terça-feira, setembro 08, 2009

Don't kill the messenger - part II

O que você escuta é 50% sua e somente sua responsabilidade. E nem estou dizendo isos a partir de uma leitura autoajuda de “filtre o que é melhor pra você”. Não. Estou falando pragmaticamente. Racionalmente falando. O que você escuta – pro bem ou pro mal – é metade sua responsabilidade. Tem pessoas que insistem em ouvir o que não foi dito. Daí os maus entendidos. Mas isso é problema só e somente só dela. Você não tem nada a ver com isso. Quando eu começo a implicar com o que as pessoas dizem eu vejo que o problema foi meu.

Você dirá, caro leitor, que o mau entendido é sempre responsabilidade das duas partes. Em termos, estimado leitor. Em termos. Há pessoas que entendem o que bem querem. Independente do que foi dito. Há pessoas que entendem o que o seu sintoma – para utilizar uma linguagem psicanalítica – lhes diz. Se eu acho que eu sou feia, se eu acredito que eu sou feia, se tudo na minha vida é feito em função do fato de eu ser feia, se alguém chega pra mim, com a melhor das intenções e diz: “nossa, tá bonita hoje!”. Eu vou ficar pensando: “por que hoje? Tá vendo! Porque eu sou feia! Só hoje eu estou um pouco melhor. Será que ele falou de deboche?”. Pronto. Daqui a pouco a pessoa tá puta com você por ter feito simplesmente um elogio. O mau entendido foi das duas partes? Não. Claro que não.

Situação hipotética dois. Seu pai tem problemas de alcoolismo. Eu sei que ele está em tratamento. Eu chego pra você e pergunto: “como está o seu pai?” (partindo do pressuposto de que temos intimidade para tanto, que estamos falando de amigos). Vai que naquela semana seu pai teve uma recaída e encheu a cara. Daí a pessoa, que talvez não queira se lembrar disso, começa a pensar: “será que ela já sabe? Quem contou? Porra, sacanagem, sabe que meu pai piorou e vem perguntar só pra isso. Fulana é foda! Maldosa demais! Agora vai sair espalhando”. Quer dizer...você, que só queria saber do pai da pessoa, com a melhor das intenções, toma uma patada sem nem saber porque.

As pessoas botam frases na nossa boca. Na ânsia de entender o que o sintoma quer entender – e, mais uma vez, lembrando que Lacan dizia que o sintoma abriga; é fácil ficar debaixo dele, te protegendo da vida, é fácil ver a culpa no outro, quando ela é apenas sua – dizem coisas que você nunca disse. Ela, a pessoa, não está mentindo. Ela realmente ouviu isso. Ela criou subtextos onde não havia e preencheu as lacunas. No final das contas, aquilo é real para ela. Agora, isso não quer dizer que a outra parte tenha que entender. Afinal, ficar tomando patada por nada é um pouco chato. Ter que sempre entender que “ah, mas ela tem problemas com o assunto X” é bem chato.

E o que fazer com um povo desses? Nada. Absolutamente nada. Você vai pedir desculpas do quê? Do que não disse, mas a pessoa ouviu? A única alternativa é esperar até que a pessoa caia em si e perceba o que fez. Claro que algumas não vão perceber nunca. Aí, só resta lamentar.

3 comentários:

Nayara disse...

Adorei este post...mesmo lendo a partir do meu sintoma..rs...de fato, é muito mais confortável se abrigar na sombra, dolorosa porém segura do sintoma, do que se arriscar a combater os demônios...

trinity disse...

Post q rendeu inúmeras reflexões,a-do-rei!!!

Ila Fox disse...

Na minha terra isso tem outro nome: mania de perseguição.