domingo, março 07, 2010

Mais bibliolatria...

Acabei de ler a indicação da minha amiga confreira bibliófila, Claudia, Ex-libris. Confissões de uma leitora comum, de Anne Fadiman. Delicioso! Realmente é sobre tudo que eu escrevi naquele post sobre livros e manias de leitor, outro dia. O livro é composto por uma série de artigos que ela escreveu ao longo de quatro anos.

Num dos primeiros artigos ela fala que apesar de ser casada há seis anos, só depois desse tempo é que resolveu unir a biblioteca com a do marido. E resolveram finalmente se livrar dos títulos duplicados. Mas qual dos volumes dispensar? Me lembrei de uma professora minha do doutorado que eu ia sempre na casa dela e de vez em quando ela dizia: ah, eu tinha esse livro, mas ficou com o meu ex-marido. Sei lá, muito complexa essa questão. Não consigo nem vislumbrar a hipótese de me separar dos meus livrinhos por outra pessoa.

E por falar em unir bibliotecas, Formiga Sênior e Único Cunhado também resolveram unir as bibliotecas há pouco tempo - apesar de casados há muito - e dar os livros duplicados. Quem se deu bem fui eu que herdei Virgínia Woolf, Borges, Fernando Pessoa, dentre outros.

Por falar em Virgínia, acabei de ler Noite e dia (o que eu herdei de Formiga Sênior foi O quarto de Jacob). Amei. Achei o melhor livro que eu já li dela até agora. Tudo bem que eu nunca li muita coisa. Li Mrs Doloway, em inglês (fluxo de consciência em inglês...foda, não entendi quase nada, ainda mais porque foi há muito tempo); Rumo ao farol; Flush (as memórias de um Cocker Spaniel, escrito por ela pra descansar. Tido como um livro menor, mas simplesmente adorável) e aqueles contos da edição vermelha da Cosac & Naify. Aí descobri porque eu gostei pra caramba desse: ela ainda está pegando leve no fluxo de consciência, nos monólogos internos. No livro seguinte – O quarto de Jacob – é que ela aprofunda a experiência. Comecei O quarto...ontem. Vamos ver.

Mas voltando a Anne Fadiman. Adorei quando ela diz que assim como existem várias formas de se amar as pessoas, existem também várias formas de se amar um livro. Uma coisa é um amor cortês pelos livros: aquela pessoa que tem tanto cuidado que sequer deixa o livro aberto, virado, pra marcá-lo. Dobrá-lo, então seria um sacrilégio. Escrever, passível de morte por açoitamento em praça pública. Ela cita um amigo cuja mulher compra marcadores de metal da Tiffany e o cara não os usa porque pode marcar a folha, optando por marcar com cartões de visita, que possuem a gramatura mais fina.

Em outro pólo existiria o amor carnal, da qual ela se diz partidária, juntamente com toda sua família. Me encontro nesta categoria. Mas não chego a ser como o pai dela que quando leva muitos livros numa viagem rasga os capítulos que já foram lidos para pesar menos na bagagem. Talvez nos EUA, onde livros são infinitamente mais baratos do que aqui, se possa fazer isso, mas aqui no Brasil, não dá.

Fiquei deprimida com a quantidade de autores que ela cita dos quais eu nunca ouvi sequer falar. John McGahern, Walter Pater, Mark Helprin, Peter Lerangis, Carl Van Vechten…fui só jogando no google. Nunca subestime a ignorância alheia. Nem a própria.

O livro é uma viagem rumo às esquisitices alheias – para percebermos, enfim, que não somos tão esquisitos assim. Ela narra manias inacreditáveis dos amigos e familiares, como a tia que marca o parágrafo onde parou com uma gravura; se a gravura estiver virada para o lado de cima, ela parou na página esquerda, se estiver pra baixo, na direita. (Eu sempre tento parar em capítulos, mas se acontece do sono me pegar e eu ter que parar antes do capítulo terminar tento sempre parar no alto da página esquerda).

Muito legal. Recomendo a leitura para aqueles que se interessam sobre o tema.

7 comentários:

Luís Miscow disse...

Eu tb uso o truque do marcador com 2 faces (normalmente flyers de festa) pra saber onde parei. Mas hj em dia tenho usado marcado de imã, aí prendo certinho onde parei. às vezes não dá pra parar no capítulo, né?

***GrAzI disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
***GrAzI disse...

Sempre que possível tento parar no começo de um novo capítulo, mas se não é possível só paro quando a próxima página for explicitamente um novo parágrafo... nada de deixar linhas soltas no início da página.. mas pode ser a esquerda ou a direita... nisso tanto faz! rs

trinity disse...

Achei loucura essa parte de rasgar o que já leu...

nervocalm disse...

Esse foi um dos livros que eu li quando trabalhei na livraria, durante o expediente. É uma delícia mesmo. :)

Cláudia disse...

Que bom que você gostou!

Carrie, a Estranha disse...

Bel,

Sua cultura geral realmente me humilha...rsrsrs...aposto q vc conhece todos esses autores q eu citei...

Claudia,

Amei.

Trinity,

Eu tb.

LM e Grazy,

Tá vendo, a gente sempre encontra gente com esquisitice parecida.

bjs