disse...

Puxa, sabe que você não é a primeira pessoa (nem a segunda) que eu conheço com esse problema? Impressionante de observar. Quando o casamento naufraga, é trauma para os filhos. Quando o casamento prospera, também!
Viver é complicadíssimo!

Anônimo disse...

Adorei seu post! Meus pais são casados há quase 60 anos e sempre foram muito felizes também. Davam até palestra sobre casamento e relacionamento com filhos em Encontros de Casais em igrejas! Resultado: dos 6 filhos, já somos 5 divorciados... É maravilhoso ter crescido em uma família harmoniosa mas acho que levamos mais sustos com as dificuldades do relacionamentos do que os que crescem conhecendo fases boas e ruins, brigas e reconciliações... Bem, não há regra. Há sorte, isso sim. Mas a vida segue e traz sempre novas alegrias. Todos os irmãos já estão no segundo casamento, tentando de novo!
Anna Hauf

Anônimo disse...

Deus me livre ficar com a mesma mulher tanto tempo assim. Duvido que haja casamento tão perfeito assim como vocês pintam. Vocês mulheres acreditam em contos de fada mais do que na realidade.

Ana Cláudia disse...

Coisa mais engraçada esta faca de dois gumes que as mulheres vivem hoje.

Precisamos achar um homem de qualquer modo, e pra isso compramos aqueles livros que explicam porque os homens amam as mulheres poderosas e ensinam como segurar a periquita no mínimo até o 3º encontro.

Do outro lado, temos que realizar a busca desesperada bem na caladinha, porque reconhecer que gostaria de ter alguém, reclamar que não tem homem que preste no mercado e que nenhum relacionamento engata é vergonhoso.

Ou seja, Você tem que encontrar o príncipe, mas por favor, finja que nunca esteve procurando!