quinta-feira, dezembro 10, 2009


Escrito ontem, sete e pouca da tarde:


Quarta feira chuvosa. Apenas dois alunos para a prova final. Fizeram a prova em 20 e 30 minutos, respectivamente (passaram). Minha carona ainda demora, portanto resolvi esperar um pouco em sala de aula mesmo.

A sala onde estou é na lateral do prédio onde funciona a faculdade, dando para uma pequena rua, menos movimentada. Ainda assim, consigo ver os ônibus e o maior volume de carros que correm pela avenida principal.

Chove ininterruptamente uma chuva nem muito fina, nem pesada demais. Tudo é branco, misturado a um cinza azulado que denota o fim de tarde. Da janela eu avisto o topo de outros prédios e outras janelas. Uma paisagem absolutamente comum. Alguns carros estacionam. Mães com filhos vindos do colégio, alunos saindo de escolas, cursos e outros tantos indo. Pessoas indo comprar pão na padaria, cujos fundos dão para a rua que forma um ângulo perpendicular à lateral da faculdade.

Ao contrário dos outros dias hoje não se ouvem conversas nem risos, seja dentro ou fora de sala. Apenas o barulho dos pneus no asfalto molhado e uma ou outra buzina e freadas de ônibus rompem a quietude.

Tenho a minha frente, para matar o tempo um volume de “Obras primas do Conto de Terror”. Não me lembro de onde o comprei, mas certamente foi num sebo, pois a grafia antiga das palavras e o tom amarelado das páginas deixam escapar. O "quando" também eu não sei, afinal o hábito de colocar a data da compra dessa vez não me ajudou, já que esqueci de fazê-lo. Acabo de ler o conto “O romance de uns velhos vestidos”, de Henry James, e enquanto escrevo a classificação (bastante bom) no índice (eu costumo dar nota para os contos) e fico em dúvida se continuo com Schiller (“Uma aventura singular”) ou vou de Thomas de Quincey (“Confissões de um comedor de ópio”) – cuja biografia me conta que “suas constantes dores nevrálgicas induziram-no a tomar ópio e láudano em doses consideráveis, sempre crescentes” – sou capturada por toda essa atmosfera e me pego a pensar, debruçada na janela, enquanto olho a chuva.

Amanhã [hoje] termino o semestre aqui. Darei minha última prova e então: férias! Na outra faculdade só dia 18, mas eu só dou aulas em um dia lá. Não posso dizer que esse semestre voou. Na verdade esse ano teve muitos anos dentro de um só. Consegui. Venci um semestre. Quantos mais vou passar aqui? Não sei. Faço planos, estabeleço metas e prazos (mentira, deveria fazer, mas não faço), mas eu sei que planos são apenas planos. É da sua natureza sofrer ajustes. Penso que há um ano atrás era exatamente isso que eu planejava para este ano. Tudo aconteceu rigorosamente dentro do planejado – ou quase. Mas, mesmo assim, tem horas em que eu me pego pensando se é isso mesmo. Aliás, eu acho que vou morrer me perguntando “será que é isso mesmo?”. Eu sempre vou ficar olhando the road not taken, como na poesia. E às vezes eu acho que, como na poesia, eu pego o caminho menos percorrido simplesmente porque ele me parece mais ansioso pelos meus passos – mas, que poderia, de igual maneira, ter tomado o outro. Em universos paralelos certamente existe uma Eu que é casada, tem dois filhos; outra que dá aulas de teatro e faz pecinhas aqui e ali; outra que é jornalista, correspondente de guerra e outra até mesmo que já morreu. Mas todas elas também olham a janela num dia de chuva e se perguntam: “será que é isso mesmo?”. Ainda que nenhuma terá a reposta, todas são felizes, cada uma a seu modo – e não há outro jeito de ser feliz do que ao seu modo.

Da mesma forma em que fui capturada pelo momento rumo a estas reflexões, sou cuspida para fora dele: "basta!", parece dizer. A noite já caiu e aquele momento singular fora-se.

5 comentários:

Natália disse...

Senti uma nostalgia nesse post....

Ila Fox disse...

Acredito em outras Ilas paralelas, e me pergunto no que elas estão se perguntando agora.

trinity disse...

Queria ler no universo paralelo post de Carrie casada, e com dois filhos. Tenho certeza que Carrie mãe e esposa teria textos interessantes e hilariantes.
A algumas semanas venho imaginando que você teria um bebê, vc ia fazer comentários surreais.

Ge disse...

Também imagino que exista em um universo paralelo uma Lilith casada e com dois filhos, em outro uma Lilith totalmente independente, que mora sozinha em um apartamentinho gracioso...hahaa...pena que não dá para trocar informações com esses outros "eu's"...

Carrie, a Estranha disse...

Se,

Eu sou nostálgica. Principalmente daquilo q não vivi.

Ila,

Que nem aquele desenho do Superamigos que tem um Superman mau, etc. Ou o episódio do Friends q mostra o q teria acontecido se eles não tivessem feito certas escolhas (se a Monica não tivesse emagrecido, se a Rachel tivesse casado...)

Trinity,

Carrie mãe seria mais bebê q seus bebês! Pode ter certeza! Mas acho q, apesar de tudo, sou uma pessoa com tendência para a vida em família.

Lilith,

Os universos paralelos não podem se encontrar. Se não colide. Que nem no "De volta pro futuro". Se os McFly se se encontrarem, fudeu tudo.

Bjs