segunda-feira, setembro 14, 2009

Cultura, por favor


Minha amiga Karen manteve um blog durante sua estada no Brasil. Agora mantém de lá, de NY, sempre refletindo sobre culturas - no plural. It’s good, because we can “kill the saudade” of each other e de nossos países adotantes, da qual acho que fomos trocadas na maternidade (embora, ainda que de maneira torta, sejamos as mais típicas representantes de nossos países, já que a cultura não cabe em estereótipos, por mais verdadeiros que estes provem ser). Fica ela lá, querendo achar escolas de samba em NY para tocar o pandeiro que comprou aqui e eu cá, tentando achar...sei lá o quê. Mas certamente essa é a metade da graça das viagens: o sentimento de que algo ficou faltando - e sempre faltará - e que alimenta o desejo de voltar. Ou talvez para mim a graça de ter morado em um outro país tenha sido, enfim, encontrado o lugar de estrangeira ao qual eu sempre petenci e experimentei dentro de minha própria pele durante toda a vida, desde o primeiro instante neste planeta. Com se, enfim, houvesse um descompasso palpável, material e perceptível que justificasse - ou de certa forma anulasse - meu desacerto interno, de modo que essa soma improvável entre dois pólos negativos tivesse, enfim, produzido uma postividade que se mostrou cheia de sentido.
Nunca tive uma amizade com uma pessoa de outra nacionalidade e é engraçado ver a mim mesma sob outra ótica. Descobrir-se tão verdadeiramente brasileira a partir de outros olhares e poder fazer graça disso tudo, afinal, nada mais patético do que achar que é possível esquecer as suas raízes. Ver os cacoetes culturais transparecendo, ainda que os queiramos escondidos.

No último dia em que me encontrei com Karen no Rio dei-lhe de presente sabonetes com aromas brasileiros - coisas que nem eu conhecia, tipo Muro Muro e outras plantas exóticas da Amazônia combinadas a frutas tropicais. Queria dar um presente típico e que a fizesse lembrar do Brasil. Ela me disse que nunca se esqueceria daqui e que eu já era suficientemente típica.



Continuaremos nossas exchange conversations via skype. Mas, agora o português dela é visivelmente melhor do que o meu inglês. Shame on me. Não sou tão disciplinada quanto ela para os estudos. Fazer o quê. Não possuo o pragmatismo anglo-saxão de Karen. Tenho apenas a sabedoria porosa e superficial malemolente que me serve o tempo suficiente para eu me safar e depois me abandona. A cultura me marca, mesmo - e principalmente - quando eu luto contra. Mesmo quando praguejo contra o calor e os trópicos, minha languidez fala mais alto e o espírito queda-se em uma rede de crochê com um baiano cantanto uma dessas canções insuportáveis que eu tanto detesto sobre fins de dias em praias paradisíacas.

O nome do blog é Culture, please. Deliciosas descrições sobre o óbvio, como por exemplo, pastéis que ela comeu nos primeiros dias, em SP: "Pastels are rectangular pockets of fried dough filled with an item of your choosing". E outras, sobre algumas frutas que eu não consegui identificar: Without any grocery list, I took my piping hot pastel and strolled down the market aisles. Right and left the vendors called out, "buy these limes," "over here little pretty one," "mangos!," "do I have a deal for you little white girl!" I stopped at a fruit stand and was immediately surrounded by two scheming vendors, quick to realize my foreignness. I told them I wanted to try some fruit. Right and left they cut me pieces of the strangest and most delicious sorts of tropical fruit--fuschia-hued pitaya, tart, seedy maracuja, which I ate with a spoon fashioned from a piece of the fruit's own peel, red-organge caqui, and the most bizarre specimen of fruit, dark maroon shell on the outside with white, garlic-clove shaped flesh on the inside.

4 comentários:

Menina Eva disse...

Carrie,

casca marrom com gominhos claros dentro, só pode ser cupuaçu, esta fruta que aqui em Manaus é padrão!

Fúcsia...talvez seja goiaba?

No mais, eu acho delicioso ver que os sabonetes brasileiros que você nunca tinha visto e não conhecia os aromas são meus aromas de infância, coisa com a qual todo amazônica convive e ama desde pequeno. :D As vezes eudigo que sou mais amazonense que brasileira, e isso é tão válido.

Vou ler o blog da sua amiga. Ela é um excelente exemplo de open mind.

Flavia Oliveira disse...

A ultima não seria Fruta-do-conde?

Carrie, a Estranha disse...

Não sei, minha gente, pq ela tb esqueceu o nome. Mas essa fúcsia ela diz que é pitaya. Nunca ouvi falar.

Que bonito, Menina Eva. Mais amazonense do q brasileira? Pra mim a Amzônia é um local tão distante e inóspito quanto o deserto do Saara.

Amana disse...

Fruta do conde, podes crer.
Tenho lido seu blog intensamente, e comentado com muitos amigos.
Karen é uma fofa, adorei conhecê-la! Doce, inteligente, adorável. Pena eu estar fora do Rio nos dias em que ela passou por aqui...
Minha vida está uma loucura, mas estou sempre passando por aqui.
[Ah, ontem fui ao almoço de aniversario da sua prima Carol, irmã da Marina. Comi bobó de camarão e papeei com as amigas dançarinas dela, hehehe]
beijos!