Grandes verdades da humanidade III

Estou sabendo tudo sobre a vida dos taxistas em Gotham City. É que eu ainda não estou dirigindo sozinha, então sempre volto de táxi do trabalho (menos segundas e quintas que eu tenho carona de Formiga Irmã). Pego sempre os mesmos táxis, do mesmo ponto, logo já entro no carro e nem digo pra onde vou – eles já sabem. Não tem ônibus que chegue até meu bairro e de noite as ruas são desertas e escuras, então não me resta outra alternativa – sem contar que o que eu gasto de táxi dá o que eu pagava de ônibus pra ir a Barra quando eu dava aulas na Esculacho de Sá (e a hora aula é a mesma), so...

Mas, então. Tem três motoristas que eu pego mais (no bom sentido): um gente boa, mas na dele, fisionomia meio de índio boliviano; um mala sem loção que já falou que minha voz é idêntica a da Ana Carolina, perguntou quanto eu pagava de IPTU e pra que curso eu dou aula – se ele perguntasse se eu era casada já tava planejando responder: “siiim! E meu marido é puliça!”. Mas, continuando. O que eu mais gosto de conversar é um terceiro que é simpático, porém não muito entrão. Ele tem tatuado no braço o nome da esposa – que, por sinal, tem o mesmo nome que eu – bem estilo tatoo de xilindró. Sempre me deseja “bom descanso”. Adoro gente que deseja “bom descanso”! Eu me sinto tão...proletária! Me sinto cidadã responsável, cumpridora de minhas obrigações, sócia do Lyons Club e que tem direito a um “bom descanso” depois do silvisso. Toda vez que desejo “pro senhor também” ele me fala que vai passar a noite trabalhando.

Eis que em uma dessas voltas ele me contou que uma vaga em uma cooperativa de táxi em Gotham custa 140 mil em média. Explico: em Gotham não existe táxi de rua. Todos taxista tem que ser vinculado a uma cooperativa ou ter vaga em um ponto (agora fico me perguntando se no Rio eles não precisam estar, pelo menos, vinculados a um ponto...alguém sabe?). 140 mil!!! Isso na cooperativa ban-ban-ban. Em outras cai pra 20 ou 30 mil. Como pode uma coisa dessas? Tanta diferença entre cooperativas? Que coisa! Esse taxista meu “amigo” aluga a vaga e o carro. O sonho dele é comprar o táxi dele (ano que vem talvez consiga).


Hoje ele destruiu mais um mito sobre os táxis pra mim: o de que dia de chuva é bom pra taxista. “Em termos” – disse ele. “Se tem um evento na cidade e cai um pé dágua no meio é bom. Agora se cai antes, aí é péssimo. Ninguém sai de casa. Táxi é que nem jogo. Tudo depende de sorte. Tem dias que você ganha, em outros perde”.

Pensei em dizer que tudo – absolutamente tudo – na vida é sorte, que vida acadêmica também é sorte e que o imponderável ronda todos nós em todos os momentos, mas calei-me.